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Seguradoras já têm modelo avançado

Fonte: Valor Econômico

Por Denise Bueno

A indústria de seguros mundial passa por uma revolução em termos de governança corporativa com a entrada em vigor, depois de duas décadas de discussões, das regras de Solvência II na Europa a partir de 2016. Seus impactos positivos chegam ao Brasil, uma vez que gigantes como Allianz, AXA, Mapfre, Zurich, HDI, Liberty e AIG estão entre os principais grupos que atuam no país. "O Brasil é o quinto país na lista dos que praticam os modelos mais avançados de regulação de seguradoras, superado por Austrália, Canadá, Japão, e México", afirma Roberto Westenberg, titular da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Apesar de muito já ter sido feito desde a crise de 2008, a governança nas seguradoras é um tema que está em constante evolução. Além das regras da Susep, as companhias acabam seguindo outras normas, como as emitidas pelo Banco Central em razão de bancos que controlam seguradoras serem obrigados a seguir as regras de Basileia, como é o caso do Bradesco, por exemplo, bem como as seguradoras listadas em bolsa são submetidas também às regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Já as seguradoras estrangeiras estão avançadas por consequência das filias locais seguirem o padrão adotada em suas matrizes. "A implantação de ações que vão além das regras da governança corporativa pode ser um fator determinante na elevação do valor das empresas", afirma Lúcio Anacleto, sócio da KPMG.

Apesar de Solvência II ter como foco o capital baseado em risco, o normativo traz avanços significativos na governança por exigir gestão de riscos, controles internos, adequações em procedimentos de auditoria e lavagem de dinheiro. Dos três pilares tratados nas normas definidas pelo Parlamento Europeu, a Susep já regulamentou um: o capital baseado em risco, com praticamente 60% do capital necessário já aportado pelas seguradoras e o restante com prazo até 2017 para ser calculado e contabilizado. "Com isso, todos terão mais visibilidade sobre quais são os negócios mais rentáveis", afirma Marcus Manduca, sócio da PwC e especialista em gestão de risco.

As companhias agora têm o pilar 2 (requisitos qualitativos associados à governança, controle interno e gestão de risco) e o pilar 3 (requisitos de transparência e de obrigação de reporte às autoridades de supervisão) pela frente. Para a Mapfre, o que está em pauta é "a necessidade de se aperfeiçoar os canais de comunicação, de forma que as companhias tragam mais transparência de suas ações para fortalecer sua imagem e valor no mercado", conta Luiz Gustavo Lage, diretor geral de riscos, controles internos e legal do grupo BB e Mapfre.

Depois de passar por um período de regulamentação e implementação do Pilar 1, que trouxe o conceito de capital baseado em risco, com prazo para adequação até 2017, Daniella Bertola Luiz, gerente de risco e compliance da HDI Seguros, afirma que o desafio das companhias agora é com a adoção do gestor de risco, tema em audiência pública na Susep e com estimativa de dois anos para ser colocado em prática. "Essa nova exigência tira a companhia de normas e a coloca para discutir estratégias do negócio, com o gestor tendo conhecimento de todas as etapas dos processos", afirma.

Na Porto Seguro, listada em bolsa no Novo Mercado, a diretoria de gestão de risco mais qualitativa do que quantitativa já existe desde 2012. "Tal processo deixa claro exatamente qual o risco de cada operação, desde a subscrição de mercado, jurídico e financeiro. Se preciso de mais dinheiro, pois estou aplicando mais em bolsa, o acionista pode decidir se quer aportar capital ou desinvestir na bolsa. A gestão é mais transparente e as decisões mais claras", diz Celso Damadi, controler da Porto Seguro.

A entrada em vigor do gestor vai dar trabalho para boa parte das companhias, pois exige governança para todos os niveis da operação e não só mais para as áreas operacionais. "É uma demanda que eleva em muito a governança nas empresas e exige investimentos em tecnologia para colocar todos os processos", comenta Reinaldo Amorim, diretor atuarial da SulAmérica, que já implementou boa parte desta exigência desde a abertura do capital da companhia, em 2007.

Todos são unânimes em afirmar que a implementação das novas regras vai elevar o patamar de governança do setor, além de influenciar positivamente no faturamento, nos resultados e na rentabilidade das companhias. "Todos ganham. O acionista consegue mensurar melhor o retorno do capital por segmentos de negócios. O segurado também obtém vantagens, uma vez que o mercado, ao se beneficiar de informações mais transparentes e disponíveis, simultaneamente, acarretará em uma concorrência mais justa refletindo em melhores termos para contratação do seguro", afirma Klaus Barreta, superintendente de seguros de gerenciamento de crises da LIU, divisão de riscos especiais da Liberty Seguros.

A crise econômica no Brasil também influencia a questão da governança no setor de seguros, introduzindo duas frentes: a crise aprimora a transparência das companhias e faz com que elas exijam um grau elevado de governança dos candidatos na compra de apólices de seguro, principalmente de crédito, de responsabilidade civil ou de linhas financeiras.

É o que afirma Gustavo Galrão, superintendente da Argos Seguros e presidente da comissão de riscos financeiros da Federação Nacional de Seguros Privados (FenSeg). "Durante o processo de análise de risco para contratação de uma apólice de seguros, a governança corporativa é um diferencial. Informações que traduzam de forma clara e concisa o nível de solvência e posicionamento da empresa no mercado permitem que a seguradora defina de forma mais consistente e com menor margem de erro o grau de risco para aquela apólice", afirma Galrão.

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