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Uma união de R$ 4 bilhões

Fonte: Revista Isto é Dinheiro

Banco do Brasil e Mapfre criam um dos maiores grupos de seguros do País, juntando o poder de fogo de um com a agressividade do outro


Seis meses atrás, o presidente da seguradora Mapfre, Antonio Cássio dos Santos, enfrentava uma ameaça. A Nossa Caixa, com quem ele havia firmado um contrato para distribuir seus produtos durante 25 anos, já havia sido vendida para o Banco do Brasil, que iniciava o processo de integração das duas redes.

Àquela época, o que se comentava no mercado era que o gigante - no caso, o BB - utilizaria a rede de 3,1 mil postos de atendimento da Nossa Caixa para vender os seus produtos e não dos espanhóis. Na semana passada, a história teve uma surpreendente reviravolta. Na terça-feira 6, os presidentes da Mapfre e do BB anunciaram um negócio de R$ 4 bilhões, que abre os 15,1 mil pontos de atendimento do BB para o grupo espanhol.

"Foi um golaço que cria oportunidades gigantescas para as duas empresas e reforça a competição no mercado brasileiro de seguros", disse Cássio dos Santos à DINHEIRO. "Muitas vezes a parceria é mais inteligente do que uma aquisição", reforçou Aldemir Bendine, presidente do BB. A Mapfre será majoritária na operação, mas os percentuais ainda estão sendo definidos.

A joint venture cria uma potência. Um grupo que já ultrapassa o Bradesco e fica atrás apenas da parceria da Porto Seguro com o Itaú Unibanco, excluindo- se os segmentos de previdência e saúde. E foi também boa para os dois lados. A Mapfre, que era a empresa de mais rápido crescimento no mercado brasileiro, potencializará sua estratégia, tendo acesso à rede do BB.

"Teremos um papel ainda mais importante no seguro brasileiro com o melhor parceiro que poderíamos sonhar", disse à DINHEIRO José Manuel Martinez, presidente mundial da seguradora espanhola.

E o BB, que abriu mão do controle, deu mais uma demonstração do estilo pragmático da gestão de Bendine - num negócio recente, com o Banco Votorantim, o BB também aceitou ser minoritário.

O banco vinha atuando abaixo do seu potencial no mercado segurador, em razão da complexa cadeia de participações acionárias. A instituição possui parcerias com a SulAmérica na área de automóveis, saúde e capitalização.

E tem uma sociedade com a americana Principal em previdência. Todas essas empresas ficavam subordinadas ao BB-Investimentos. "Agora vamos dar a atenção que o segmento precisava", diz Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente do BB.

Depois que a Porto Seguro se associou ao Itaú Unibanco, dando início ao processo de consolidação do mercado brasileiro de seguros, Bendine decidiu reagir. E, quando muitos imaginavam que ele compraria a SulAmérica, o movimento com os espanhóis surpreendeu. "Eles cortejaram a noiva e casaram com a amante", disse à DINHEIRO o presidente de uma grande corretora.

O passo seguinte será o rompimento com os antigos sócios. Na mesma terça- feira 6, o BB enviou um comunicado à Comissão de Valores Mobiliários informando do seu interesse em adquirir os 30% da SulAmérica na Brasilveículos. O próximo passo será acertar a situação da Brasilsaúde, também parceira da SulAmérica, e até da Brasilprev, aliada à Principal. "Não seremos sócios de parceiros que têm o mesmo negócio que o nosso", diz, decidido, Bendine.

A parceria com os espanhóis põe fim a um embate interno. Cássio Casseb, ex-presidente do BB, vinha tentando articular uma operação que fortalecesse a posição da Principal nesse jogo. O que fica claro é que o casamento será com os espanhóis - e ponto final.

E essa união tem musculatura para enfrentar os principais concorrentes. Em automóveis, o quarto lugar da Mapfre com o sétimo do BB levará a nova companhia ao segundo lugar do mercado, atrás da Porto Seguro Itaú Unibanco. Os corretores associados à seguradora espanhola darão visibilidade para o BB.

E não apenas porque 80% dos negócios de seguros são fechados através desse canal de venda, mas pela possibilidade de associar esse negócio à BV Financeira, especializada em financiamento de veículos. No segmento vida, eles terão a liderança, assim como nos prêmios sem as áreas de saúde e previdência.

E abre-se ainda uma possibilidade de expansão internacional do BB. "A nossa presença global os ajudará", garante Martinez, CEO da Mapfre. A nova configuração do negócio vai ser selada em até 60 dias, com as devidas participações de cada sócio. A vitória da Mapfre foi conquistada na última hora.

E um dos trunfos foi o crescimento da área de previdência na Nossa Caixa - quatro vezes maior do que o do mercado no primeiro semestre deste ano. "Conversamos com seis companhias em um ano e a Mapfre é a que tem mais sinergias conosco", diz Caffarelli. Para finalizar o negócio, o CEO Martinez desembarcou no Brasil no domingo 4.

A tristeza pela derrota de Madri para o Rio de Janeiro na escolha da sede da Olimpíada de 2016 foi logo superada pela expectativa de fechar um grande negócio - o que acabou se concretizando dois dias depois. A partir de agora, o objetivo do BB é não deixar o Itaú Unibanco se aproximar na liderança do mercado bancário.

O banco recuperou a primeira posição bicentenária com uma política agressiva de crédito no meio da crise. O Itaú Unibanco entregara sua carteira para quem mais entendia do negócio - o empresário Jaime Garfinkel, da Porto. A busca do BB com a Mapfre vai no mesmo caminho. E a ordem de Bendine é estar na linha de frente para conquistar a mesma rentabilidade que seus concorrentes.

O exemplo maior é o Bradesco, com 35% dos seus resultados puxados pela seguradora. Pelo balanço do primeiro semestre do BB, os seguros contribuíram com 15%. "Nossa projeção é que 25% dos resultados venham dos seguros em cinco anos", afirma Bendine. Quem mais parece ter perdido com essa história já fala em virar a partida.

A SulAmérica também está disposta a encerrar os acordos que mantém com o BB. Em nota, o presidente Patrick Larragoiti diz que a seguradora sairá fortalecida, ainda mais capitalizada e na primeira colocação entre as empresas independentes. O certo é que o fim da parceria com o BB encerrará um dos problemas de Larragoiti.

O próximo é saber se o ING venderá sua participação de 21% na seguradora. Todas as opções levam ao Bradesco, que perdeu a disputa pela Porto Seguro para o Itaú Unibanco e se vê obrigado a cortejar a SulAmérica, para não ficar para trás nessa corrida. Se vai dar casamento, só o tempo dirá.

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