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AIG ainda demora a voltar do abismo

Fonte: Valor Econômico

Empresa coloca à venda US$ 8,7 bi em ações, mas papéis já perderam 50% de seu valor no ano

Os US$ 8,7 bilhões em ações postos à venda pela American International Group (AIG) na semana passada deveriam sinalizar que a aflitiva viagem da empresa de volta da beira do colapso estava quase concluída. Mas, pelo indicador fornecido pelo desempenho recente das ações da seguradora, a empresa ainda tem muito a percorrer.

Entre janeiro e a semana passada, quando o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos reduziu sua participação na AIG de 92% para 77% numa oferta de US$ 29 por ação, os papéis perderam quase 50% de seu valor. As ações da seguradora fecharam em US$ 28,84 na sexta-feira.

No período de preparativos para a venda, uma série de tempestades violentas sacudiu o Centro-Oeste e o Sudeste dos EUA, e os investidores ficaram apreensivos com o possível impacto desses desastres naturais sobre os lucros. Durante a turnê de divulgação que precedeu a venda, executivos da AIG, altos funcionários do Departamento do Tesouro e seus respectivos dirigentes tentaram conquistar novos investidores com a arrojada reestruturação promovida pela empresa, mas depois reduziram a magnitude da venda diante da pouca homogeneidade da demanda. Algumas instituições concluíram que a meta da empresa de retornos sobre o capital era otimista demais, outros se preocuparam com a incerteza na esfera reguladora.

Em uma das muitas ironias geradas pela crise, o secretário do Tesouro dos EUA, Tim Geithner, encabeçará um processo, ainda este ano, destinado a classificar algumas empresas financeiras, inclusive a AIG, como sistemicamente importantes, submetendo-as a exigências de capitalização mais elevadas. Isso vai atravancar o crescimento de uma empresa ainda em grande medida controlada pelo governo.

No entanto, a AIG está um passo mais perto de reconquistar sua independência, com a esperança de que, com a retirada do governo, a atenção dos investidores voltará à sua atividade principal de seguros que ajudou no passado a tornar a AIG uma das maiores instituições financeiras mundiais. "O dia de hoje constitui o mais recente marco histórico de peso na volta da AIG", disse Bob Benmosche, o principal executivo da empresa, na última sexta-feira, ao anunciar o encerramento de sua oferta de 300 milhões de ações. O Departamento do Tesouro - que vendeu a um nível que embute pequeno lucro sobre o investimento de US$ 47,5 bilhões em dinheiro na AIG, parte de uma operação de socorro financeiro de US$ 180 bilhões - agora espera uma venda de ações maior, a um preço mais elevado, para o último trimestre deste ano.

"Eles precisam gerar algum retorno", disse Paul Newsome, analista da Sandler O'Neill Partners, que tem recomendação de "comprar" para as ações da AIG. Sob a direção de Benmosche, a AIG alienou, comercializou como unidade independente ou encerrou subsidiárias que vão desde a Alico, a AIG Star e a AIG Edison Life até a American General Finance e a AIA. Mesmo assim, a AIG continuou sendo uma das principais forças dos mercados de seguros, principalmente por meio de sua divisão mundial de apólices de imóveis e contra acidentes, atualmente conhecida como Chartis.

A vantagem competitiva da Chartis gerou reiteradas acusações nos mercados dos EUA, da zona do euro e de Londres de que o grupo vem usando, de forma desleal, o respaldo de seu governo para fixar preços artificialmente baixos por suas apólices e manter os clientes. A seguradora conservou a mesma participação de mercado em muitas áreas apesar de ter várias equipes de seguradoras aliciadas por empresas concorrentes nos últimos anos, segundo corretoras e analistas.

A Chubb e a Liberty Mutual encabeçaram as críticas nos EUA, enquanto uma série de empresas do mercado do Lloyd's de Londres, entre as quais a Hiscox, censuraram a empresa no passado.

Para alguns participantes do mercado, o fortalecimento das reservas da AIG em mais de US$ 4 bilhões foi sinal de que o feitiço virou contra o feiticeiro. A AIG contestou as acusações, observando que as reservas adicionais eram necessárias para cobrir problemas históricos das atividades de seguros contra acidentes. Em 2009, o Departamento de Auditoria e Conformidade do governo dos EUA disse não ter encontrado quaisquer provas de fixação de preços artificialmente baixos por parte da AIG.

Mesmo assim, o setor está passando por um período difícil. A AIG registrou uma renda operacional de US$ 2 bilhões durante o período, resultado que se harmoniza com sua meta declarada de registrar um lucro entre US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões este ano. A empresa registrou um impacto de US$ 1,7 bilhão, juntamente com o restante do setor, com o terremoto devastador que sacudiu o Japão.

Segundo o analista Gregory Locraft, do Morgan Stanley, o rigor do clima nos EUA está reforçando os prejuízos com catástrofes naturais assumidos mundialmente pelo setor no primeiro trimestre.

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