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Como a longevidade deveria mudar os seus investimentos

Fonte: Valor Econômico
Por Aura Rebelo

Idoso, no Brasil, é quem tem 60 anos ou mais, diz o IBGE. Em segundos, pensamos em artistas, empresários e políticos, que pela aparência ou atitude podem ser considerados tudo, menos idosos. Fato é que estamos vivendo muito mais. No início do século XX, a expectativa de vida era de pouco mais de 30 anos; na década de 40, passou a 45. As últimas estatísticas apontam para 76 anos a idade média nacional.

Mas qual o limite da vida humana? Para especialistas em envelhecimento do Max Planck Institute for Demographic Research, na Alemanha, "os dados indicam que não existe um limite delineado. No momento, as evidências científicas parecem sugerir que, se é mesmo possível se falar de limite, este se situa para além dos 120 anos, talvez ainda mais, ou talvez sequer exista um limite".

Há quatro principais grupos de fatores para o aumento contínuo da longevidade. São fatores demográficos, científicos, tecnológicos e sociais.


A análise da estrutura populacional brasileira, de 1930 até hoje, mostra que a base de jovens está mais estreita, aumentando a metade superior, de adultos e idosos.

Na prática, a redução da taxa de fecundidade desde 2010 aponta para uma diminuição da reposição populacional, de 2 filhos por mulher. Só em 2016, essa taxa caiu 6% por conta da epidemia de zika vírus, reflexo também de mais acesso à informação. Ou seja, por volta de 2040, o número absoluto de brasileiros poderá diminuir.

O número de crianças será cada vez menor e o de idosos, crescente. Adultos com mais de 60 anos deixarão de ser minoria e serão cerca de 40% da população. Por isso a grande necessidade de discutir e reformar a Previdência Social.

Atualmente, temos mais de 30 mil pessoas centenárias!

E esse número deve aumentar muito, pois estima-se que a cada três bebês nascidos hoje no Brasil, um passará dos 100 anos.

No campo da ciência, as palavras são prevenção e regeneração. O mito de que a genética apenas explica a longevidade, caiu por terra.

Anteriormente, acreditava-se que a expectativa de vida era calcada em 70% pela herança genética, 10% pelo meio ambiente e 20% por estilos de vida (como a prática de atividade física e dieta balanceada). Porém, segundo estudos da Escola de Medicina da Universidade Stanford, os estilos de vida respondem por 70%, o meio ambiente por 15% e o DNA, 15%.

Se considerarmos que, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (2014) do Ministério da Saúde, mais de 70% das mortes de idosos no Brasil estão associadas a três causas apenas - AVC, câncer e insuficiência respiratória-, parece simples, não? E a tecnologia? As maravilhas da impressora 3D já oferecem aplicações reais com um mínimo de rejeição. Também já surfamos a onda da cirurgia digital, quando a análise e tomada de decisão são apoiadas por algoritmos.

Até 2024, estima-se que só os aplicativos de medicina movimentarão US$ 200 bilhões, com crescimento anual de 26%.

Não se trata apenas de viver mais, mas sim de viver melhor. Passamos por intensa transformação social e comportamental. Idosos hoje já se casam mais, se separam mais, abrem mais negócios, estudam mais, viajam mais. Sites de relacionamento exclusivos para idosos estão bombando. O movimento Ageless, que exalta a beleza da maturidade, põe os cabelos grisalhos como tendência de moda global.

Face a tantos prognósticos de aumento de expectativa de vida, é preciso revisitar paradigmas e práticas. Isso inclui a forma como investimos a longo prazo. Uma pessoa com bom padrão de vida no cenário anterior trabalharia dos 25 aos 65 anos, procurando acumular uma reserva suficiente para viver até os 85. Ou seja, 40 anos de trabalho para 20 de aposentadoria.

Só que, se esse indivíduo vai viver até os 100 anos, como lidar com um gap de renda adicional de 15 anos de sobrevivência?

Se não quisermos enfrentar uma queda drástica de qualidade, justamente nos últimos anos de vida, quando custos com saúde aumentam demais, uma dessas quatro alternativas deve ser mandatoriamente adotada: 1) realização de aportes extras incrementando em cerca de 25% a reserva acumulada até o ponto da aposentadoria; 2) maior esforço de poupança mensal durante a fase de acumulação; 3) postergação da data alvo de aposentadoria em pelo menos cinco anos; 4) maior tomada de risco durante a acumulação, o que pode render um saldo mais polpudo ou não, para encarar os últimos anos de vida.

Diz a lenda que perguntaram a Galileo Galilei quantos anos tinha. Ele respondeu, a despeito da barba branca, que tinha oito ou dez anos, que eram os anos que lhe restavam. Porque os já vividos, não tinha mais, da mesma forma que não tinha as moedas que gastou.

Aura Rebelo é diretora de marketing e canais da Icatu Seguros

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