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Previdência cresce, mas com menos vigor

Fonte: Valor Econômico
Por Roseli Loturco | Para o Valor, de São Paulo

Uma coisa é dada como certa pela indústria da previdência complementar aberta: a pauta da reforma da Previdência Social, que permeou a agenda política de Brasília em 2017, deve passar ao largo das discussões dos candidatos no pleito eleitoral deste ano. Isso porque apesar do tema ser considerado urgente pelo setor, é impopular para a maioria dos brasileiros e nenhum postulante à presidência deve se arriscar a perder votos com a questão.

Enquanto isso, o mercado que vinha colhendo os louros da polêmica reforma e se mostrando resiliente aos efeitos das crises política e econômica, registrou uma desaceleração no crescimento em 2017 e no início deste ano. O total de investimentos que avançava em média acima de 20% ao ano há pelo menos dez anos, cresceu 18% em 2017 e atingiu R$ 756,16 bilhões. "O desemprego reduziu um pouco o ritmo de crescimento. De todo modo, a performance é muito consistente e mostra a pujança do setor", afirma Edson Franco, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) e da Zurich. Já a captação líquida de janeiro deste ano caiu 67% comparada a janeiro de 2017, para R$ 1,33 bilhão.

O executivo lembra, porém, que só nos últimos cinco anos a representatividade do setor em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) nacional saltou de 6,6% para 11,5% e que o volume de reservas é impactado por dois componentes: remuneração e captação líquida positiva, que fechou o ano passado em R$ 56,94 bilhões. "O que mostra o potencial deste mercado. A discussão da reforma é importante para alertar os brasileiros a criar poupança complementar à aposentadoria pública e tem efeito no longo prazo para o setor", diz.

Mas mesmo o engavetamento temporário da reforma conjugado a uma situação financeira mais apertada dos brasileiros não tira o ânimo dos principais operadores do mercado que apostam no uso de inovações digitais para quebrar tabus em uma atividade até então engessada e conservadora. "O desafio este ano é extraordinário. Temos cada vez mais que entender as necessidades do cliente e trabalhar com conceito de inovação digital. Utilizar as ferramentas de mídias sociais para treinar e fomentar a discussão", diz Marco Barros, presidente recém-empossado da Brasilprev.

A instituição concentrou 30,5% do total de ativo do mercado no ano passado, com R$ 236,4 bilhões, e deteve 33,5% da captação líquida geral, com R$ 17,9 bilhões - o desempenho é, porém, 37,2% inferior ao de 2016.

Motivada pela mudança na legislação de meios remotos para comercialização dos planos de previdência no ano passado, a Brasilprev testa, com um número limitado de consumidores, um aplicativo para uso em celulares e tabletes para auxiliar vendas e aconselhamentos. A intenção é interagir 100% de forma digital, em todo o processo de acumulação de renda, desde o contato inicial. "O aplicativo monitora a evolução do plano e avalia por meio de consultores virtuais as mudanças de perfil do cliente. Dispõe de facilitadores transacionais, além de prover conteúdo", explica Barros, que programa abrir a operação do produto ao público geral no começo do segundo semestre de 2018.

Além de ações no mundo virtual, o Itaú realizou pesquisa em sua base de clientes que apontou dois desejos das pessoas: ter recursos aplicados em poupança e em previdência, apesar de não entenderem como funciona a previdência. Ainda que ofereça a possibilidade de uso do aplicativo, o banco acha que as pessoas ainda não se sentem à vontade para operar o produto remotamente por conta de sua complexidade.

A instituição está investindo em como transformar a primeira contratação em algo mais simples e inteligível. "Isso porque hoje no 'suitability' levamos em consideração as reservas que o cliente tem. Se o cliente não tem a reserva ideal para emergência, não aconselhamos a previdência", explica Claudio Sanches, diretor de investimento e previdência do Itaú Unibanco. A empresa, que pretende engrossar em 15% a captação líquida de previdência este ano sobre os R$ 16 bilhões de 2017 - e total de reserva de R$ 169 bilhões -, observa, no entanto, que os primeiros meses de 2018 estão mais fracos e atribui isso a retomada do consumo. A estratégia deste ano é continuar a olhar o cliente de forma integrada. "O que o cliente quer sentir é que aquela solução de investimento que foi dada para ele é a melhor possível", diz Sanches.

Entre as seguradoras independentes, a Icatu é a que vem acelerando de forma mais agressiva. Em 2017, avançou 280% na captação líquida e 45,8% na carteira de investimentos, totalizando R$ 4,12 bilhões e R$ 17,4 bilhões, respectivamente. Em 2018, vai continuar apostando na fórmula que mescla arquitetura aberta de investimentos e parceria com gestores independentes, que devem chegar em 58 instituições ao final do ano. Hoje são 45.

"Houve mudança de paradigma. A gente vinha crescendo de forma regular e mudamos de patamar. Esperamos que se sustente e que estejamos em curva de crescimento exponencial", comemora o diretor de previdência da Icatu, Felipe Bottino, que atribui o resultado às constantes inovações estratégicas e tecnológicas da seguradora. "Fomos os primeiros a fazer previdência com assinatura digital pensando na experiência do cliente e usamos ferramentas com portabilidade 100% on-line". Para este ano, a Icatu pretende aparelhar todo o seu time de 4 mil corretores com tablets e celulares com simulações de investimentos ainda mais didáticos e lúdicos.

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