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Coface vê risco de bolha no Brasil

Fonte: Valor Econômico

O fluxo externo de recursos "especulativos" para o Brasil em excesso é um dos principais riscos para as empresas do país, segundo Yves Zlotowiski, economista-chefe da Coface, empresa que faz seguro de crédito - cobre as perdas da inadimplência nos empréstimos entre companhias. Para ele, "o Brasil tem azar de ser tão atrativo" neste momento, pois a apreciação na taxa de câmbio prejudica o setor manufatureiro, que reduziu suas exportações quase pela metade.

"Você tem risco de apreciação do dólar agora, sem dúvida", comenta. "Mas, como essa apreciação é muito vinculada a fluxos especulativos, você pode ter notícias ruins na Europa com uma aversão ao risco muito grande e todo esse dinheiro sair do país", comenta. "Quando você tem esses fluxos especulativos, eles podem entrar muito massivamente, mas pode sair brutalmente, como você viu em 2008." Segundo ele, "os fluxos especulativos causam problemas quando entram e quando saem".

O economista considera que, se o Brasil quiser ter um boom de investimento e crescer a taxas acima de 4,5% nos próximos anos vai precisar de mais recursos externos. "A questão é que o crédito doméstico é muito caro e você poderá ver nos próximos anos um crescimento forte de dívida externa privada", comenta. Segundo ele, "você tem de ter cuidado, pois se o real se apreciar muito e depois depreciar muito você pode tornar difícil para as empresas pagarem a dívida".

No entanto, de uma forma geral a Coface está "muito positiva" com relação ao risco-Brasil, disse Zlotowiski ao Valor. Em setembro, a seguradora elevou a nota brasileira de "A4" para "A3", em uma escala de sete letras que vai de "D", a nota mais baixa, até "A1". "Dada a experiência de pagamentos durante a crise e depois da crise, o que nós vemos no Brasil não é simplesmente que não temos choques nem volatilidade, mas também que as companhias estão mais fortes para lidar com a volatilidade", afirma.

Com a elevação da nota brasileira, a Coface quer não apenas ampliar a carteira, mas pretende crescer mais agressivamente no país neste ano, segundo Bart Pattyn, presidente e CEO da seguradora na América Latina. Em 2010, o total da exposição da empresa ao risco Brasil passou de US$ 1,65 bilhão a US$ 2,5 bilhões no seguro de crédito à exportação, um aumento de mais de 51%, enquanto o seguro no crédito entre empresas no mercado interno foi de R$ 14,2 bilhões a R$ 15,8 bilhões, um aumento de 11%.

"O mercado de seguro de crédito interno no Brasil não cresceu, mas nós crescemos", diz. A ideia neste ano é ampliar a carteira com mais força, de forma a ampliar o mercado todo. A Coface tem 55% de participação no mercado interno de seguro de crédito no Brasil e 68% do mercado de seguro à exportação (números de 2010 até novembro).

Segundo Pattyn, depois da redução drástica de limites em 2009, o ano passado foi "turbulento". No crédito à exportação, conta, muitas das empresas que estavam acostumadas a ter apólices com a Coface voltaram em busca de cobertura e essa parte do negócio cresceu, com o total de prêmios chegando a US$ 19,4 bilhões, um aumento de 33,75% na comparação com 2009.

Mas, no mercado de seguro doméstico algumas das grandes apólices não foram renovadas. Os prêmios foram de R$ 55 milhões, um aumento de apenas 1% na comparação com 2009. É uma das consequências do corte imposto pelas seguradoras durante a crise de 2009: muita das empresas clientes viram seus limites secarem no momento em que mais precisavam deles, em uma das piores crises de crédito da história. E as empresas brasileiras ficaram descrentes no produto.

"No início de 2010, muitas empresas ficaram insatisfeitas com o nosso serviço ou com o nosso preço, que subiu", conta. Mas, mais para o final de 2010, a situação começou a se normalizar. Neste ano, as perspectivas são mais positivas, diz Pattyn. "Vamos ampliar nossa exposição em toda a América Latina, com exceção da Venezuela, vamos contratar, não há restrição no crédito", afirma. "E as nossas pessoas da área comercial estão todas dedicadas a emitir apólices adicionais", comenta.

Segundo Pattyn, a "nossa prioridade durante 2011, que já foi definida no final do ano passado, é trazer de volta satisfação para nossos clientes existentes, ampliando os limites desses clientes e melhorando o preço na medida do possível, pois durante a crise alguns ficaram desapontados". A segunda prioridade da empresa é ampliar mais sua fatia de mercado e fazer o mercado crescer de novo, afirma.

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