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Seguro de idoso pode custar até 1.362% a mais que o de jovem na compra de imóvel

Fonte: O Globo

RIO - O mercado imobiliário está aquecido, as pessoas têm mais dinheiro no bolso, mas a idade pode pesar contra na hora de fazer um financiamento para comprar imóvel. Isso porque existe no mercado uma espécie de "relógio biológico" do orçamento, que faz com que os empréstimos imobiliários fiquem mais caros ou até mesmo inviáveis, para os mutuários mais velhos.

Pelas regras atuais, na hora de conceder o empréstimo, as instituições financeiras utilizam uma fórmula que soma a idade dos clientes ao prazo de financiamento e o resultado não pode passar de 80 anos e seis meses. Assim uma pessoa com 65 anos, por exemplo, tem pouco mais de 15 anos para quitar seu financiamento, menos tempo que um candidato com 40 anos. E prazo mais curto implica prestação mais alta e necessidade de entrada maior.


Além disso, o seguro, obrigatório para todas as idades quem faz esse tipo de empréstimo, fica mais caro e pode representar até um quarto do valor da prestação para um candidato com 65 anos, deixando uma fatia menor do valor pago para abater na dívida. Já para um mutuário de 32 anos, esse mesmo seguro equivale a menos de 2% do valor da prestação.

É o que mostra simulação feita pelo economista e professor do Ibmec, Roberto Zentgraf, para um empréstimo na Caixa Econômica Federal, instituição que responde por 75% do crédito habitacional do país. No exemplo, o custo da compra de um imóvel de R$ 1 milhão, com taxa de juros de 11,50% ao ano, uma família com renda de R$ 20 mil arcaria com uma prestação de R$ 6 mil mensais. Assim, se o mutuário tivesse 32 anos (o prazo máximo de financiamento é de 30 anos), ele daria uma entrada de R$ 510.793,68 e teria de pagar mensalmente um seguro de R$ 104,20. Já se tivesse 72 anos, o mutuário teria apenas oito anos para quitar a dívida, e precisaria dar uma entrada 50% maior que o mais jovem (de R$ 774,825,00). O valor do seguro para o candidato idoso seria de R$ 1.523,53 por mês, valor que é 1.362% maior do que o pago pelo mais jovem.

Para Zentgraf, os idosos devem pensar duas vezes antes de comprar um imóvel. Ele não recomenda financiamentos feitos para deixar imóvel para filhos.

- No caso dos idosos, o valor da entrada é tão alto que o mutuário vai ter de comprar o apartamento pra ticamente à vista - afirmou.

Especialistas explicam que, a partir de 40 anos, o preço dos seguros como o de morte e invalidez crescem exponencialmente, porque estatisticamente a probabilidade de morte da pessoa que está contratando o seguro aumenta junto com a sua idade. O vice-presidente de Habitação da Sindicato da Habitação (Secovi-São Paulo), Flavio Prando, argumenta que as seguradoras cobram mais caros para cobrir o risco do financiamento não chegar ao fim, ou seja, se o mutuário morrer e a seguradora ter que quitar a dívida.

Existem dois tipos de seguro, o de imóveis, que independe da idade, e que cobre problemas com o imóvel, como chuvas ou incêndios, e outro de morte e invalidez, em que o risco é de que o comprador não consiga quitar o crédito. Nesse caso, a seguradora paga a dívida e os herdeiros ficam com o imóvel.

O presidente da Comissão de Seguro Habitacional, da Fenseg, Armando Petrillo Grasso, diz que a diferença no valor do seguro é justificada.

- Realmente existe uma diferença de taxa justificada pelo risco e que não é nenhuma aberração ao se olhar a tábua de mortalidade - afirma.

O seguro maior também não fere o Estatuto do Idoso. A gerente jurídica do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Maria Elisa Novaes, lembra que o estatuto já reserva uma cota de 3% de unidades habitacionais em programas públicos para idosos.

- Não existe desrespeito aos idosos, desde que esse percentual seja atendido - afirma.

Zentgraf alerta ainda que existem uma série de causas que podem afetar o pagamento das prestações, além da morte e de invalidez previstos, como o desemprego ou algum tipo de doença que possa deixar a pessoa com dificuldades de trabalhar, ainda que não fique totalmente incapacitada.

- O idoso vai perder qualidade de vida, pagar as prestações até o último dia de vida e ainda perder um fundo de reserva. E isso tudo ainda terá reajuste - acrescenta.

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