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Seguradoras usam dados da web para avaliar clientes

Fonte: Valor Econômico

As seguradoras de vida dos Estados Unidos começaram a testar um uso altamente pessoal dos vastos dossiês que têm sido compilados sobre os americanos: prever a longevidade das paessoas.

Há muito que as seguradoras usam exames de sangue e urina para analisar a saúde das pessoas - um processo caro. Mas hoje em dia as empresas de compilação de dados já contam com arquivos tão detalhados sobre a maioria das pessoas nos EUA - em que sites compram, quais catálogos de compras elas usam, que revistas assinam, que atividades desfrutam no tempo livre, suas informações em sites de relacionamento pessoal - que algumas seguradoras estão verificando se os dados podem revelar sobre a pessoa tanto quanto uma análise laboratorial dos fluidos corporais.

Num dos maiores testes dessa nova estratégia, a subsidiária americana da seguradora inglesa Aviva PLC analisou 60.000 pessoas que tinham acabado de assinar um seguro. Ela descobriu que um novo sistema, de "modelos de previsão", parcialmente baseado em dados de marketing sobre o consumo das pessoas, apresentou uma capacidade "persuasiva" de emular as técnicas tradicionais.

A pesquisa representa uma expansão notável do aproveitamento dos dados de marketing sobre as pessoas, tradicionalmente usados com propósito publicitário.

Esses dados são cada vez mais compilados na internet e muitas vezes as pessoas têm apenas uma vaga ideia que bits separados de informações estão sendo coletados e relacionados de maneiras surpreendentemente reveladoras.

O comércio crescente de informações pessoais tem sido tema de uma série de reportagens investigativas do Wall Street Journal sobre privacidade on-line.

Um componente crucial do teste da Aviva, realizado pela Deloitte Consulting LLP, foi o cálculo do risco de uma pessoa para doenças como pressão alta e depressão. Os modelos da Deloitte presumem que várias doenças são relacionadas a escolhas pessoais, como hábito de se exercitar ou uma dieta de lanches rápidos.

Esse tipo de análise, argumentam seus defensores, pode baixar o custo do seguro e eliminar um aspecto aviltante enfrentado por algumas pessoas interessadas em fazê-lo.

"Obrigar todos os clientes a fornecer informações adicionais e muitas vezes desnecessárias", como amostras de sangue ou urina, "simplesmente torna o processo menos eficiente e menos amigável", diz John Currier, atuáriochefe da Aviva USA.

Entre as outras seguradoras que estão experimentando tecnologias parecidas estão a American International Group Inc. e a Prudential Financial Inc., confirmam executivos dessas empresas.

A Deloitte, uma das grandes defensores do novo conceito, já o ofereceu a várias seguradoras nos últimos meses.

A indústria de seguros precisa descobrir como vender seguros para famílias de classe média a um custo menor. As vendas de seguros de vida para pessoas físicas caíram 45% nos EUA desde meados dos anos 80. A Deloitte afirma que as seguradoras podem economizar US$ 125 por interessado num seguro se eliminarem muitas exigências médicas convencionais. De acordo com o modelo de previsões da Deloitte, o custo de se obter um resultado parecido seria US$ 5, afirma a consultoria. O custo total de subscrição de um seguro de vida varia entre US$ 250 e US$ 1.000, dizem as seguradoras.

O que torna essa abordagem possível é o volume de novas informações que certas empresas estão coletando na internet. Essas empresas analisam os detalhes das compras on-line e off-line das pessoas para ajudar a categorizálas como alguém que gosta de correr ou de fazer trilha, que faz dieta ou fica vegetando no sofá.

As empresas vasculham arquivos públicos como licenças para caçar, registro de barcos e alienação de imóveis. Eles fazem pesquisas projetadas para levar as pessoas a descrever seu estilo de vida e condições de saúde.

Algumas delas coletam cada vez mais dados pessoais, como os disponíveis em sites de relacionamento social. A Acxiom Corp., uma das maiores empresas que compilam esses dados, afirma que usa um volume limitado de informações "públicas" de sites de relacionamento social, ajudando "nossos clientes a identificar usuários de sites de relacionamento social, suas redes favoritas, quão sociáveis eles são se comparados à norma e que tipo de sites de fãs eles visitam".

Para as seguradoras e outras empresas que vendem dados, as novas técnicas podem abrir uma caixa de pandora de regulamentação.

A informação vendida pelas firmas de bancos de dados de marketing é pouco regulamentada.

Mas o uso dela para avaliar se uma pessoa pode fazer um seguro de vida estaria sujeito à Lei de Divulgação Justa de Histórico de Crédito dos EUA, diz Rebecca Kuehn, que trabalha na divisão de privacidade e proteção à identidade do órgão americano de defesa do consumidor, da FTC. Uma das cláusulas da lei entra em vigor quando "uma atitude adversa" é tomada contra a pessoa, como a decisão de negar um seguro ou de aumentar a mensalidade.

A lei determina que as pessoas devem ser notificadas de qualquer ação adversa e podem contestar as informações, segundo a FTC.

A Deloitte e as seguradoras enfatizam que os bancos de dados não seriam usados para tomar decisões finais sobre os interessados num seguro. Em vez disso, o processo simplesmente agilizaria a inscrição das pessoas que aparentem oferecer menos riscos. Outras pessoas teriam de passar pelo processo tradicional de avaliação.

O uso desses dados também pode precisar da aprovação das autoridades de regulamentação de seguros. Autoridades dos Estados de Connecticut, Nova Jersey e Nova York, que sediam grandes seguradoras americanas, dizem que ainda não foram informadas sobre as novas práticas.

As autoridades dizem que uma de suas preocupações seria garantir que a abordagem não discrimine injustamente as pessoas. "Uma seguradora pode inferir que uma assinatura da revista "Asa Delta Mensal" prevê comportamentos altamente perigosos, mas eu não acredito nessa teoria. A pessoa pode receber a revista só para ver as fotos", diz Thomas Considine, comissário de bancos e seguros do Estado de Nova Jersey.

A AIG está no estágio inicial de análise para "determinar o que é importante [nos dados] e o que não é", diz Bob Beuerlein, atuário-chefe da filial SunAmerica Financial. Os testes estão sendo realizados por um "centro de pesquisas" da empresa cuja missão, diz ele, "é estudar para onde iremos no futuro".

Um porta-voz da Prudential disse que a seguradora está "estudando" o potencial dos dados de marketing, mas não quis dar maiores detalhes.

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