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Bradesco faz reserva para a crise

Fonte: Valor Econômico

Banco guarda R$ 1 bilhão no trimestre para se precaver dos efeitos da turbulência financeira internacional

Carolina Mandl

O Bradesco decidiu separar R$ 1 bilhão para enfrentar os efeitos da crise econômica internacional no Brasil.

O colchão poderá servir nos próximos meses para amortecer o aumento da inadimplência dos consumidores e das empresas que tomam crédito no banco.

"Esse reforço adicional visa, se houver, enfrentar uma deterioração do cenário global, apesar de esse não ser o cenário com o qual trabalhamos", disse Domingos Figueiredo de Abreu, vice-presidente do Bradesco, durante teleconferência com jornalistas ontem para divulgar os resultados do terceiro trimestre.

Ao todo, o Bradesco tem agora R$ 4 bilhões em provisões adicionais, aquelas que estão acima do volume mínimo exigido pelo Banco Central.

O banco registrou um lucro líquido de R$ 2,81 bilhões de julho a setembro deste ano, com um crescimento de 11,4% na comparação com o mesmo trimestre de 2010. A precaução com os problemas na Europa, portanto, teve um peso importante no resultado.

A provisão extra poderia ter feito o lucro do banco encolher significativamente, mas essa perda foi mais do que compensada por uma reversão de R$ 2,2 bilhões que estavam reservados no balanço para "riscos fiscais".

Além disso, o banco teve um ganho com imposto de renda de R$ 481,6 milhões no trimestre, enquanto no mesmo período de 2010 o Bradesco pagou ao Fisco R$ 1,5 bilhão.

"Os resultados vieram em linha, mas confusos com todas as reversões de provisões", escreveram os analistas do Goldman Sachs em relatório divulgado ontem.

Apesar da precaução com a crise internacional, a taxa de inadimplência geral do Bradesco encerrou setembro em 3,8%, mesmo patamar de um ano atrás. Na comparação com junho, há um ligeiro aumento, de 0,1 ponto percentual.

Entretanto, algumas carteiras mostraram um volume de atraso maior. É o caso, por exemplo, das pessoas físicas, com 6%, maior que os 5,7% do trimestre anterior.

Os maiores atrasos se deveram basicamente às operações de cartões de crédito, segundo números apresentados pelo Bradesco. Ao contabilizar apenas as pessoas sem as moedas de plástico, a taxa de inadimplência entre as pessoas físicas cresce apenas 1 ponto percentual, para 4,7%.

Abreu diz não acreditar, porém, que essa inadimplência maior esteja relacionada com as regras do Banco Central que passaram a exigir um pagamento mínimo das faturas de 15% desde junho deste ano, sendo que antes esse percentual era de 10%. A partir de dezembro, esse percentual ainda subirá mais, para 20%.

"Não temos condições de saber. Houve uma mudança no sistema de captura da inadimplência para cerca de 70% da carteira. Não temos como saber como seria a inadimplência no sistema antigo", afirma o executivo.

Entre as micro, pequenas e médias empresas, os atrasos também cresceram ante junho 0,1 ponto percentual, para 3,7%. Mantiveram-se, porém, quando comparados com um ano atrás.

Para o resto do ano, Abreu diz que o Bradesco trabalha com um cenário de estabilidade e até de uma pequena redução da inadimplência, apesar de a instituição ter feito uma reserva especial para os atrasos de pagamento. "No fim do ano, com o 13º salário, as pessoas ficam com mais dinheiro. Mas é salutar fazer uma provisão neste momento", avalia.

A carteira de crédito do banco aumentou 22% em um ano, puxada principalmente pelas operações com empresas. Entre as pessoas físicas, os financiamentos aumentaram menos: 13,3%. A previsão do banco é encerrar 2011 com uma expansão de 15% a 19%.

O Bradesco elevou sua previsão de despesas operacionais, segundo comunicado divulgado pelo banco. Ao mesmo tempo, porém, o banco também subiu sua expectativa de receita com a prestação de serviços.

Até junho, a instituição previa que as despesas teriam uma expansão de 11% a 15%. Agora, o banco espera uma alta entre 15% e 18%. As maiores despesas estão principalmente relacionadas à expansão da rede de atendimento a clientes para a substituição das unidades implantadas dentro das agências dos Correios - o Banco Postal - e também à criação de uma estrutura para atender os funcionários públicos. Em maio, o Bradesco adquiriu o Berj (Banco do Estado do Rio de Janeiro), ganhando o direito de explorar a folha de pagamento de 450 mil servidores.

A operação de seguros do Bradesco apresentou lucro líquido de R$ 780 milhões no terceiro trimestre, equivalente a 27% do resultado do banco. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, o lucro recuou 2,5% e a receita (R$ 9,05 bilhões) caiu 6,3%. Na comparação com igual trimestre de 2010, porém, o lucro é 10,2% superior e o faturamento, 20,4% maior.

Segundo a seguradora, o recuo trimestral ocorreu por conta do "excepcional" crescimento de 42,1% da carteira de vida e previdência no segundo trimestre. Esta é a maior carteira da seguradora, com faturamento de R$ 4,7 bilhões no terceiro trimestre, avanço de 15% na comparação anual.

A receita da carteira de saúde (R$ 2,35 bilhões) avançou 22%, seguro de veículos e ramos elementares (R$ 1,04 bilhão) cresceu 10,7%, e capitalização (R$ 849 milhões) aumentou 30%, ante igual trimestre do ano passado.

As ações preferenciais do Bradesco encerraram o dia ontem cotadas a R$ 30,49, subindo 0,82%, abaixo dos 1,52% do Ibovespa. (Colaboraram Thais Folego e Filipe Pacheco)

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