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Plano de previdência privada versus faça você mesmo

Fonte: Valor Econômico

Mauro Calil

É muito fácil vender previdência privada no Brasil. Há uma série de decisões públicas que favorece o vendedor. Durante os cursos e palestras, constato claramente essa facilidade. Sempre que o tema surge, faço duas observações bem simples:

1) Quem deseja pagar menos IR, por favor, levante a mão. E todos levantam as mãos

2) Quem tem certeza de que terá uma aposentadoria digna contando apenas com o sistema público, por favor, levante a mão. E ninguém a levanta.

É justamente na voracidade fiscal e na lacuna governamental que atuam os fundos de previdência privada. A vontade de matar dois coelhos com uma cajadada é tão forte que o preço pago pelo cajado acaba sendo menosprezado.

Para ter o benefício fiscal, o plano de previdência precisa ser o chamado PGBL, no qual o IR é calculado sobre todo o patrimônio e não somente sobre o rendimento. O PGBL permite abater 12% da renda anual tributável no cálculo do IR. Ou seja, uma pessoa que recebe R$ 100 mil por ano deverá pagar 27,5% de IR (retidos na fonte). Caso tenha um PGBL, poderá investir 12% da renda total recebida no ano (neste caso, R$ 12 mil) no fundo e, deste valor, poderá restituir R$ 3.300,00 do IR retido (27,5% dos 12 mil).

No primeiro momento, economizar R$ 3.300,00 pode parecer um bom negócio. No entanto, para avaliar mais precisamente, é preciso considerar o cenário em um prazo mais longo. Vamos considera o prazo de 10 anos, com os R$ 12 mil investidos em um plano de previdência que renda 12% ao ano. É preciso considerar as taxas também. No nosso exemplo, a taxa de carregamento será de 2,5%, a taxa de administração de 2,5% (que calculo no início do período). Com o regime regressivo de IR, no resgate a alíquota será de 10%.

Eis as contas: investimento (R$ 12 mil), taxa de carregamento (R$ -300,00), investimento efetivo (R$ 11.700,00), taxa de administração dos 10 anos (R$ -4.486,57). Temos, então, o valor bruto já descontada a taxa de administração (R$ 25.188,03). O IR, após 10 anos, será de R$ -2.518,80 (portanto, o IR de fato economizado foi de R$ 781,20). Com isso, o valor líquido final será de R$ 22.669,23.

Se, em vez de investir na previdência privada, o investidor optar por aplicar o mesmo valor (R$ 12 mil) em um fundo de renda fixa com a mesma taxa de administração (2,5%) e mesmo rendimento bruto (12%), o IR seria de 15% somente sobre o rendimento. Obviamente, a inflação para um único período é a mesma.

Assim, teríamos o seguinte cenário: investimento (R$ 12 mil) taxa dos 10 anos (R$ - 4.601,62), valor bruto já descontada a taxa (R$ 25,833,88) e IR no fim de 10 anos (R$ - 2.075,08). O valor líquido final seria de R$ 23.758,80.

Ao fim de 10 anos, o benefício fiscal de 5 pontos percentuais, bem como o IR compensado, seria minimizado. Outro ponto que merece destaque é que o fundo de renda fixa poderia gerar uma renda vitalícia de R$ 237,58. Muitos planos de previdência não oferecerem renda vitalícia. Ou não permitem passar o patrimônio para os herdeiros.

Mas como melhorar a rentabilidade do investimento? Uma forma é economizar a taxa de administração do fundo administrando diretamente a previdência por meio da aplicação direta em títulos do tesouro (Tesouro Direto) e em ações de empresas pagadoras de dividendos (setor elétrico, por exemplo), mantendo a rentabilidade de 12% ao ano (80% em TD e 20% setor elétrico pode gerar essa rentabilidade).

Sem a taxa de administração, teríamos: investimento (R$ 12 mil), taxa dos 10 anos (zero), valor bruto (R$ 33.276,95), IR ao final de 10 anos (R$ - 4.99,42). Com os custos de R$ 1.320 (1% de corretagem na compra dos títulos e R$ 10,00 ao mês de custódia). Com isso, o valor líquido final de R$ 26.965,40

Ou seja, ao final de 10 anos, são capitalizados R$ 4.296,17 a mais que o plano de previdência comprado. E esse é o custo de oportunidade do investidor. Ao contratar um plano, haverá a conveniência, mas deixará de ganhar R$ 4.296,17 e uma renda vitalícia de 269,65 ao mês. Tudo isso a partir de R$ 12 mil. Se fossem R$ 120 mil, bastaria multiplicar todos os números por 10, tendo, ao final, R$ 2.696,50 ao mês de renda com apenas 10 anos de aplicação. Para R$ 60 mil, é só multiplicar por cinco. E assim por diante.

Lembro também que para turbinar a aposentadoria é importante economizar nas taxas de administração e carregamento, fazer aportes mensais regulares (o ideal é 10% da renda líquida). E quanto mais tempo melhor. Porém, 10 anos é um prazo já bastante razoável para começar a pensar no assunto.

Mauro Calil é professor, educador financeiro e fundador do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil&Calil  E-mail mauro@calilecalil.com.br

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