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Preço de seguro de grande risco cai 10%

Fonte: Valor Econômico

Os preços dos seguros que cobrem os grandes riscos, como as obras de aeroportos, portos, rodovias e propriedades industriais, estão em queda no Brasil. Quase três anos após a crise de 2008, quando os preços dessas apólices tiveram alta de até 20% em função da falta de capacidade das seguradoras em atender a demanda, o setor vive hoje um momento conhecido no jargão do mercado como "soft", com preços em baixa e excesso de oferta. Os grandes riscos movimentam em prêmios no país cerca de R$ 9 bilhões a cada ano.

Os preços em 2010 tiveram queda no país de 10%, em média, de acordo com levantamento feito pelo Valor em grandes seguradoras que atuam no segmento. E nada indica uma mudança no cenário em 2011, já que as empresas estão capitalizadas e com mais capacidade de absorver riscos. As razões da redução de preços são tanto o cenário internacional, com a ausência de grandes catástrofes com impacto no mercado, como o doméstico, após a entrada de mais de 90 resseguradoras no país em razão da quebra do monopólio do IRB Brasil Re em 2008.

As grandes seguradoras brasileiras e estrangeiras presentes no país reconhecem que o momento exige melhoria da qualidade dos serviços e de atendimento. "O aumento do número de resseguradoras no Brasil tornou os preços mais competitivos e tem obrigado as empresas a também se tornarem mais competentes, a melhorar a prestação de serviços", afirma Alexandre Malucelli, vice-presidente da J.Malucelli Seguradora, líder no país em seguro garantia, que cobre os riscos de uma obra não ser concluída.

Segundo Malucelli, apesar de toda a movimentação do seguro garantia no ano passado, por conta dos projetos de infraestrutura, a receita em prêmios ficou quase estável em relação a 2009, ou seja, na faixa do R$ 700 milhões, conforme dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). "A expectativa do mercado de seguro garantia era fechar com algo em torno de R$ 1 bilhão, mas o número ficou longe disso", afirma. Malucelli lembra que a abertura do mercado ressegurador a partir de 2008 levou inúmeras empresas a se interessarem pelo Brasil. "Com mais oferta e mais capacidade, os preços caíram."

André Gregori, que dirige a Fator Seguradora, especializada em seguro garantia, diz que 2009 foi um ponto fora da curva, em que os prêmios foram inflados pelos seguros das usinas do rio Madeira. "Se esses prêmios forem excluídos da conta de 2009, o crescimento em 2010 foi da ordem de 30%", raciocina. Para ele, essa taxa de crescimento deve se manter nos próximos anos.

Na Itaú Seguros, que detém cerca de 16% do market share de grandes riscos no país, a aposta é de pouca variação nos preços. "Com a situação internacional mais ou menos sob controle e o quadro favorável do Brasil, a capacidade do mercado voltou. E com isso o preço está retornando aos patamares que tínhamos em 2008", diz Antônio Trindade, diretor executivo de seguros para pessoas jurídicas da Itaú. O faturamento em prêmios da empresa em 2010 praticamente não se alterou em relação ao ano anterior, cerca de R$ 1,3 bilhão.

Para amenizar a queda de preços, diz Trindade, a alternativa da seguradora é contratar o resseguro, que é repassado nos mercados interno e internacional, também a um custo menor. "Se o meu cliente está pagando menos, eu, evidentemente, vou pagar menos para o ressegurador", afirma. Em geral, nesse tipo de contrato, o ressegurador fica com a parcela principal do risco. "Se o preço do meu cliente cai 15%, é porque o meu ressegurador está me dando esse benefício, caso contrário o contrato não fica em pé."

Outra vantagem desse mercado no Brasil, lembra Trindade, é o grande volume de negócios que vai surgir nos próximos anos, com os investimentos para a Copa do Mundo de futebol em 2014, Olimpíada, em 2016, e obras importantes de infraestrutura, principalmente em usinas de energia e em petróleo e gás. O maior número de projetos que demandarão seguros, pode, de alguma maneira, compensar a queda de preços.

Para manter a sua posição no mercado e crescer cerca de 20% em 2011, a Itaú tem como estratégia, além de participar de novos contratos, "manter as atuais carteiras", diz Trindade. A Itaú acredita que os clientes já conquistados vão trazer mais receita à seguradora, já que têm programas de investimentos planejados. "Mais do que ganhar novos negócios, quero manter os nossos clientes", afirma o diretor.

A J.Malucelli também aposta no potencial de grandes obras no Brasil para manter o crescimento em prêmios neste ano. Em 2010, apesar da estabilidade no faturamento do mercado de seguro garantia como um todo, com a baixa dos preços, a Malucelli conseguiu uma expansão de 35% nos prêmios, para R$ 296 milhões, segundo o vice-presidente. "Estamos há 16 anos focados nesse produto. Temos 200 pessoas que respiram seguro garantia 24 horas por dia." A empresa participou de um dos grupos de seguros que venceu a licitação da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e está na concorrência para segurar o trem-bala.

O comportamento dos preços não é, porém, uniforme. Há setores onde houve, inclusive, aumento nas cotações e outros com potencial de elevação nos novos contratos. É o caso, por exemplo, de transportes, cujas preços apresentaram alta de até 9% no ano passado devido ao aumento no roubo de cargas, um tipo de seguro importante no setor, conforme levantamento realizado pela corretora americana Marsh. Em petróleo, após o acidente no Golfo do México, que provocou por meses um grande derramamento de óleo, os preços tendem a ficar mais salgados em contratos semelhantes a serem realizados, lembra Trindade, da Itaú Seguros. O impacto foi pequeno nos valores do ano passado já que a British Petroleum, responsável pelo acidente, não tinha seguro para esse tipo de evento e foi obrigada a criar um fundo com recursos próprios para bancar as indenizações.

Outras catástrofes que poderiam influenciar nos preços do mercado em 2010, como o terremoto do Chile e as inundações da Austrália, além dos deslizamentos na região de serra, no Rio de Janeiro, também tiveram peso pequeno para as seguradoras. Na Austrália, a área afetada praticamente não atingiu regiões industriais; no Rio, os deslizamentos alcançaram áreas pobres, sem cobertura; e no Chile, o impacto no mercado de seguros foi pequeno.

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