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Mapfre ganha liberdade em novo acordo com BB

Fonte: Valor Econômico

Por Daniela Meibak | De São Paulo

As seguradoras do Banco do Brasil e Mapfre cuidam dos últimos detalhes para assinar o contrato definitivo da nova parceria até o fim do primeiro semestre. As conversas, que começaram em meados do ano passado, tiveram como objetivo principal realinhar o apetite de risco das duas instituições e resultaram em uma cisão parcial dos negócios.

Na configuração atual, com vigência até 2031, a parceria é feita por meio de duas joint ventures. Na primeira, batizada de SH1 e que concentra as operações de seguros de vida, habitacional e rural, a Mapfre ficou com uma fatia de 25% e o BB, com os outros 75%. A segunda, SH2, reúne basicamente seguros patrimoniais e de automóveis, e o capital é dividido igualmente entre as duas instituições.


Nas duas subsidiárias, os produtos são vendidos com as duas marcas e por dois canais diferentes. A marca BB sai via canal bancário e a Mapfre, pelo canal de mesmo nome, que inclui corretores, meios digitais, varejistas. E aí consiste a mudança: a nova parceria reunirá apenas as vendas dos produtos via canal bancário, em uma joint venture de 75% da brasileira e 25% da espanhola. Para isso, a seguradora independente pagará um preço para operar sozinha tudo o que passar pelo canal Mapfre. Além disso, o BB deixará de emitir apólices de automóveis e grandes riscos, o que passa a ser totalmente operado pela parceira, ficando apenas com a venda dos produtos no seu balcão. A Mapfre não revela o valor do pagamento.


"Com dois canais diferentes de distribuição sob o mesmo modelo de gestão, tudo era uma discussão: os investimentos, as prioridades, a promoção [dos produtos]. Agora, cada um vai seguir o seu processo, ter o apetite de risco que quiser. Nós [da Mapfre] poderemos nos associar e fazer novas parcerias, enquanto seguimos sócios do BB no canal bancário", afirmou ao Valor o presidente da Mapfre no Brasil, Wilson Toneto.

A saída do Banco do Brasil dos ramos de auto e grandes riscos mostra o apetite diferente das instituições na hora de assumir riscos. Toneto esclarece que a lógica operacional de um banco é diferente da de uma seguradora global. "O tempo que você leva para reorganizar um produto de seguro nem sempre é o mesmo que o de um banco. Aqui, vendemos produtos com precificação feita hoje e exposição a riscos futuros, diferente de ter um custo inicial definido e já sabendo a margem. Dependemos de como o mercado vai se comportar em relação ao esperado", afirma.

A Mapfre atua em outros ramos como resseguro, atende clientes globais e isso, de alguma maneira, pode compensar ou gerar mais atrativos em relação ao banco, segundo o executivo. "Apetite ao risco vai muito do capital que eu quero investir, retornos que eu espero, disposição ao risco que eu pretendo ter."

Em 2017, a atividade da Mapfre no Brasil gerou € 4,5 bilhões em prêmios, respondendo por 20% das operações do grupo no mundo

Depois da assinatura do contrato definitivo, são esperadas as aprovações do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Superintendência de Seguros Privados (Susep), o que não deve demorar, segundo o presidente, uma vez que se trata de uma cisão parcial, e não fusão. Após esse processo, a Mapfre sai da briga pela primeira posição em participação de mercado junto com o BB, passando para o quarto ou quinto lugar, estima o executivo. A operação será financiada pela espanhola em parte com recursos disponíveis em caixa e uma fatia adicional será enviada pela matriz, no exterior. O grupo não tomará nenhuma dívida no Brasil.

A estratégia e os investimentos adicionais que a Mapfre fará no Brasil confirmam a visão positiva do grupo no longo prazo para o país, na opinião do presidente. "Do ponto de vista macroeconômico, estamos melhores do que há três anos. O seguro depende muito do crescimento orgânico da economia, do nível de investimento, da infraestrutura, geração de empresa e estabilidade no cenário. Já começamos a ver os sinais de retomada do crescimento", completa.

Uma das apostas da companhia é o ramo do agronegócio, que tem sustentado o país nos últimos anos, nas palavras de Toneto. O alcance ainda é baixo - cerca de 12% do setor contrata seguro - e o foco estará em todos os componentes da cadeia, passando inclusive por maquinário, implementos agrícolas, propriedades, seguro de vida. Seguro de vida e prestamista é outra vertente que deve trazer resultados adicionais para a seguradora. Prestamista já está em uma tendência de melhora, com a volta do crédito, e vida tradicional terá retomada mais lenta, acompanhando o ritmo do mercado de trabalho.

Em 2017, a atividade da Mapfre no Brasil cresceu 3,5% e gerou € 4,5 bilhões (cerca de R$ 16,6 bilhões) em prêmios, representando 20% das operações do grupo no mundo. O lucro líquido somou € 128 milhões (R$ 465,7 milhões), uma queda de 11% decorrente do aumento do índice de sinistralidade na carteira de autos e do menor volume de vendas no segmento de vida do canal bancário.

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