Breaking News

O combate à violência no trânsito

Editorial do Correio Braziliense

É fato grave, e como tal merece reflexão abrangente, profunda: o trânsito do Distrito Federal está violento como nunca, expondo um retrocesso jamais visto nas poucas décadas de vida da capital. Desde 2003 não morria tanta gente em suas vias. Um ser padece a cada 18 horas, somando-se 360 apenas nos nove primeiros meses do ano. Nas BRs que cruzam o DF, o número de mortes subiu expressivos 36%, em relação a 2010. É importante ressaltar que o fenômeno não se restringe ao nosso quintal: o Brasil é o quinto país em número de mortes no trânsito, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, instituição vinculada à ONU. No geral, gastam-se, por ano, R$ 30 bilhões somente com a saúde (pública e particular) das vítimas.

E quais seriam as causas dessa estultice generalizada? De tudo, há um pouco. A imprudência, quiçá a falta de cautela de motoristas, por exemplo, é fator determinante no desenho diário dessa tragédia urbana. Mas há outro, crucial, definitivo: o papel do Estado. A gerência desse segmento é, e não importa ideologias ou conceitos de gestão governamental vigentes, dos governos. Não se pode, em qualquer hipótese, passá-la às mãos de terceiros. Assim, a falência do sistema de trânsito de uma localidade comprova, compulsoriamente, as falhas e omissões, a incompetência, enfim, de seus governantes. Hoje, a visão abacinada de nossas autoridades faz com que algumas delas, desavergonhadamente, na intenção de se protegerem, atribuam a fatores extemporâneos as barbaridades que presenciamos cotidianamente. Quem nunca se indignou ao ver um agente de trânsito, como representante legal do Estado, culpar o genérico "abuso do condutor" para justificar tragédias?

Essa ausência total de ordem nas vias brasilienses tem explicações que disfarce nenhum consegue esconder. Os métodos de formação do condutor, por exemplo, seriam risíveis, caso não resultassem em situações trágicas: na fase de treinamento, o motociclista nem sequer precisa mudar de velocidade, pois as motocicletas das autoescolas têm aceleração automática. Isso ajuda a justificar o fato de o número de mortes em acidentes de trânsito envolvendo motociclistas, em todas as regiões, ter aumentado 754% em apenas uma década. Por fim, outra constatação: em parte, o crescimento do número de carros ocorre porque governos negligenciam, seguidamente, outros meios de transporte, tornando as ruas lugar exclusivo dos pequenos veículos motorizados.

As ações positivas do Estado têm, enfim, o poder de mudar até a consciência social: quando alguém se coloca no lugar do outro, compreende que a rua é um espaço democrático, onde todos têm responsabilidade, direitos e deveres, respeitando-se mutuamente.

Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario