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Caixa Geral vende ativos para se capitalizar

Fonte: Valor Econômico

Operações de seguro e hospitalar devem ser vendidas primeiro para suprir liquidez e aumentar solvência

Aline Lima

A falta de liquidez que assola o mercado bancário europeu parece ganhar contornos ainda mais expressivos na Caixa Geral de Depósitos (CGD), maior banco de Portugal. Por se tratar de uma estatal, a instituição financeira tem por principal objetivo "assegurar o financiamento da economia", como lembra seu presidente, Fernando Faria de Oliveira, em entrevista ao Valor concedida por e-mail - exigência do executivo. A tarefa, porém, não tem sido fácil.

Para se capitalizar, a CGD coloca agora em prática um programa de "racionalização" da estrutura do grupo, que prevê a venda de diversos ativos, como as participações acionárias que detém na Portugal Telecom (PT) e na Galp Energia. A fatia de 9,6% do capital da cimenteira Cimpor, que tem também como sócios os grupos brasileiros Camargo Corrêa e o Votorantim, não foi mencionada.

Faria de Oliveira diz que as operações do grupo segurador e hospitalar devem ser as primeiras a serem vendidas, até o fim do primeiro semestre de 2012. Na última quinta-feira, a imprensa portuguesa noticiou que essas operações estariam sendo negociadas para o próprio governo por EUR 1,5 bilhão, e que a venda poderia sair ainda este ano. Questionado sobre tais rumores, Faria de Oliveira não respondeu.

Outras perguntas também ficaram sem respostas, como as expectativas de crescimento da carteira de crédito do banco neste ano e de retorno aos níveis de rentabilidade exibidos antes da primeira crise financeira, em 2008, de aproximadamente 20%. Em junho, a rentabilidade bruta sobre o capital próprio da CGD era de 6,1%. O lucro líquido totalizou EUR91,4 milhões no primeiro semestre, redução de 13,2% em relação a igual período de 2010. Apesar desses números, Faria de Oliveira avalia o desempenho geral do banco como positivo e destaca os financiamentos a empresas, que subiu 6,2%. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Como andam as operações da Caixa Geral de Depósitos, a evolução do crédito e dos depósitos?

Faria de Oliveira : A Caixa Geral de Depósitos tem três missões fundamentais: assegurar o financiamento da economia; contribuir para a melhoria da competitividade da economia e para a internacionalização das empresas; contribuir para a estabilidade do sistema financeiro. Apesar da conjuntura econômica particularmente exigente, nomeadamente ao nível do acesso à liquidez, o desempenho da CGD no primeiro semestre de 2011 foi bem positivo. O crédito a clientes registou, em relação a igual período do ano anterior, um aumento de 0,8%, com o crédito a empresas a crescer (em termos homólogos) 6,2%. No que respeita ao saldo total de recursos de clientes (depósitos), a progressão em termos homólogos foi de 9,6%. O rácio de transformação medida pelo crédito líquido relativamente aos recursos de clientes situou-se em 116%.

Valor: Quais ativos da CGD deverão ser vendidos?

Faria de Oliveira : O plano de desalavancagem em curso prevê a alienação de alguns ativos, não estando ainda definidos nem modelos nem prazos para a sua concretização. Destacam-se os seguintes: Caixa Seguros, que engloba nomeadamente a C ompanhia de Seguros Fidelidade Mundial e a Companhia de Seguros Império Bonança, que detém uma quota de mercado superior a 35%; Grupo Hospitalar HPP (Hospitais Privados de Portugal), com unidades no Porto, Sangalhos, Lisboa, Cascais, Faro e Lagos; as ações detidas nalgumas das principais empresas portuguesas, como a PT [Portugal Telecom], a ZON, a Galp, a Brisa, a EDP, a REN e o Millennium BCP.

Valor: Existe um cronograma para a venda desses ativos?

Faria de Oliveira : Ainda não está definido e vai depender da evolução dos mercados. Mas admito que as operações, quer do grupo hospitalar, quer do segurador, possam ser concretizadas até o fim do primeiro semestre de 2012.

Valor: Quanto espera arrecadar com as vendas?

Faria de Oliveira : Um valor significativo, que o mercado ditará e que constituirá um bom contributo para o aumento do core tier 1 [capital de nível 1, o principal de um banco] da CGD, que deverá ser superior a 9% em 2011 e a 10% em 2012.

Valor: Como o dinheiro será usado?

Faria de Oliveira : Os objetivos principais são diminuir a necessidade de recurso ao Banco Central Europeu para suprir necessidades de liquidez, melhorar o índice "core tier 1" e contribuir para os resultados.

Valor: Há possibilidade de privatização da CGD?

Faria de Oliveira : Não se prevê a privatização da CGD, nem no programa do governo, nem no acordo celebrado com o FMI, o BCE e a Comissão Europeia.

Valor: Já são sentidos os impactos do rebaixamento da nota de risco pela Moody's?

Faria de Oliveira : A descida do rating da CGD é uma consequência direta do "downgrade" do rating da República e da percepção dos mercados sobre o desempenho da economia portuguesa. De fato, se olhássemos exclusivamente para o comportamento da CGD, não se justificaria o rebaixamento da nota de risco da Moody's. No período da crise internacional e, mais recentemente, da crise da dívida soberana de 2008 a 2010, a CGD aumentou a sua situação líquida em 43%, melhorou os seus índices de capital (alta de 2,1 pontos percentuais no tier 1, para 8,9%, e de 2,2 pontos percentuais) no índice de solvência, para 12,3% em 31 de dezembro de 2010), manteve um crescimento importante na concessão de crédito (21% no período) e nos depósitos (alta de 13%). O impacto maior da diminuição do rating faz-se sentir no domínio da rentabilidade e, naturalmente, no valor dos colaterais.

Valor: Está mais caro captar? Qual a tendência?

Faria de Oliveira : Tem-se registado um aumento progressivo (nos dois últimos meses a situação está mais estabilizada, na remuneração dos depósitos).

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