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Papéis de crédito privado devem retomar espaço

Fonte: Valor Econômico
Por Soraia Duarte | Para o Valor, de São Paulo

A participação dos títulos públicos nas carteiras dos fundos de previdência privada - cujo patrimônio líquido somava R$ 765,61 bilhões em janeiro - bateu recorde naquele mês: respondiam por 85% dos portfólios, segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).

Tamanha exposição fez com que essa indústria se destacasse como a principal financiadora da dívida pública do país. De acordo com estimativas da própria Fenaprevi, feitas com base em dados da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) também divulgados em janeiro, 18,8% dos papéis emitidos pelo governo estão nos portfólios desses fundos.

Na opinião de Edson Franco, presidente da Fenaprevi, as altas taxas de juros oferecidas por esses títulos são a explicação natural para tal cenário, mas não são a única para este caso.

Há outros fatores, afirma Franco, como o perfil conservador de quem procura os fundos de previdência. "A cultura do poupador brasileiro sempre foi de renda fixa pós-fixada", acredita. E essa preferência se confirma ao verificar que, além dos títulos públicos, somente os papéis privados - também ativos de renda fixa - conseguem algum espaço nas carteiras dos fundos. Em janeiro, representavam 9% dos portfólios, enquanto ações correspondiam a apenas 1%. E são os títulos privados - no caso, a escassez na oferta deles, provocada pela retração da economia nos últimos anos - o outro fator apontado por Edson Franco.

Ele comenta que em 2014, antes da piora do quadro econômico, os papéis emitidos por empresas representavam 22% das carteiras, mais do que o dobro dos 9% observados atualmente.

Com a retomada da economia, avalia Franco, as empresas poderão voltar a emitir títulos, o que trará mais opções aos gestores dos fundos. Esse movimento, combinado com o novo ciclo de política monetária, que apresenta taxa de juros de um dígito, desencadeará mudanças no cenário. "O cliente vai buscar novas alternativas de investimento, o que exigirá dos gestores diversificação maior dos portfólios", prevê. Nesse contexto, Franco acredita que papéis de crédito privado, como debêntures e notas promissórias, ganharão espaço nas carteiras, assim como também títulos colocados por meio de parcerias público-privadas (PPP), relacionados principalmente à infraestrutura.

A diversificação dos portfólios, priorizando ativos de renda fixa, também é mencionada por Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos. "Não haverá migração imediata da renda fixa para ações", avalia. Nesse movimento, também cita os títulos emitidos por empresas, seguidos por multimercados e alguma alocação em Bolsa. "O investidor irá ganhando confiança com outros ativos, como os multimercados". Mas essa migração, afirma, é mais evidente nas novas captações.

Investimentos no exterior, na opinião de Marc Foster, diretor executivo da Western Asset Management, também passarão a ser considerados.

"Alocar recursos em estratégias lá fora é diversificar de verdade", destaca. A indústria de fundos de previdência privada conta com uma regulação que permite investir no exterior, em fundos de renda fixa, multimercados, cambiais e de ações via fundos regulamentados no Brasil: a Resolução 4444 do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Na Western Asset, Foster comenta que alguns PGBLs já investem em fundos locais que replicam a bolsa de valores dos Estados Unidos. Além disso, estão discutindo, com seguradoras, alternativas que viabilizem investimentos em renda fixa global, infraestrutura, small caps ou estratégias na Europa.

A BrasilPrev também tem voltado os olhos ao exterior. "Vemos a internacionalização como movimento natural e que traz benefícios ao cliente, já que permite adquirir ativos que não existem no país", explica Marcelo Wagner, diretor financeiro da Brasilprev. No ano passado, em parceria com a Principal, uma das sócias da Brasilprev, lançaram um projeto para aplicar no Gen Y, subíndice da Nasdaq que reúne 125 empresas que fazem parte da cesta de consumo da geração milênio. "A proporção ainda é pequena, porque é uma espécie de protótipo", diz Wagner. "Mas vemos um potencial gigante para impulsionar a indústria".

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