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Seguro: ele “não” morreu de velho

Fonte: ES Brasil

Seguros de vida são produtos comuns e essenciais para qualquer família, mas, de olho na segmentação do mercado, as operadoras estão ampliando as opções com produtos cada vez mais diferentes

“O seguro morreu de velho”, e há quem leve o dito popular às últimas consequências. As seguradoras estão lançando apólices para diversas situações, e a gama de opções oferecidas no mercado pode surpreender os consumidores. Entre alguns mais populares, estão o seguro para cerimônias de casamento e festas juninas; plano de saúde e seguro de vida para bichos de estimação; seguro pessoal que cobre mordidas do seu cão em terceiros, com indenização e cobertura hospitalar; residencial que cobre danos aos vizinhos; seguro de cartão de crédito que indeniza também outros objetos roubados dentro da bolsa.

Seguro
“O crescimento do seguro de vida decorre das facilidades dos novos produtos criados pelas seguradoras. Hoje já existem seguros que podem ser contratados – no âmbito empresarial – até por um mês ou seis meses apenas” – Deosdete Mantovanelli, diretor do Sincor-ES
Você sabia que tem até seguro para cobrir erros profissionais? Imagine um engenheiro que projeta uma construção e, por alguma falha nesse plano, a instrutora desaba. Em casos de prejuízos causados por equívocos no trabalho, há um seguro chamado responsabilidade civil profissional, que cobre gastos judiciais e indenizações. Engenheiros, arquitetos, advogados, agentes de viagem e contadores estão entre os que buscam o serviço para se resguardar. É preciso, no entanto, constatar que não houve a intenção de causar o dano.

Muitos desses contratos inusitados ainda não constam da carteira regular das seguradoras e têm que ser analisados caso a caso antes de serem fechados pelas companhias. Segundo especialistas do mercado, essas versões são recentes no Brasil e ainda são um nicho, mas com amplo potencial para crescer.

Seguro garantia aumenta com reforma trabalhista

A reforma trabalhista, que entrou em vigor em novembro do ano passado, já provocou mudanças no mercado de seguros, aumentando a demanda pelo modelo “garantia judicial”. Na corretora JLT Brasil, foram fechados 50 contratos em apenas 30 dias. Esse tipo de seguro substitui o depósito em dinheiro e a fiança bancária nas disputas judiciais. Desde 2007, era aceito no Código de Processo Civil, mas, por desconhecimento, os juízes frequentemente o recusavam. Com a nova lei, passa a ser expressamente previsto nos artigos 882 e 899 da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), pacificando a aceitação da modalidade na esfera judicial.

Antes, ao entrar com um recurso depois de uma decisão desfavorável, as empresas precisavam fazer depósitos em dinheiro para garantir a admissibilidade do pedido perante os tribunais. Os custos desses depósitos são fixos, tabelados pelo próprio Tribunal Superior do Trabalho (TST). Atualmente, são de R$ 9 mil para os recursos ordinários e de R$ 18 mil para aqueles direcionados aos tribunais superiores. Em muitos casos, é necessário realizar múltiplos depósitos em uma única ação.

Segundo o pesquisador André Gambier Campos, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), há uma tendência de aumento da demanda judicial, já bem pressionada. Nos últimos 10 anos o volume de reclamações recebidas pela Justiça do Trabalho passou de 11,3 milhões para 17,3 milhões. Mais da metade dos pagamentos é feita por meio de execuções do Judiciário, conforme estudo divulgado pela entidade.

A substituição vai significar uma boa economia para as empresas que recorrem em ações trabalhistas e tende a agilizar o andamento do processo. A vantagem do seguro garantia é que durante a discussão judicial o negócio continua com seu patrimônio e dinheiro livres, podendo investir no que desejar, já que nada será penhorado.

Até a JBS, envolvida em diversos escândalos na Operação Lava Jato, utilizou-se desse instrumento e conseguiu renovar uma apólice de seguro garantia judicial, que protege a empresa de ações na Justiça, de cerca de R$ 600 milhões. O contrato venceu em dezembro, entretanto, foi preciso pagar mais caro pela renovação, uma vez que seu risco aumentou após as delações de seus principais executivos no âmbito da força-tarefa federal, instaurando uma crise dentro da companhia. A apólice está com um pool de seguradoras: a mineira Pottencial, Chubb, Fator, Swiss Re e Fairfax. O novo contrato tem duração de dois anos.

Seguros de proteção pessoal

Aderir a seguros ainda não é uma prática muito difundida entre os brasileiros. Prova disso é o pequeno número de pessoas que têm seguro de vida. De acordo com um levantamento realizado pela Universidade Oxford entre 11 países, o Brasil é o que tem o menor número de pessoas com seguros de vida, revelando que apenas 19% possuem o benefício.

Deusdete Mantovanelli, diretor do Sindicato dos Corretores de Seguros e de Empresas Corretoras de Seguros do Espírito Santo (Sincor-ES), salienta a importância de se criar a cultura do seguro no Brasil. Segundo ele, a ideia só será disseminada quando houver a consciência da necessidade da proteção dos bens. “É preciso entender que você paga um pouco pelo seguro para garantir que será ressarcido no caso de os seus bens serem danificados”, considera Mantovanelli.

“Muitos pensam que, por ter um grande patrimônio, não precisam de seguro de vida, o que é incorreto. O seguro atende às necessidades imediatas após a morte de alguém, como os custos do inventário, por exemplo, já que nem sempre a família tem os recursos disponíveis” – Daniel Macchion, vice-presidente Regional da Prudential do Brasil

Ele diz que, no Brasil, ainda não há a noção de risco. “A não ser para carro, porque roubos são frequentes. Incêndio ou roubo em casa, por exemplo, ninguém pensa”, completa o diretor. Agentes do mercado e especialistas na área, porém, dizem que a situação dá sinais de reversão. Prova disso é que, mesmo com a retração econômica no país, o setor vem crescendo nos últimos anos. Em 2016, por exemplo, o mercado de seguros movimentou R$ 239,3 bilhões, expandindo-se 9,2% na comparação com 2015. Os dados são da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Em 2017, o segmento cresceu 3,2%, atingindo o montante de R$ 247,1 bilhões.

Na visão de especialistas, o seguro de vida deve ser pensado como um item básico de planejamento financeiro, e não como mais um produto das seguradoras que você nunca vai usar. “É difícil pensar com frieza que todos nós vamos morrer, que isso pode acontecer a qualquer momento e que sua família precisará respirar quando você morrer. Esse não é um dinheiro jogado fora. Tem que ser pensado como um planejamento financeiro, uma forma de se programar diante do incerto e do futuro da família, desde que o produto seja o mais adequado ao padrão de vida dessa família ”, esclarece o educador financeiro José Vignoli, do SPC Brasil.

Os sinais de mudança já começam a ser sentidos. No ano passado, o prêmio total nos seguros de vida subiu 10,8%, ultrapassando a do segmento automotivo pela primeira vez, cuja alta foi de 6,7%, segundo o Susep. Nesse cálculo, foi excluído o seguro obrigatório DPVAT do ramo de veículos e incluído o seguro prestamista, que quita dívidas em caso de morte, invalidez ou desemprego, no seguro de pessoas.

Seguros tradicionais inovam em modalidades

Segundo a CNseg (Confederação das Seguradoras), o maior ritmo de crescimento dos produtos de proteção pessoal começou a ocorrer em 2015. A venda de carros teve até leve alta em 2017, mas a queda nos anos anteriores impactou a contratação de coberturas. Em 2016, registrou uma queda de -1,7% e, em 2015, um aumento de 2,6%. Entre janeiro e junho de 2017, a arrecadação dos seguros de vida individuais, por exemplo, elevou-se 26% sobre o mesmo período de 2016.

“Nos últimos 10 anos o volume de reclamações recebidas pela Justiça do Trabalho passou de 11,3 milhões para 17,3 milhões” – André Gambier Campos, Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea)

Muito desse movimento está relacionado ao avanço da taxa de desemprego no país, na avaliação de Deusdete Mantovanelli, diretor do Sincor-ES. “Com tantos desempregados, há menos trabalhadores com seguros oferecidos entre os benefícios das empresas.
É natural que as pessoas procurem alternativas para a proteção que elas perderam”, diz. Na sua avaliação, isso também decorre das facilidades dos novos produtos criados pelas seguradoras. “Hoje já existem seguros de vida que podem ser contratados até por um mês ou seis meses apenas, no âmbito empresarial. Essa facilidade faz com que os empresários queiram se proteger e evitar problemas nos aspectos legais”, explica.

Mesmo num cenário em que a economia ainda derrapa, três tipos de contratos pessoais têm se destacado pelo aumento da demanda: os seguros prestamistas, educacionais e resgatáveis (dotais) – seguro que a pessoa recebe em vida. Cada um cresceu mais de 20% no primeiro semestre de 2017, em relação a igual período do ano passado.

O seguro de vida resgatável é uma opção para quem quer estar protegido e ao mesmo tempo ter de onde tirar dinheiro em caso de necessidade. Nessa modalidade, o resgate financeiro parcial ou total pode acontecer independentemente do falecimento do segurado. No seguro de vida tradicional, o valor é recebido pelas pessoas indicadas na apólice só em caso de invalidez ou morte do segurado. Se você desistir de pagar ou não tiver mais condições de honrar esse compromisso, não vai receber nada, nem mesmo o dinheiro investido. Já o seguro resgatável, caso o segurado desista do produto, poderá recuperar uma fatia do dinheiro investido, a partir de um período de carência, que é estabelecido por cada empresa, mas no geral costuma ser de 24 meses.

Quanto mais jovem e saudável você é, mais barato é o seguro de vida. A grande maioria das empresas aceita novos seguros de vida até 65 anos. Outras, até 60. Os seguros resgatáveis já são aceitos para clientes entre 60 e 80. Outra vantagem do seguro resgatável é que não é preciso pagar mais quando se muda de faixa etária. Há apenas o reajuste da inflação a cada ano. Os prazos das apólices variam de seguradora para seguradora, mas, em geral, costumam ir de cinco a 30 anos.

“É fundamental que as pessoas entendam que o seguro de vida, seja ele resgatável ou não, tem que fazer parte de um planejamento financeiro de longo prazo de qualquer perfil individual ou familiar. Muitos pensam que, por ter um grande patrimônio, não precisam de seguro de vida, o que é incorreto. O seguro atende às necessidades imediatas após a morte de alguém, como os custos do inventário, já que nem sempre a família tem os recursos disponíveis”, disse Daniel Macchion, vice-presidente regional da Prudential do Brasil.

“O seguro de vida tem que ser pensado como um planejamento financeiro, uma forma de se programar diante do incerto e do futuro da família. Esse não é um dinheiro jogado fora” – José Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil

Segundo ele, os recursos também podem ser muito importantes para a sucessão em empresas. O seguro sucessão empresarial é um seguro de vida que visa a minimizar riscos financeiros ou patrimoniais causados pelo falecimento de qualquer um dos sócios. Se um sócio vier a falecer, sua parte na empresa passa a ser dos herdeiros legais. Como beneficiários do seguro, os outros sócios podem utilizar esse capital para pagar aos herdeiros legais o valor correspondente às cotas do parceiro falecido, caso estes não queiram fazer parte do negócio.

Já o seguro educacional começou a ser oferecido pelas escolas, em parceria com seguradoras, que temiam um potencial aumento da inadimplência em um cenário de desemprego crescente. O valor é oferecido aos pais e incluído na mensalidade como garantia para manter os filhos estudando em caso de desemprego, bem como de morte natural, morte acidental e invalidez permanente do responsável financeiro pelo aluno. Nos casos de invalidez temporária ou desemprego, o acordo normalmente cobre de três a seis mensalidades, mas só vale para profissionais com carteira assinada que estão empregados há pelo menos seis meses.

SeguroA contratação pode ser para um determinado período (um semestre, por exemplo) ou para todo o ciclo escolar. Para receber, o pagamento da mensalidade tem de estar em dia. O valor da proteção corresponde, em média, a 2% do custo da mensalidade. Num cenário de recuperação da economia, seguradoras se movimentam para garantir que a proteção continue atrativa e faça parte de forma definitiva do orçamento das famílias.

Outro seguro, o prestamista, garante a quitação de uma dívida do segurado no caso de sua morte, invalidez ou até mesmo o desemprego. Se acontecer algum imprevisto com o cliente, a seguradora paga diretamente ao credor, que pode ser um banco, uma financeira ou uma loja. Assim, o seguro evita-se que seu nome fique sujo ou que você deixe uma dívida para seus familiares. Mas não há cobertura de parcelas vencidas em atraso sem um motivo específico. Apenas em casos de demissão, morte ou invalidez.

O consumidor não fecha o contrato diretamente com a seguradora, e sim com a loja, a financeira ou o banco que tiver parceria com uma companhia de seguros. Em geral, paga um valor mensal com a prestação da dívida. Nas lojas, o seguro custa cerca de 3% do valor da dívida. Nos bancos, cerca de 8%.

Automóvel: seguros mais populares

Para atrair proprietários da frota de 72% de veículos ainda não segurados no Brasil, a aposta é numa nova modalidade. Com um custo até seis vezes menor e uma cobertura compacta, o produto batizado de “seguro popular” mira consumidores dispostos a correr mais riscos e a pagar menos pela apólice. Por enquanto, está disponível em poucas seguradoras do país, e só são aceitos carros com cinco anos ou mais de uso.

O público-alvo são clientes de baixa renda, sem recursos para arcar com uma proteção mais abrangente. A maior parte é de proprietários do primeiro veículo, quase sempre financiado, e de jovens que acabaram de tirar a carteira de habilitação, classificados como de perfil de alto risco pelas seguradoras – o que encarece muito o produto.

Entretanto, especialistas recomendam cuidado. O novo serviço é mais acessível, mas tem seus pontos negativos, como a franquia mais cara e a cobertura e indenização com valores reduzidos. A franquia normalmente é cerca de 30% mais custosa do que a do seguro tradicional, o que significa que o consumidor passa a arcar com uma despesa bem maior em caso de acidente. Se ele optar por essa modalidade, vai precisar redobrar os cuidados com colisões, pois a economia na contratação vai por água abaixo se bater em outro veículo.

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