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Funerárias se juntam para montar seguradora

Fonte: Valor Econômico

Por Thais Folego | De São Paulo

 Representantes do chamado "G36": grupo já recebeu propostas de três seguradoras especializadas em apólices de vida interessadas em associação

Empresa funerária e seguradora de vida parecem, à primeira vista, negócios antagônicos. Porém, sob outro ângulo, podem ser encarados como complementares - afinal, ambos buscam lidar com uma questão comum, a fatalidade.

De olho nisso, um grupo de 36 empresas de planos funerários se juntou para montar uma seguradora. O foco será vender apólices de vida para os cerca de seis milhões de clientes que o grupo já possui. Para se ter uma ideia da relevância dessa carteira, a BB Seguridade tem cerca de oito milhões de clientes pessoa física.

Com assessoria financeira do Banco Indusval & Partners (BI&P), o grupo está procurando um parceiro que já atua no ramo para fazer uma joint venture e já recebeu propostas de três seguradoras. "Vamos começar a negociar e dentro de um ou dois meses devemos ter o negócio definido", disse Rogério Pacheco, diretor do banco de investimentos do BI&P, sem revelar o nome das pretendentes.

A priori, o negócio seria mais interessante para seguradoras independentes, que não têm um canal bancário para vender apólices. As maiores companhias independentes de seguro de vida individual no país são a americana Prudential e as brasileiras Mongeral, SulAmérica e Icatu. Entre as companhias ligadas a banco, estão a BB Seguridade, que no segmento de vida atua com a Mapfre, e a Bradesco Seguros.

A maioria das funerárias atua fora das grandes cidades, com foco no interior de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Nordeste. A clientela é formada em sua maioria por famílias de baixa renda, em que o falecimento de um familiar é um problema também do ponto de vista financeiro.

O grupo é formado em sua maioria por empresas familiares de diferentes portes e níveis de governança. Para organizar esse grande grupo e ter menos interlocutores, foi decidida a criação de nove holdings operacionais, em que cada uma vai abrigar quatro empresas. Elas vão ficar sob o guarda-chuva de uma holding não operacional, que vai fazer a joint venture com a seguradora escolhida.

"A maioria das empresas funerárias nasceu da necessidade dessas pessoas, que tinham que fazer vaquinha para pagar o enterro", disse Angelo Pereira, do Grupo Bom Pastor. A empresa atua no interior de São Paulo e é integrante do grupo, que está sendo chamado de "G36".

A nova seguradora deve ter um capital inicial de R$ 15 milhões, que é o mínimo obrigatório pelas leis do setor para que uma companhia de seguros possa atuar em todo o território nacional. "Mas já temos cerca de R$ 40 milhões disponibilizados pelo grupo", disse Pacheco, da BI&P.

Segundo Dilson Athia Filho, do Grupo Athia, o negócio também resolve um problema de sucessão que muitas dessas empresas têm. "Sempre tentamos organizar esse segmento, que presta um serviço relevante. Nessa linha, também buscamos alternativas para a sucessão do negócio", conta Athia Filho, cujo grupo atua na região de Presidente Prudente. A empresa da família foi fundada pelo avó, um imigrante sírio que chegou ao país em 1916, e agora é administrada pela terceira geração.

"A ideia é entregar para a próxima geração não essa empresa familiar de 40 anos, mas sim uma posição acionária de um outro tipo de negócio não só atrelado ao serviço funerário", diz Athia Filho.

O modelo de negócios da seguradora ainda não está totalmente pronto, mas a ideia é distribuir também outros tipos de seguros individuais na rede das empresas funerárias, como seguro residencial, acidentes pessoais, odontológico e saúde, por exemplo. Com uma rede de distribuição já estabelecida, o custo de comercialização será baixo. Os canais de venda das funerárias são bastante variados, entre eles lojas próprias, venda porta a porta, estabelecimentos parceiros e call center.

Hoje, planos funerários são vendidos como assistência, por isso não têm regulação específica. Mas por suas características próximas a de seguros há o risco de que o setor passe a ser regulado pela Susep, órgão fiscalizador das seguradoras. "Existe um projeto de lei tramitando no Congresso para regulamentar o setor", diz Pereira, do Grupo Bom Pastor. Diante disso, o G36 procurou assessoria para se preparar para uma possível mudança de cenário e, juntos, viram que têm um significativo canal de vendas para serviços financeiros.

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