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Jeitinho custa caro à nação

Fonte: Gazeta do Povo - PR

As fraudes envolvendo cartões de crédito, de débito e o mercado de seguros custaram cerca de R$ 3 bilhões ao país em 2009. A maior parte do prejuízo não se deve à ação de estelionatários ou criminosos profissionais, mas aos fraudadores de ocasião , cidadãos que aproveitam situações como furtos para obter vantagens. Apesar de ser apenas uma amostra de todos os pequenos delitos , esse número revela a conivência com a ilicitude no país.
Infrações ocorrem em todo o mundo, mas só no Brasil ganham o apelido de jeitinho . O indivíduo que comete esse tipo de ato tem pensamento imediatista e individualista e não consegue enxergar o prejuízo à nação.

Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro A cabeça do brasileiro, essas contravenções consideradas menores pela população se situam em uma zona moral cinzenta e podem passar de erradas a certas. O jeitinho é um nome positivamente associado a burlar a regra. Essa nominação é uma característica do Brasil. O dano desse tipo de conduta é enorme e vai além de, por exemplo, pagar mais caro o seguro do carro. É um prejuízo à democracia do país. Seguir a lei é um exercício democrático.

A pesquisa que embasa o livro de Almeida, a maior do gênero realizada no país, mostrou que 2/3 dos brasileiros já se valeram do jeitinho. O primeiro caminho para mudar é a educação, porque é um comportamento cultural. O outro é as pessoas saberem que quem comete um delito será punido.

O advogado David Rechulski, que trabalha com fraudes há mais de duas décadas, afirma que o crime é ilegal por sua natureza e não pelo valor arrecadado. Por isso todas as infrações devem ser punidas com o mesmo rigor. Ninguém acorda de manhã e decide ser criminoso. Todo desvio de conduta é um presságio para um crime maior , defende.

O pequeno fraudador inicia suas atividades porque tem uma sensação de impunidade e se acha mais esperto que os outros. Além disso, Rechulski argumenta que um dos principais requisitos para uma fraude bem-sucedida é a confiabilidade de quem comete o delito. Ninguém desconfia dessa pessoa. A confiança é uma condição para enganar os demais.

Ponta do iceberg

De acordo com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), os acidentes envolvendo seguros movimentaram R$ 22 bilhões em 2009 e as estimativas da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados (Fenaseg) é de que 10% dos eventos foram fraudados. Isso é apenas o que suspeitamos , diz Júlio Avellar, superintendente da Fenaseg.

O real valor dos prejuízos ao país é desconhecido. Avellar compara a descoberta de fraudes no mercado de seguros a um iceberg: é possível enxergar sua ponta sobre a água, mas nunca se sabe o quanto está submerso. Há quem fale em 20 ou 30% de fraudes do total coberto, mas nós trabalhamos com 10% , diz. Criador do site fraudes.org e especialista em investigações de fraudes corporativas, Lorenzo Parodi afirma que, quando se tenta mensurar o problema, existe o risco de uma análise conservadora, que fuja da realidade.

De acordo com Avellar, a permissividade do brasileiro é culpada pelas fraudes. É um pouco da Lei de Gerson , as pessoas consideram normal a falta de educação. Já que precisa pintar uma porta, vou aproveitar para pintar o carro inteiro , diz. Os oportunistas respondem, no mercado de seguros, pelo maior índice de fraudes, mesmo que soneguem valores menores. É uma questão muito séria porque é de educação e não de polícia , opina Avellar. O egoísmo repercute no valor dos seguros, um dos únicos serviços pagos para não ser usado.

Na avaliação de Avellar, os cidadãos percebem o tamanho do risco e levam em conta as irregularidades quando fecham uma negociação. O jovem não tem interesse em pagar caro no seguro de vida para subsidiar a pessoa mais velha. E o idoso não quer subsidiar o automóvel para o mais jovem. E ninguém quer financiar o mal-pagador, o oportunista. Mas a malandragem na área não é mérito brasileiro: uma revista especializada indicou fatores que indicam probabilidade de fraude no seguro de carros no Canadá, um dos países mais ricos do mundo.

Parodi atribui a ação dos fraudadores de momento a duas causas: ganância e necessidade. Existem várias alavancas que, quando oportunamente exploradas, facilitam a ação dos golpistas , diz.

Cartões

Os cartões de débito e crédito apresentam perdas menores que o mercado de seguros. Estima-se que 0,16% do total de transações bancárias seja fraudada. Em 2009, foram movimentados R$ 444 bilhões em transações com o cartão. Se o índice for seguido, R$ 710 milhões teriam sido perdidos. Os prejuízos, segundo os bancos, são cada vez menores o Banco do Brasil diz que seu índice é de 0,7%. A instalação dos chips é uma das principais razões para a queda. O contato do chip ainda não foi quebrado, garantindo que aquele cartão é válido. A tarja pode ser copiada, mas ele não , diz Eduardo Condé, gerente-executivo da Diretoria de Cartões do Banco do Brasil.

O superintendente de risco do Citi Brasil, Ricardo Inada, afirma que a preocupação principal é com a ação das quadrilhas especializadas. A fraude vem se especializando e, muitas vezes, existe a ação do crime organizado nesses golpes , diz. A prevenção dos bancos está em uma linha tênue: é preciso garantir a segurança do usuário sem incomodá-lo. A intenção é proteger o cliente e o artigo financeiro da instituição. Se impeço transações duvidosas, reduzo os ganhos e aborreço os usuários. Se autorizo demasiadamente, o cliente pode sofrer golpes. A fraude tem essa dualidade , explica o vice-presidente de gerenciamento de risco do Citi Brasil, Victor Loyola.

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