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Mesmo sem regulamentação, microsseguro avança

-Definição do marco regulatório seria bem vinda para reduzir custos operacionais e aumentar a massa segurada. Mas, enquanto aguardam, algumas seguradoras já encontraram maneiras criativas de oferecer produtos inovadores nessa área.

por Márcia Alves***

A espera pela regulamentação do microsseguro tem gerado grande expectativa entre os agentes do setor de seguros. Espera-se que a aprovação de um marco regulatório possa definir a participação do governo nesse seguro, contemplando medidas de incentivos fiscais às seguradoras que investirem na comercialização. Outra definição aguardada é a simplificação dos processos de subscrição e regulação de sinistros, que possam eliminar algumas exigências impostas aos seguros tradicionais, como os extensos clausulados e a necessidade assinatura do segurado.

“Os incentivos fiscais são importantes, mas não primordiais neste momento. O mais importante agora é a redução do custo operacional”, disse o diretor da Bradesco Seguros, Eugênio Velasques, durante o “II Workshop Agência Seg News Microsseguros – Experiências e Expectativas: Cases de Produtos e Perspectivas para 2011”, realizado na última sexta-feira, 28 de janeiro, no hotel Tivoli São Paulo Mofarrej, em São Paulo (SP).

Diante da experiência bem sucedida da Bradesco Seguros com a venda do “Primeira Proteção Bradesco”, um produto que se encaixa no conceito de microsseguro, em virtude do preço baixo e da oferta direcionada ao público de baixa renda, Velasques acredita que a simplificação do processo de contratação, por meio da regulamentação, poderia aumentar significativamente a massa de segurados. “Quanto maior a massa de segurados, menor será o custo de processamento em virtude do ganho em escala, e maior será a rentabilidade, já que a pulverização do risco reduzirá a sinistralidade”, raciocina.

Com presença confirmada no evento, o deputado federal Adilson Soares (PR-RJ), autor do Projeto de Lei 3.266/08, que trata do microsseguro, não compareceu em virtude de problemas de saúde, segundos os organizadores. Mas a data de regulamentação do projeto, uma questão que poderia ser respondida pelo deputado, foi alvo de discussões no evento. Alguns especialistas, como o presidente do CVG-SP, Osmar Bertacini, não acreditam que a apreciação do projeto na Câmara dos Deputados seja concluída ainda neste ano.

Mas, em entrevista exclusiva à reportagem Midiaseg e Portal Segs, Eugênio Velasques manifestou sua esperança de ver o marco regulatório definido antes do final de 2011. Segundo ele, o país sediará em novembro deste ano, pela primeira vez, um evento internacional sobre microsseguro, e até lá, mediante a pressão do mercado de seguros nacional e de organismos internacionais, como o Banco Mundial, espera-se que a lei seja regulamentada.

Osmar Bertacini, que participou do evento como mediador em um dos painéis, enfatizou as condições do setor para atuar no microsseguro, independentemente da regulamentação. “Defendo que o setor é altamente suficientemente e capacitado para produzir normas específicas para o microsseguro, no âmbito dos órgãos que regulam e fiscalizam o mercado, para simplificar o processo de operacionalização. Portanto, não há necessidade de esperar a regulamentação para o microsseguro deslanchar”, disse.

Tecnologia disponível

Enquanto aguarda a regulamentação do microsseguro, o setor tem investido em produtos criativos e maneiras inovadoras de oferecer o produto. A Bradesco Seguros, por exemplo, anunciou que está prestes a implantar uma forma inédita de venda de microsseguros em bancas de jornal. A seguradora não forneceu detalhes do projeto, mas adiantou que a proposta partiu de um corretor de seguros.

Outra empresa que tem se destacado nessa área é a Classic Corretora, com a venda de seguros massificados por meio de canais de varejo, cartões de crédito e cartões de afinidade. Embora os produtos da corretora não se enquadrem no conceito de microsseguros, já que não são oferecidos exclusivamente para o público de baixa renda, o valor reduzido do prêmio tem atraído grande parte de segurados dessa faixa. O seguro desemprego, por exemplo, um dos mais vendidos, pode ser adquirido em supermercados e lojas de departamento por um valor de cerca de R$ 4, com cobertura de aproximadamente R$ 500.

As novas tecnologias também são vistas como pelas empresas de seguros como meio de viabilizar a oferta de microsseguros. Wladimir Chinchio, diretor da Vayon Insurance, demonstrou durante o workshop como é possível utilizar o celular para a venda de seguros. Com o número de celular e o CPF de uma pessoa da plateia, ele enviou uma mensagem de texto com a proposta de seguros.

Em seguida a pessoa escolheu uma das opções de seguros e a informação seguiu, hipoteticamente, à plataforma on-line de uma seguradora, que completou os dados da proposta, como endereço, data de nascimento e outros, por meio do CPF do segurado. O custo dessa venda, segundo Chinchio, não ultrapassa R$ 0,50 (parte gasto com o envio da mensagem e parte com a complementação de dados).

Concorrência no microsseguro

Ronald Kaufmann, diretor da resseguradora Scor Re, observou que apesar da falta de regulamentação, o setor de seguros avançou no campo do microsseguro. Um dos passos mais importantes, a seu ver, foi a definição dos conceitos de microsseguro e seguro popular. “Pode parecer pouco, mas a conceituação é muito importante para os agentes que irão atuar nesses segmentos adequarem suas estratégias”, disse. Entre esses agentes, ele apontou as seguradoras, as seguradoras especializadas em microsseguro, as cooperativas e mutualistas, ONGs e o Estado.

Kaufmann ressaltou que os resseguradores instalados no país poderão ajudar na operacionalização do microsseguro, oferecendo seus conhecimentos em produtos e na capacitação de profissionais, além de recursos financeiros. Ele ainda comentou sobre a atuação da Bradesco Seguros no microsseguro, destacando que a seguradora “teve a visão perfeita de estar presente em todos os mercados, mesmo aqueles com margem pequena”.

O diretor da Bradesco, Eugênio Velasques, atribui essa visão ao “DNA” do grupo, cujo banco sempre focou seus negócios em públicos de massa. “Algumas seguradoras já divulgaram que não desejam atuar em qualquer tipo massa, uma distinção que a Bradesco não faz, porque está acostumada, por vocação, a um tipo de público que não tem CPF, assinatura e impressão digital”, informou.

Entretanto, a seguradora se prepara para enfrentar a concorrência com outras empresas que lideram nesse segmento fora do país, caso da Allianz e da Zurich. “Ambas apresentam bons resultados no microsseguro em outros países com condições mais adversas que o Brasil”, disse. Para Velasques, além do Bradesco, o Banco do Brasil e a Caixa, outros dois bancos que atuam com massas, podem oferecer concorrência se decidirem atuar no microsseguro.

Público alvo

Mas, o diretor da Bradesco advertiu que para atuar com esse público é necessário conhecê-lo bem, tanto que a seguradora tem investido maciçamente em pesquisas. A mais recente, que foi apresentada no workshop, traz um perfil do público alvo do microsseguro. De acordo com a pesquisa, mais de 7,5 milhões de famílias ingressaram na Classe C, entre 2003 e 2009, cujo potencial de consumo, somando as classes D e E, supera os R$ 260 bilhões. Grande parte (31%) não chegou a completar o ensino fundamental, sendo o percentual ainda maior nas classes D e E, mas a maioria é conectada ao mundo global, tanto que 87% da base da pirâmide participam das redes sociais.


Outras conclusões da pesquisa revelam que esse é um mercado que valoriza a qualidade dos produtos; procuram por boas marcas; tem poder e necessidades de consumo; acesso ao crédito; tem posições flexíveis diante de quaisquer adversidades; e acredita que o futuro será melhor.

Simplificação do seguro de vida

Com ou sem regulamentação, a verdade é que o setor de seguros já está se movimentando para viabilizar a comercialização dos microsseguros. Uma das iniciativas mais recentes partiu da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), que está preparando um projeto para ser enviado à Susep, sugerindo a simplificação da venda de seguros de pessoas de baixo valor de prêmio. “O ato regulatório, conforme a proposta, poderá ser flexibilizado para que os custos de administração e processamento sejam mais baratos”, disse Velasques.

Ele adiantou que o principal alvo da proposta será o seguro de vida, que, na sua avaliação, “apresenta grande apelo ao público de baixa renda”. Uma das sugestões da Fenaprevi é oferecer ao segurado a opção de obter o certificado do seguro por meio da Internet. “Mesmo aqueles que não têm computador em casa, poderão ir à lan house do bairro e baixar o certificado, reduzindo o custo do envio pelas seguradoras”, disse Velasques.

***IMPORTANTE: É permitido a reprodução do conteúdo deste artigo desde que, respeite-se na íntegra a Fonte: Autora: Márcia Alves - midiaseg.com.br e segs.com.br - www.midiaseg.com.br e www.segs.com.br -

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