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Pequeno é o juro, grande é a vida

Fonte; Valor Econômico

Taxas reais cada vez menores não permitem mais a acomodação do do investidor, que deve reavaliar os plnos para a aposentadoria

Karla Sportornoa

Quem refizer as contas do plano de previdência com os novos juros reais vai tomar um susto. A baixa rentabilidade de fundos conservadores mudou completamente as perspectivas dos candidatos à aposentadoria. Se não tomarem uma atitude, serão obrigados a adiar a aposentadoria ou assumir um padrão de vida mais acanhado no futuro.

A nova realidade de juros no Brasil não perdoa a acomodação, ainda mais quando se leva em conta o aumento da longevidade. Segundo dados do mercado segurador, a expectativa de vida dos homens aumentou de 84,5 para 86,4 anos. As mulheres vivem ainda mais. Chegam, em média, aos 89,7 anos, pela tábua atuarial BR-EMS de 2010.

O investidor que baseou as suas aplicações para a aposentadoria em fundos de renda fixa precisa fazer, urgentemente, um replanejamento. Para Rodrigo Menon, sócio da Beta Independent, a nova realidade mostra que as aplicações financeiras - mesmo as mais conservadoras - precisam ser reavaliadas regularmente. Deixar para verificar o desempenho do plano de previdência na hora de se aposentar é mais do que uma temeridade. O mercado vive de ciclos. Não dá para fazer um plano e esquecer. Os cálculos têm de ser revistos pelo menos uma vez por ano, diz Menon, planejador financeiro certificado (CFP) pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF).

Essa lição a arquiteta Mariana Monteiro, de Brasília, já aprendeu. Ela se preocupa com o futuro, mas diz que nunca teve a menor paciência em se embrenhar pelo mundo financeiro em busca de oportunidades. Sempre tive preguiça para esse assunto. Se alguém pudesse resolver tudo para mim, eu ficaria muito feliz, diz. Há dois anos e meio, a autônoma, hoje com 28 anos, aplica mensalmente em um VGBL a quantia que a remuneração permite. Não sabe dizer quanto já acumulou nem quanto conseguirá resgatar ao se aposentar. Parece contraditório, mas Mariana faz como centenas de brasileiros: investe na sua aposentadoria de olho em quanto pode aplicar no presente e não na renda que deseja como aposentada.

Diante de tantas notícias sobre a queda nos juros, a arquiteta decidiu sair da passividade. Está disposta a começar a se informar sobre melhores formas de gerir seus investimentos, hoje distribuídos entre o VGBL, um CDB e a caderneta de poupança. [A queda na rentabilidade] é um assunto que me preocupa bastante. Estou numa fase de me informar mais, afirma.

Na simulação conservadora feita pela Beta Independent, em que leva em conta um juro real de 2% ao ano, a arquiteta de 28 anos conseguirá a renda pretendida de R$ 6 mil a partir dos 65 anos somente se aumentar a contribuição de R$ 400 que faz atualmente. A jovem precisaria investir R$ 2.200 por mês em seu VGBL, além de contar com o benefício mínimo do INSS, hoje em R$ 622. O valor é quase seis vezes mais alto do que ela consegue investir hoje.

O número é realmente chocante. Traz à tona uma reflexão que o planejador financeiro Marcos Brízido apresenta sempre para os seus clientes. O esforço da poupança não deve considerar apenas quanto o bolso permite. É preciso fazer um planejamento que contemple as possibilidades do presente e as necessidades futuras. Muitas vezes, as pessoas não param para pensar sobre o impacto do valor que está poupando. Ficam felizes com o conforto emocional de estar sendo previdentes, mas não têm noção do que isso vai significar, afirma Brízido.

O primeiro passo para equilibrar as contas é analisar as condições das aplicações financeiras. No caso de um plano de previdência, é preciso olhar as taxas cobradas, tanto de administração quanto de carregamento (percentual de cada aplicação realizada). A taxa de administração máxima deveria chegar perto do 1% ao ano em um plano de renda fixa e perto de 1,5% nos planos compostos [com renda variável], afirma Brízido. Algumas seguradoras nem cobram mais o carregamento. Dependendo do volume aplicado ou do prazo em que o participante permanece no seu VGBL ou PGBL, essa taxa é zero. O participante com custos mais altos precisa procurar a seguradora e pleitear uma taxa mais baixa. Agora é a hora de pesquisar, pechinchar, buscar custos e fundos melhores, diz Menon, da Beta.

Depois de verificar as condições do plano de previdência, o segundo passo é avaliar o que precisa e pode ser feito. Uma opção é optar por um plano com mais risco com vistas a um retorno maior. Na simulação da Beta Independent, a arquiteta Mariana precisaria investir muito menos se optasse por uma aplicação com renda variável. Seriam R$ 700 em um fundo com retorno real estimado de 6% ao ano. Além da aposentadoria desejada, Mariana conseguiria estender o prazo da renda em cinco anos e meio. A reserva duraria 34,5 anos e não os 29 anos estimados no cenário de juros a 2% ao ano.

A mudança de perfil exige cautela. Ninguém pode chegar a um investidor acostumado com aplicações de baixo risco e dizer para ele colocar seu dinheiro em alternativas mais arriscadas. Não se muda o perfil de investimento da noite para o dia, afirma Renato Russo, vice-presidente de Vida e Previdência da SulAmérica.

A empresária Marot Gandolfi, 46 anos, já decidiu o que vai fazer: aumentar as contribuições. O juro real mais baixo muda tudo. Quero ter uma vida digna ao me aposentar, sem depender de ninguém, diz a sócia-diretora da Multifoco Assessoria de Comunicação e Marketing, de São Paulo. Marot tem um VGBL desde os 35 anos. Decidiu contratar um plano de previdência privada tempos depois de abrir sua empresa para complementar seus investimentos. Hoje, investe R$ 200 por mês em seu plano, além de contribuir para o INSS. Ela sabe que isso não será suficiente para pagar suas despesas básicas dentro de duas décadas. Por isso, planeja levar a sério a recomendação dos especialistas e repensar seu planejamento.

O investidor que não consegue poupar mais tem outras saídas, que também vão gerar algum sacrifício. Pode adiar a data da aposentadoria ou reduzir a previsão de renda no futuro. Para quem está se aproximando da idade da aposentadoria e não tem condições de acumular uma reserva maior, uma alternativa é repensar seu perfil de consumo. É preciso refazer as contas e readequar o estilo de vida, afirma Brízido.

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