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O que era remédio virou problema

Fonte; Brasil Econômico

ENTREVISTA LEONARDO ANDRÉ PAIXÃO Presidente do IRB-Brasil Re

Mudança do mercado, saindo de monopólio, permitirá ao IRB ser mais seletivo com riscos

No comando do IRB-Brasil Re desde 2009, Leonardo André Paixão participa ativamente das discussões em torno do novo papel da empresa. Além das explicações sobre a desestatização da empresa, o executivo fala dos planos de internacionalização do IRB e dos desafios para fazer do IRB um dos grandes agentes do mercado ressegurador mundial.

O que muda no IRB, em termos societários, com o processo de desestatização?

Essa reestruturação parte de um IRB 50% da União Federal, mas com 100% das ações ordinárias. Portanto, a União com todas as ações com direito a voto. Vamos chegar a um IRB com União mais Banco do Brasil com 49%. Convertendo as ações privadas que são preferenciais (PN) em ordinárias (ON) e aumentando um pouco o capital do IRB, de modo que a União não entre e o lado privado entre um pouco, o IRB se torna uma empresa privada com 49% de participação do governo. Depois a União venderá uma participação ao Banco do Brasil.

Vai vender quanto?

Esta será uma decisão do Tesouro e do BB. Para nós, tanto faz. No fundo, o melhor é ter uma presença do BB que agregue expertise e uma participação do Tesouro.

O senhor considera esse desenho de privatização como o melhor?

Estou totalmente de acordo com esse desenho e já vinha trabalhando nisso antes mesmo de assumir o IRB, no Ministério da Fazenda. Acho que esse modelo vai unir o melhor dos dois lados. Nos dá uma agilidade boa de empresa privada, permitindo fazer uma gestão de compras e contratação de pessoal como empresa privada e, ao mesmo tempo, mantemos com algumas características que o IRB tem preservado ao longos desses 73 anos, como solidez, governança corporativa bastante desenvolvida e forte. Vai unir o melhor do lado público e do lado privado.

Como o IRB vem atuando depois da abertura do mercado ressegurador em 2007?

Quando o IRB foi criado em 1939 tinha o objetivo de desenvolver o mercado segurador e auxiliar o próprio desenvolvimento técnico dos profissionais de seguros e resseguros. Esse papel foi cumprido. Hoje, temos um mercado segurador bastante sólido, haja vista a crise de 2008, em que não tivemos nenhuma seguradora quebrada e nenhum problema com resseguro. No começo dos anos 2000 essa agenda inicial estava esgotada e a manutenção de um monopólio na prática estava começando a servir como entrave para o desenvolvimento do mercado de seguro. O que no início era uma remédio estava virando um problema.

E qual é o papel do IRB hoje, nesse novo mercado?

O papel do IRB será sempre o de uma grande empresa nacional num setor aberto e competitivo globalmente. Temos que manter uma presença relevante no mercado e ajudar na formação de preços para evitar que fiquemos dependentes de ciclos econômicos e decisões externas. Assim como a abertura do mercado bancário trouxe um monte de gente de fora sem abrir mão de um Banco do Brasil, por exemplo, aqui no campo do resseguro o raciocínio é o mesmo. A internacionalização é um dos projetos mais ousados do IRB.

Como vocês estão chegando ao mercado externo?

A internacionalização das nossas atividades é uma estratégia absolutamente necessária para o IRB mudar de fase. Deixar de ser o maior ressegurador brasileiro para se tornar um dos grandes players do mercado mundial. Estamos na fase de plantar bastante para depois começar a colher.

O que tem de concreto?

Já temos recebido propostas e aceito riscos de vários países da África e América Latina. Ainda somos uma empresa com 90% do faturamento vindo do Brasil. Nossa meta é que em alguns anos 50% da nossa receita venha do exterior.

Em quanto tempo?

Difícil dizer. Uma coisa é a projeção de crescimento orgânico, outra é adquirir alguém no meio do caminho.

Houve uma mudança nas políticas de aceitação de risco?

Sim. O IRB fez uma revisão nessas políticas. Saímos do desenho do monopólio. Antes o IRB pegava todos os contratos, os de bons e maus riscos. Pegava barato um risco ruim porque sabia que de alguma maneira ia pegar o risco bom também. A partir do momento em que você pode ser seletivo, pode também melhorar suas taxas. Reduzimos os preços do resseguro focados também numa melhor qualidade dos riscos. Passamos a ser mais seletivos e, em contrapartida, oferecer uma cobertura a um preço competitivo.

E o que aconteceu com a área comercial?

Como monopolista você não precisa visitar clientes, nem disputar negócio. Costumo falar que essa mudança no IRB é como transformar um grande cartório em uma empresa global. Fizemos uma reestruturação da área comercial, com uma política comercial e abordagem específica para cada cliente. D.O.

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