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Seguros: novo ringue da disputa entre bancos

Portal EXAME
Após as dezenas de aquisições das últimas duas décadas, os grandes bancos de varejo se tornaram mastodontes com fontes de receita bastante diversificadas. As instituições disputam entre si mercados como os de cartões, investimentos, gestão de recursos de terceiros, corretagem e custódia de valores, câmbio, previdência, consórcios e outros serviços financeiros. Em praticamente todo o mundo, no entanto, o carro-chefe da atividade bancária é o crédito. Concedendo empréstimos a empresas e consumidores é que os bancos fazem a maior parte de seus lucros.

Como as possibilidades de elevar a carteira de crédito via grandes aquisições estão praticamente esgotadas no Brasil, entretanto, os bancos passaram nos últimos meses a olhar com bastante carinho para outro mercado: o setor de seguros. A presença das grandes instituições financeiras nesse segmento já é expressiva. Segundo a americana Bank Insurance Market Reasearch Group (BIMRG), no Brasil as seguradoras ligadas a bancos responderam por cerca 80% do lucro do setor em 2007. Mas nenhuma instituição financeira parece contente com o quinhão conquistado. Seja por meio de aquisições ou de parcerias, os principais bancos brasileiros demonstram cada vez mais interesse em turbinar suas seguradoras.

O líder desse setor é o Bradesco, banco em que 34% do faturamento advém da atividade de seguros. Internamente o prestígio da área é tão grande que no início deste ano o então presidente da Bradesco Seguros, Luiz Carlos Trabuco Cappi, foi escolhido para comandar todo o grupo. O problema é que seus principais concorrentes estão cada vez mais vorazes.

Com a fusão do Itaú com o Unibanco, a nova instituição além de tomar a liderança do setor bancário brasileiro também reduziu enormemente a vantagem do Bradesco em seguros. Já o Santander adquiriu em março por 678 milhões de reais a participação de 50% que a Tokio Marine Holdings tinha da carteira de seguros e previdência do Banco Real, denominada Real Tokio Marine Vida e Previdência. Com isso, o Santander passou a deter 100% do negócio e virou o quarto maior em previdência no Brasil, tendo 1,3 bilhão de reais em prêmios emitidos e 12,4 bilhões de reais de capital administrado.

O Banco do Brasil, por sua vez, informou no começo deste ano que iniciou uma reestruturação de toda sua área de seguros e previdência. O objetivo do BB é ganhar mais competitividade nesse mercado, que hoje representa só 12% do resultado total do grupo. "Contamos com cinco empresas de seguros e as negociações são feitas todas em agências. Queremos agora ampliar os canais de distribuição", diz Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente de novos negócios e cartões do BB.

O banco de investimentos UBS Pactual, contratado pelo BB para a reestruturação, procurou as maiores empresas de seguros do Brasil e do mundo em busca de interessados - entre eles, grupos brasileiros como a SulAmérica e gigantes estrangeiros como a MetLife. A SulAmérica já é parceira do BB em alguns ramos de seguro. Já a espanhola Mapfre fechou um acordo com a Nossa Caixa, o banco estatal paulista comprado pelo BB, e também é vista pelo mercado como uma potencial parceria do banco federal. O BB pretende finalizar a nova estrutura até o final do ano.

O Bradesco não tem observado o avanço dos concorrentes de braços cruzados. Para voltar a ter folga na liderança, o Bradesco afirmou no mês passado que negocia uma parceria com a Porto Seguro na área de seguros de veículos. Os controladores da Porto Seguro continuariam a comandar o negócio - mas ao menos o Bradesco impediria que uma fusão seja fechada com um rival. "A fusão do Itaú-Unibanco se tornou uma ameaça para o Bradesco que decidiu combater o conglomerado", avalia Francisco Galiza, consultor da Rating de Seguros. Procurada, a Porto Seguro afirmou que não houve avanços nas negociações até agora.
Por que tanto interesse?

No Brasil, o mercado de seguros apresenta fortes taxas de crescimento. A expansão foi de 17% em 2007 e 18% em 2008. Mesmo com a crise, a previsão de alta para este ano é de cerca de 15%. O bom desempenho das seguradoras foi favorecido pela maior estabilidade econômica e pelo aumento da renda para empresas e pessoas físicas, que alteraram os hábitos de consumo e de aplicação em poupança.

As condições de mercado favoráveis fizeram com que os bancos brasileiros sigam na direção inversa da tendência mundial. Na maioria dos demais países, os bancos têm vendido suas seguradoras para se concentrar nos negócios que fazem parte seu foco, como o crédito. De acordo com uma pesquisa feita pela consultoria everis, a penetração dos bancos no setor de seguros de vida e previdência é de 55% no Brasil. Na América Latina, o segundo colocado é a Colômbia, com 15% do mercado. Nos Estados Unidos, o setor bancária responde por apenas 2%.

A lógica é diferente no Brasil porque os bancos possuem um grande número de clientes de baixa renda - o que lhes garante um canal adequado de distribuição das apólices com um custo mais baixo que o dos concorrentes. "As seguradoras dos bancos têm algumas vantagens, como o custo de administração de 16% do valor do prêmio, contra 19% das demais seguradoras", explica Rafael Garrido, sócio responsável pela área de seguros e saúde suplementar da consultoria everis.

O modelo brasileiro é parecido com o de países europeus, onde os bancos também respondem pela maior parte do mercado de seguros. Em países como Portugal e Espanha, os bancos detêm 76% e 65% de participação, respectivamente. Esse fenômeno - chamado de "bancassurance" - nasce e se desenvolve em países onde não existia uma cultura seguradora tão importante como nos Estados Unidos e onde os potenciais clientes não chegam aos seguros por meio dos intermediários tradicionais, os corretores.

Invasão pacífica

No Brasil, as seguradoras não fazem oposição a essa "invasão" dos bancos porque, com as parcerias, elas também ganham acesso aos clientes das instituições financeiras. Outro ponto que favorece as associações é o cenário econômico. A queda da taxa de juros e a situação em que se encontram os mercados financeiros internacionais fizeram com que o lucro proveniente dos investimentos dos prêmios pagos seja muito reduzido - e em alguns casos até negativo. Por isso, as companhias de seguros têm se preocupado mais em reduzir os custos administrativos.
Essa concentração das seguradoras bancárias tem seu lado positivo, na visão de Garrido. Ele diz que nos mercados onde houve uma concentração do setor nota-se que as companhias são mais competitivas e que seus custos de administração são mais baixos. "Ter custos de administração mais ajustados faz com que os prêmios baixem".

Em uma mercado em que há muita competição, outro desafio dos bancos é ampliar o portfólio de serviços. O desenvolvimento dessas áreas nos bancos se baseou inicialmente nos produtos de vida e previdência. Para que o modelo pudesse sobreviver e crescer, no entanto, os bancos tiveram de ampliar o portfólio, com seguros para automóveis, saúde e outros.

No Santander, o grupo só espera a finalização da fusão com o Real para disponibilizar as ofertas de cada banco para todos os clientes. Em seguida, a estratégia será focar em novos produtos. "No segundo semestre de 2010, após a integração, devemos sair com um seguro de acidentes pessoais para quem ganha até 1.200 reais por mês", conta César Vital, superintendente de canais de distribuição do Santander. "No México, o Santander distribui um seguro chamado life events, que garante um reembolso quando o segurado casa ou tem um filho, por exemplo. Estamos analisando a viabilidade de trazer isso para o Brasil."

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