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Uso de teste genético em seguro ainda é discussão teórica no país

Fonte: CVG-SP

Desde que o Projeto Genoma Humano (PGH) concluiu, há quase dez anos, a identificação e o mapeamento dos genes que codificam as características humanas, detectando cerca de 350 tipos doenças relacionadas a alguns dos 3.141 genes humanos, que uma discussão de conteúdo ético se estabeleceu em todo o mundo. Algumas indagações sobre o teste genético persistem até hoje, como a que questiona o direito à privacidade e o real benefício de se saber antecipadamente as doenças que podem ou não se manifestar no futuro.

Na área de seguros, a questão ainda permanece no campo teórico. Há mais de dez anos, o médico Marco Antonio Gazel publicou um artigo sobre as implicações do uso de teste genético para subscrição de seguro de vida, apontando como obstáculos o alto custo do exame e o risco da anti-seleção por parte das seguradoras. Na época, ele previa que os aspectos atuariais, relacionados à interpretação dos exames com a finalidade de taxação, e de anti-seleção seriam solucionados na medida em que fossem implementados nas seguradoras. Mas, isso não ocorreu.

“Não houve avanços porque as seguradoras não se interessaram”, afirma Gazel. Ele explica que, em parte, o problema está na limitação dos exames genéticos. Um estudo recente da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, mostra que testes genéticos podem indicar a probabilidade de um indivíduo sofrer de algum mal, mas, como o processo de adoecimento depende de outros fatores, não é possível ter certeza do que acontecerá. “A seguradora não pode agravar o risco de pessoa com tendência a doença cardiológica, por exemplo, se o desenvolvimento dependerá do ambiente, alimentação e estilo de vida”, diz Gazel.

Outros países

Mas, se no mercado de seguros brasileiro o uso do teste genético não se concretizou, em outros países já se tornou prática corriqueira. Há cinco anos, a bióloga especialista em genética humana e ex-presidente da Centauro Seguradora, Ileana Maria Iglesias Teixeira Moura, abordou o assunto em palestra, apontando, já naquela época, o uso de testes genéticos por grandes seguradoras estrangeiras.

Uma delas, segundo Ileana, mantinha um departamento técnico com 250 funcionários dedicados a realizar cerca de 20 mil testes genéticos por ano. Uma resseguradora americana, também já utilizaca chip genético em sistema de subscrição de risco. “Eles pingam uma gota de sangue no aparelho e imediatamente o sistema detecta as enzimas e este resultado pode ser armazenado em sistemas para futura utilização na taxação do risco”, contou.

Preço do exame

Antes impeditivo, o preço do exame está caindo. Empresa americanas já oferecem um serviço que mapeia o DNA à procura de genes e mutações relacionadas a enfermidades por cerca de US$ 100. Basta que a pessoa adquira um kit, recolha células da boca e envie para o laboratório pelo correio. O resultado fica pronto em seis semanas. No Brasil, um laboratório de Minas Gerais promete identificar os riscos de se desenvolver 46 moléstias, de Alzheimer à obesidade, por R$ 4.990.

Entretanto, muitos especialistas condenam esse tipo de exame, por serem limitados. O risco de desenvolver determinada doença não é detectado com precisão pelo teste e, portanto, não servirá à prevenção. Caso o teste indique que uma mulher tenha 11% de chance de desenvolver um câncer de mama, por exemplo, não determinará sua ocorrência, já que toda mulher tem 10% de risco de contrair essa doença.

Para a psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Eliane Schwab, às vezes é preferível nem saber das probabilidades de desenvolver certa doença. “Com uma doença genética a pessoa pode ficar desesperada e depressiva. Muitas vezes é melhor viver sem saber que tem chances de desenvolver certa doença”, afirma.

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