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O novo cálculo da previdência privada

Fonte: IstoÉ Dinheiro

Queda da rentabilidade das aplicações força empresas a ampliar a base de clientes.

Por Fernando TEIXEIRA

A meta das empresas de previdência privada é dobrar o patrimônio administrado, atualmente em R$ 500 bilhões, para R$ 1 trilhão até 2019. Para que isso ocorra, no entanto, é preciso vencer um obstáculo principal: a queda da rentabilidade das aplicações, que desacelera o crescimento dos ativos. Em 2011, a rentabilidade média das aplicações foi de 19,9%, a menor dos últimos dez anos, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Outra ameaça é a concorrência de aplicações populares como as cadernetas de poupança, que, mesmo com as mudanças em estudo, podem atrair mais investidores caso os juros continuem em queda.

Augusto Braúna Pinheiro, da Brasilprev: planos a partir de R$ 25.

Nesse cenário, a saída para os fundos é refazer as contas e ir à luta, à caça de novos clientes. Essa é a estratégia da Brasilprev, braço do Banco do Brasil (BB) e líder de mercado em faturamento. Seu objetivo é aumentar os recursos administrados dos atuais R$ 50 bilhões para R$ 60 bilhões até o fim do ano. Para isso, a ordem é seduzir alguns dos 50 milhões de correntistas do BB. “A Brasilprev atende 1,2 milhão de clientes e basta olhar para o BB para ver que há um grande potencial de crescimento”, diz Augusto Braúna Pinheiro, diretor-financeiro da Brasilprev. O alvo prioritário são os clientes de menor renda, das classes C e D.

“Muitos deles estão pensando em suas aposentadorias ou nos estudos dos filhos”, diz Pinheiro. Para capturar essas poupanças, a Brasilprev está preparando produtos populares, com aplicações a partir de R$ 25 por mês, que devem estar na rede nos próximos meses. Mirar o varejo não será uma exclusividade da Brasilprev. Novata no negócio de previdência privada, com um patrimônio de R$ 300 milhões, a empresa de origem suíça Zurich Seguros planeja ganhar mercado conquistando muitos clientes com pouco dinheiro. “Vamos distribuir nossos produtos em algumas redes bancárias, como Santander e Mercantil do Brasil”, diz Richard Vinhosa, CEO de Vida & Previdência da Zurich.

Richard Vinhosa, ceo da Zurich: "O mercado vai precisar comprar ações"

Tônica semelhante é encontrada na Mapfre. De acordo com Eduardo Freitas, diretor-geral de previdência e saúde da seguradora espanhola, a meta é passar de R$ 1,8 bilhão para R$ 2,2 bilhões em recursos administrados até dezembro. “Queremos ampliar em quase 30% nossa base de clientes, dos atuais 35 mil para 45 mil”, diz Freitas. O súbito apetite pela captação de clientes vem sendo estimulado por uma redução sistemática na rentabilidade das aplicações do setor, em queda acentuada nos últimos três anos (observe o gráfico). A baixa dos juros desidratou o ganho das aplicações de renda fixa, e deve obrigar as empresas de previdência privada a fazer algo até agora impensável: arriscar na hora de investir.

“O mercado vai precisar diversificar suas aplicações e comprar ações, investimento hoje limitado a 49% do patrimônio”, diz Vinhosa, da Zurich. Segundo ele, alguns concorrentes já cogitam elevar esse percentual para 60% ou mesmo 70% do total. “No curto prazo, o poupador pode achar que os riscos cresceram, mas, no futuro, quando se aposentar, ele verá que seu patrimônio está bem maior”, afirma. Enquanto a lei não limita as aplicações em ações, a solução é buscar a rentabilidade da renda fixa privada, superior à dos títulos públicos. A mudança já é perceptível na Brasilprev. Dos R$ 50 bilhões administrados, cerca de R$ 3 bilhões, ou 6% da carteira, foram destinados a títulos privados, como as letras financeiras de bancos.

“Esse volume era de apenas R$ 500 milhões há seis meses”, diz Pinheiro. A mudança ocorreu depois que a Superintendência de Seguros Privados (Susep), autorizou os fundos a comprar títulos bancários. “Pouco mais de 95% dos ativos estão em renda fixa e é preciso fazer nossa carteira render mais”, revela Braúna. Ele não descarta a aplicação em fundos imobiliários para melhorar o desempenho. Segundo o executivo, a necessidade de as empresas captarem em moeda local, devido ao encarecimento dos recursos internacionais, deve gerar oportunidades para as fundações de previdência, especialmente no caso de empresas menores, menos conhecidas do mercado e que, por isso, pagam juros mais apetitosos. “Veremos uma mudança profunda no mercado ao longo dos próximos meses”, diz Pinheiro.


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