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Previdência de volta ao risco

Fonte: Valor Econômico

Carteiras com parcela em ações ganham espaço entre PGBLs e VGBLs.

Depois de retirar R$ 142,5 milhões dos fundos PGBL e VGBL com uma pitada de ações em julho, os investidores em previdência aberta voltaram a mostrar apetite pela renda variável em agosto. É o que mostra levantamento das consultorias NetQuant e Towers com 502 carteiras do setor.

No mês passado, a previdência aberta exibiu captação líquida - aportes menos saques, sem contar a rentabilidade - de R$ 2,082 bilhões: R$ 1,786 bilhão em carteiras de renda fixa e multimercados sem ações e R$ 296,73 milhões em fundos com renda variável. O destaque foram as carteiras mais agressivas, com até 49% em ações, cuja captação atingiu R$ 156,07 milhões - ou seja, 52,59% do captado pelas carteiras com renda variável no mês passado.

À primeira vista, parece pouco. Mas a atração de recursos em agosto pode indicar o início da reação das carteiras PGBL e VGBL com ações que, após amealharem R$ 1,2 bilhão em abril, mostraram saques ou captações líquidas muito tímidas em maio, junho e julho.

Os clientes estão voltando aos poucos a aplicar nos fundos com ações com o arrefecimento da crise do euro, afirma Sérgio Nogueira Prates, gerente comercial da Icatu Seguros, que em agosto atingiu R$ 3 bilhões em reservas de previdência. E, com essa interrupção do processo de alta da Selic, o investidor começa a se sentir mais confortável com a bolsa, diz Nogueira.

Ele ressalta que os investidores mais jovens, ainda na casa dos 20 anos, já chegam ao mercado de previdência aberta com disposição de aplicar em renda variável. E há também muitas pessoas que estão investindo em planos de previdência para os filhos. Esse público é mais disposto a correr risco e investe em fundos com até 30% ou 49% em ações, conta Nogueira, que já nota um apetite para uma diversificação, inclusive em ações, com procura até por fundos que investem em small caps (ações de empresas menores).

Na renda fixa, diz Nogueira, o destaque são as carteiras que concentram as aplicações em NTN-Bs, papéis públicos que pagam ao investidor juros mais a variação do IPCA, índice oficial de inflação. A rentabilidade real no longo prazo é muito boa e o investidor se protege caso algo dê errado e a inflação suba, afirma o gerente da Icatu, que aposta em avanço dos fundos com ações e das carteiras com papéis indexados à inflação até o fim do ano.

A pesquisa da NetQuant e da Towers atesta o crescimento da participação dos fundos com renda variável este ano. A fatia de mercado dessas carteiras no patrimônio da indústria saltou de 20,95% em agosto de 2009 para 25,18% no mês passado. Isso significa um crescimento de aproximadamente R$ 14 bilhões no patrimônio líquido das carteiras de renda variável, puxado pelos fundos com até 49% dos fundos com ações. Já a participação de mercado dos fundos de renda fixa e multimercados sem renda variável caiu de 79,05% para 74,82%.

A migração dos investidores de previdência aberta para as carteiras com renda variável já é uma realidade, apesar dos solavancos mensais na captação líquida, aponta Márcio Matos, superintendente de Investimentos da BrasilPrev Seguros e Previdência . Os fundos de ações vêm crescendo e vão ocupar cada vez mais uma fatia maior na previdência aberta, afirma.

Do estoque de recursos em fundos PGBL e VGBL da seguradora, 80% estão em renda fixa pura, e os 20% restantes, em fundos com algum percentual de ações. A média da captação líquida dos fundos de renda variável no ano é de 34%, o que indica uma mudança gradual do estoque nos próximos anos, diz Matos.

Um dos pontos a favor da renda variável, ressalta ele, é o avanço dos fundos chamados ciclos de vida, em que a parcela do patrimônio em renda variável é elevada quando o investidor é jovem e cai à medida que ele se aproxima da aposentadoria. Essas carteiras, diz Matos, respondem hoje por 20% da captação total de recursos dos fundos PGBL e VGBL da seguradora. E, nesse tipo de fundo, o investidor deixa na mão do gestor a escolha de quanto do patrimônio vai para ações, afirma ele.

Para Matos, no médio e longo prazos, é clara a tendência de valorização da bolsa com as perspectivas de crescimento da economia brasileira impulsionando os lucros das empresas. No curto prazo, a conclusão da capitalização da Petrobras pode destravar o Ibovespa e estimular os investidores, acredita.

A reação das captações dos fundos renda variável em agosto era previsível e mostra mais uma vez que o investidor ainda aplica em previdência com o olho no retrovisor, diz Marcelo Nazareth, presidente da NetQuant. O investidor aplicou em agosto pensando na alta de mais de 10% da bolsa em julho, diz Nazareth, lembrando que, em agosto, o Ibovespa recuou 3,51%. O reflexo dessa queda da bolsa no mês passado talvez apareça nos resultados de setembro, diz.

Nazareth não acredita que o resultado de agosto mostre uma volta ao ritmo de captação das carteiras com ações até abril, quando as pessoas ainda estavam com a alta espetacular da bolsa em 2009 na cabeça. Ele acredita que a bolsa deva oscilar muito até o fim do ano, refletindo os dados da economia americana, que ora mostram uma reação, ora despertam temores de uma nova recessão. Isso vai fazer com que as captações em renda variável variem muito a cada mês, aposta.

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