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Para Larragoiti, mercado de seguros vai dobrar em 10 anos

Patrick Larragoiti diz que SulAmérica deve ser consolidadora do processo de fusões do setor

O mercado de seguros no Brasil tem crescido significativamente nos últimos anos, e o seguro privado já representa cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Mesmo assim, o país ainda é a 48ª economia em termos de penetração do seguro em relação ao PIB, havendo ainda espaço para crescimento.

Nesse mercado, atualmente têm sido comum os movimentos de associações, fusões e aquisições, dentre os quais estão a associação entre o Itaú Unibanco e a Porto Seguro, o Banco do Brasil e a Mapfre, e a recente compra da Medial Saúde pela Amil. Poucas operadoras têm se mantido fora da tendência. Das de grande porte, a SulAmérica é a única que permanece com essa característica, operando independentemente.

Em entrevista à gestora de fundos Rio Bravo Investimentos, o presidente da SulAmérica, Patrick Larragoiti, falou sobre a atual situação do mercado de seguros no Brasil e no mundo, e as perspectivas para os próximos anos com relação a expansão, penetração de novos produtos, e regulação. Na opinião do presidente, o processo de consolidação no segmento de saúde tende a se ampliar, o que faz da SulAmérica um agente importante dentro desse processo.

Para Larragoiti, que assumiu a presidência em 1999, a empresa tem se beneficiado com o desenvolvimento do mercado e ainda terá muito a ganhar se o crescimento continuar. Em 2002, o presidente fez uma associação com o grupo holandês ING, que adquiriu uma participação de 49% no capital da SulAmérica. Pela transação, a companhia brasileira recebeu 160 milhões de dólares. O valor de mercado da empresa, hoje, é de R$ 4 bilhões.

Pergunta - Depois das associações entre Itaú e Porto Seguro e Banco do Brasil, e Mapfre, a SulAmérica é agora a única seguradora independente de grande porte e multiproduto. Vai continuar assim por muito tempo?

Larragoiti - O nosso objetivo é justamente trazer valorização para os nossos acionistas. Nossa estratégia de independência, trazendo através de vários canais bancários e financeiros os nossos produtos como é o caso hoje, sem dúvida nenhuma é uma vantagem competitiva muito grande que nós temos e pretendemos manter. Nesse ponto de vista a SulAmerica já tem mais de 20 acordos bancários com empresas de cartão de crédito e financeiras para comercializar seguros de automóveis, seguros de vida, seguros de acidentes pessoais, entre outros. Nosso objetivo é ampliarmos esses acordos comerciais, ampliarmos essas associações que temos com as empresas com o intuito de incrementarmos nossas vendas.

Tivemos na semana passada o anúncio da compra da Medial Saúde pela Amil, que é mais um movimento de consolidação no mercado. O que está acontecendo? O mercado de repente ficou maduro para todas essas associações?

Larragoiti - Sempre teve processo de consolidação dentro do mercado segurador. É um processo normal, que tem por objetivo as empresas procurarem ampliar a sua presença através dos vários canais de comercialização. No segmento de saúde isso é ainda mais presente. Temos mais de 1.500 operadoras de saúde no mercado brasileiro, o que sem dúvida é um importante exagero. Então nesse ponto de vista, esse processo de consolidação no segmento de saúde tende a se ampliar e com isso a SulAmérica é um agente importante dentro desse processo de consolidação.

Essa consolidação é ajudada também por uma postura mais proativa da Agência Nacional de Saúde (ANS) em se certificar que as operadoras estejam atendendo a todas as demandas da regulação?

Larragoiti - Sim, está correto. Tem tido por parte da ANS uma evolução bastante positiva em termos de regulamentação, de constituição de margem de solvência, de coberturas de reservas técnicas e que, sem dúvida nenhuma, afetam de maneira mais relevante as operadoras de saúde que antes não eram reguladas. Não é o caso das seguradoras de saúde que eram reguladas pela superintendência de seguros. Então, essas operadoras de uma maneira geral têm que se adaptar a estas novas regras, trazer capital e recursos financeiros para poder cobrir essas reservas necessárias para qualquer operação que envolve algum tipo de risco. A questão de consolidação no mercado de saúde vai continuar a se ampliar. A SulAmérica é uma consolidadora desse mercado. Estamos olhando para ele com total atenção. Estamos, sim, interessados em poder analisar projetos que façam sentido para a SulAmérica e para os seus acionistas.

Como esse cenário de consolidação afeta o negócio da SulAmérica do ponto de vista da concorrência? Como os grandes bancos acreditam na capilaridade de sua rede de agências, é possível que haja um maior alinhamento de interesses entre a SulAmérica e os corretores independentes?

Larragoiti - Os corretores de seguros sempre foram a grande força motriz da SulAmérica ao longo de toda a sua história nesses mais de 100 anos. Os corretores sempre representaram um percentual muito elevado da nossa produção. Hoje representam mais de 80% e, realmente, o mercado segurador só vai crescer através do desenvolvimento de uma melhor especialização do corretor de seguros e isso é o que o ele tem feito nesses últimos anos, se modernizando e oferecendo produtos cada vez mais diversificados.

O corretor está voltando a ter um valor agregado?

Larragoiti - O corretor de seguros sempre teve um valor agregado importante na intermediação de seguros. Os produtos de seguros hoje oferecidos, inclusive os massificados, são muito complexos, de coberturas diferenciadas, de serviços muito amplos. Tudo isso, inclusive a comparação de preço, precisa ser feito por um intermediário que possa justamente analisar essas comparações para poder recomendar ao cliente final a melhor seguradora para ele. O corretor de seguros, em minha opinião, continuará com grande força do desenvolvimento do mercado de brasileiro.

Onde estará esse mercado daqui a dez anos, por exemplo? Como será a cara do mercado?

Larragoiti - Teremos daqui a dez anos, em minha opinião, um mercado que, no mínimo, vai duplicar em relação a PIB. Hoje esse percentual representa 3% do PIB, tudo nos leva a crer que o mercado segurador poderá obter números mais próximos de 6% nas próximas décadas. Nesse ponto de vista primeiro teremos um mercado segurador muito maior, mais distribuído, com uma quantidade da população brasileira comprando cada vez mais produtos de seguros. Isso traz uma grande força para o mercado oferecer produtos que possam atender a essa nova demanda.

Com isso um dos grandes motores de desenvolvimento serão os seguros populares, os mais baratos, como seguro de vida, também os de automóveis com preços e coberturas diferenciados em relação ao que temos hoje, e serviços adicionais a serem oferecidos aos clientes. Tudo isso fará com que o mercado segurador atinja um novo patamar nos próximos dez anos.

Em termos de cobertura, sem dúvida, o mercado segurador brasileiro é muito desenvolvido. Todas as coberturas oferecidas aqui já existem lá fora. O mercado segurador brasileiro não deixa nada a dever aos mercados internacionais. O que existe sim é um potencial de crescimento muito maior em relação aos mercados europeus ou norte-americanos.

Um estudo feito pela Escola Nacional de Seguros, em julho deste ano mostra que mais de 70% do seguro oferecido no Brasil é oferecido pelo Estado. A iniciativa privada gostaria de ocupar estes espaços? E que benefícios isto poderia trazer para a sociedade?

Larragoiti - A iniciativa privada gostaria muito de poder oferecer os seus serviços e as suas coberturas securitárias para ocupar esse espaço. Inclusive existe um deles, que é o seguro de acidentes de trabalho. Está sendo discutido pela mídia que o mercado privado poderia oferecer coberturas mais condizentes e de custo menor do que é oferecido pelo próprio Estado.

Realmente existe um mercado potencial que é coberto pelo Estado e eu não tenho dúvida nenhuma de que, sendo oferecido pelo mercado privado, poderia ser oferecido por um custo menor e por uma gestão de riscos mais eficiente, o que também é um benefício bastante interessante. Para se ter uma idéia, no seguro de acidentes de trabalho, o nível de frequência de acidentes que existe aqui no Brasil é praticamente 40% maior do que a frequência do mercado europeu. Isso mostra que numa boa gestão de riscos, o incentivo dado pelas empresas para diminuir a frequência de acidentes traria um benefício importante para a economia nacional. E é isso que o mercado segurador privado se propõe a partir do momento de querer entrar nesse mercado pode ajudar e incentivar e apoiar as empresas a poder gerenciar melhor seus riscos.

No debate sobre a reforma do sistema de saúde dos EUA, a oposição ao Presidente Obama critica a chamada "public option", que seria o plano estatal, e que poderia ajudar a baixar os custos do sistema na medida em que o Estado teria escala. Quais suas impressões sobre o que está acontecendo nos EUA?

Larragoiti - O mercado brasileiro está de vanguarda nesse ponto de vista, porque já existe uma opção publica estabelecida aqui no Brasil com um nível razoável de serviços, inclusive muito bons em vários hospitais públicos no país e como opção privada para aquelas empresas ou pessoas que querem optar por uma cobertura mais ampla, com maior liberdade.

Nesse ponto de vista o Brasil está de parabéns com relação à evolução do próprio mercado, e também a ANS, que já há dez anos regula esse mercado como um todo, e tem atuado de uma maneira bastante eficiente, com intuito não somente de proteger os interesses dos clientes de plano de saúde, mas também ampliar o mercado de saúde suplementar.

Com relação à regulamentação norte-americana, há um esforço importante que vem sendo feito lá, mas tem sempre aquela imagem feita pelo governo de que a iniciativa publica realmente é sempre mal vista. Essa não é minha interpretação, mas é a imagem que o povo norte americano tem sobre qualquer ingerência do Estado na iniciativa privada. Ainda vai correr bastante água até que se encontre uma solução que seja adequada para a realidade do mercado americano.

No mercado de seguros de saúde no Brasil, como o senhor vê o modelo de negócio verticalizado (adotado por empresas como Amil e Medial). Quais são os prós e os contras deste modelo?

Larragoiti - É uma competição saudável entre o modelo vertical e o modelo que se abstrai de ter estruturas hospitalares mais amplas. Cada uma tem suas vantagens, mas a realidade é que a SulAmerica acredita que seu modelo, dentro da realidade em que trabalha, dentro da competência dos profissionais e dentro da demanda dos clientes, faça mais sentido. É um modelo com maior flexibilidade em termos de custo, ele permite poder escolher os melhores prestadores de serviço em termos de qualidade, de custo, de eficiência operacional e de integração em relação as nossas próprias operações. E, principalmente, permite uma maior flexibilidade em relação à demanda de nossos clientes. Alguns podem demandar só hospitais de primeira categoria e outros clientes podem demandar hospitais de cistos mais condizentes com seus funcionários.

Como é possível aumentar a penetração do seguro no ramo de automóveis, que ainda é baixa no Brasil? Que tipos de adaptações e novidades podem acelerar isto?

Larragoiti - É importante ressaltar que o índice de penetração vem se ampliando. Há dez anos o índice de veículos segurados era de 20% e agora está um pouco acima de 30%. Então, nesse ponto de vista, graças às novas características de produtos que vêm sendo lançados, graças a uma redução dos nossos custos administrativos operacionais, graças a uma concorrência mais acirrada, realmente cada vez mais brasileiros têm comprado seguros de automóveis. Olhando daqui para frente essa tendência tende a aumentar, não há a menor dúvida quanto a isso, acho que existem por parte das seguradoras brasileiras várias adaptações de produtos, simplificações em termos de coberturas, oferecimento de serviços que são importantes para nossos assegurados, a questão do guincho, da assistência 24h, que são serviços extremamente relevantes. Há 20 anos, as pessoas pagavam para ter a cobertura de guincho. Hoje existem coberturas incluídas ou vendidas de maneira adicional nos seguros.

Outra etapa que vem sendo discutida dentro da confederação de seguros junto com a superintendência de seguros privados é a possibilidade de oferecer um seguro popular para o segmento de automóveis alterando algumas formas de legislação e também alterando alguns paradigmas que são hoje estabelecidos dentro do mercado de seguros de automóveis. Isso permitiria para as seguradoras poderem oferecer seguros mais baratos em relação ao que temos hoje.

Que tipos de alterações estão sendo discutidas que poderiam ser adotadas para que houvesse um seguro popular?

Larragoiti - Por exemplo, permitir a utilização de peças usadas ou transformadas no momento de colisão, ou permitir que haja venda de produtos sem a cobertura de colisão. Além disso, regras que, do ponto de vista das apólices, fossem claras para os clientes. Isso tornaria possível a existência de alguns instrumentos que pudessem reduzir o custo total do mercado de seguros.


Como a SulAmerica vê a possibilidade de criar uma marca de combate, ou um produto menos sofisticado, para atender a um público com menor poder de compra?

Larragoiti - Acreditamos que nossa estratégia de termos uma marca só para vender todos nossos produtos é uma forma vantajosa, que permite um custo único com relação à divulgação. Já temos uma marca conhecida há mais de cem anos em todo mercado segurador nacional em todos os segmentos, seguro de automóveis, seguro saúde, seguro de vida e previdência e também na parte de gestão de ativos. Então acreditamos que a nossa estratégia de ter nossa marca reconhecida como a melhor seguradora do país se condiz com essa nossa visão. É por isso que manteremos essa estratégia de ter uma marca só.

Como a Copa do Mundo e as Olimpíadas vão afetar a demanda por seguro no país?

Larragoiti - De maneira muito relevante. Primeiro porque são R$ 150 bilhões que são estimados em termos de investimentos em infra-estrutura. Esses 150 bi se traduzem em muitos seguros adicionais nessa parte de risco industriais e comerciais e seguros: seguros de garantia, de construção, todos os outros seguros ligados a essa atividade, mas também vai gerar um impacto muito relevante em termos salariais e da renda dos trabalhadores que irão trabalhar de maneira direta ou indireta no desenvolvimento de todas essas atividades e dessas construções. Isso vai gerar uma nova demanda por produtos seguros, e desses seguros tradicionais, automóveis, saúde etc. Esses novos trabalhadores vão demandar as coberturas de seguros já existentes no mercado. Será um novo motor de crescimento para o mercado segurador nacional.

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