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Seguro de carro sofre com crédito fraco

Fonte; Valor Econômico

Alta da inadimplência faz fraude aumentar e deixa apólice mais cara para recompor margens

Não só as montadoras sentem os efeitos negativos da estagnação do crédito para a venda de veículos. Para as seguradoras que atuam com automóveis, quanto menos carros novos na praça, mais limitado é o potencial de crescimento. Quem tem nas apólices de carro uma fatia grande do negócio cruza os dedos para que as medidas do governo para o setor automobilístico deem certo.

Será preciso, porém, mais que apenas aumentar a venda de veículos novos para que as seguradoras virem o jogo contra o desempenho ruim desse que é o maior segmento do mercado segurador. Há outras feridas abertas e a queda da venda de carros novos só agravou o quadro. O primeiro trimestre trouxe perdas para seguradoras de automóveis com a escalada dos roubos de carros nas regiões Sul e Sudeste. O resultado é que o seguro ficou mais caro.

Há até quem estabeleça uma conexão entre a onda de roubos registrados e a deterioração do crédito no segmento. É possível que o excesso de endividamento possa ter causado aumento de fraudes no seguro, diz Marcelo Picanço, diretor financeiro e de relações com investidores da Porto Seguro, líder do seguro de automóveis. A avaliação é compartilhada por outros executivos ouvidos. Nos dois últimos anos, a frequência de roubos caiu muito, a níveis de baixa histórica. Em 2012 isso se inverteu. Só neste ano, a frequência em algumas cidades subiu 20%. E não parou ainda de subir, diz Paulo Umeki, vice presidente da Liberty Seguros.

Esse surto veio em má hora. Justo quando as seguradoras buscavam recompor os resultados em automóveis, depois da guerra de preços e da inflação de custos que corroeu margens no ano passado. A queda nos juros também encolhe ganhos financeiros, que poderiam ser um colchão para perdas operacionais.

Os roubos devem se manter ou até piorar ao longo do ano, ligados à grande quantidade de veículos financiados. Nossa proteção será pelo ajuste de preço, afirma Walter Pereira, diretor de automóveis da Zurich. A seguradora fará incrementos entre 5% e 7%, em média.

Mesmo que a venda de veículos comece a melhorar, o impacto positivo sobre os resultados levará tempo para começar a aparecer. Porto Seguro, SulAmérica, BB Mapfre, Liberty e Zurich relatam que, em média, é de 10% a 15% a fatia da receita mensal das seguradoras que vêm de carros zero, o que amortece o impacto de queda ou de aumento de vendas no curto prazo.

Já no médio prazo, o fluxo de carros novos responde pela oxigenação da carteira. Como a lei brasileira impede a utilização de peças usadas no conserto de carros por seguradoras, o custo do seguro fica mais proibitivo conforme o carro envelhece. A comparação entre o valor do carro usado e o preço do seguro também joga contra a manutenção da apólice.

Não é só a Zurich que encareceu as apólices com a alta de roubos e a queda no resultado financeiro. Tanto que o mercado de seguros de automóveis, excluindo o seguro obrigatório DPVAT, avançou 11,2% em receita nos quatro primeiros meses de 2012, para R$ 7,2 bilhões, graças a preços mais salgados. Já o gasto com indenizações foi de R$ 5,1 bilhões, 10,4% superior ao do mesmo período de 2011. Os dados são da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Porto Seguro e SulAmérica, respectivamente primeira e quarta companhias em seguro de auto, sentiram os roubos pesarem na eficiência. No primeiro trimestre, o índice combinado, espécie de termômetro de eficiência operacional, piorou nas duas empresas. Quanto menor o valor do combinado, melhor. Se o número supera 100, indica prejuízo com a operação de seguro propriamente. Na Porto, o índice fechou o primeiro trimestre em 100,6%, ante 98,2% no ano anterior. Na SulAmérica, o índice foi de 101,1%, ante 99,8% na mesma comparação.

Na SulAmérica, a projeção é de aumento médio de preços de 8% para o ano. O mercado todo está aumentando preços. A competição vai arrefecer, diz Eduardo Dal Ri, diretor de automóveis da seguradora. É difícil estimar qual o fôlego do mercado para encarecer o seguro, sem perder totalmente a competitividade.

A Liberty, que tem nas parcerias com concessionárias (Ford, Fiat e General Motors) um pilar dos seus negócios, sente mais diretamente a variação do crédito. Depois de apresentar prejuízo de R$ 30 milhões no ano passado, causado pelo desempenho de auto, a seguradora vê 2012 como um ano difícil. Será ano de lucratividade apertada novamente, diz Umeki. Não à toa, a empresa aumentará os preços em 13%, diluídos ao longo do ano, conta o executivo.

Se o preço será o principal ajuste feito pelas seguradoras no curto prazo, não será o único. A busca de ganho operacional terá reflexos em outras partes da cadeia do seguro. As discussões com fornecedores serão mais duras este ano, afirma Jabis Alexandre, diretor de automóveis do grupo Banco do Brasil e Mapfre. Ele afirma que a seguradora pretende expandir sua carteira em 12% neste ano. Estamos abaixo, mas mantemos a projeção. Cresceremos mais no segundo semestre, com a integração das duas casas totalmente concluída.

Em 2011, o mercado segurador todo teve receita de R$ 75 bilhões, alta de 15,6% na comparação anual. O seguro de auto foi responsável por R$ 21,3 bilhões desse faturamento, avanço de 6,5% na mesma comparação.

Foi como se houvesse dois mundos no mercado de seguros, em países diferentes e em situações econômicas diferentes. Um era de automóveis outro era dos demais ramos, diz Francisco Galiza, da consultoria Rating de Seguros. Ele acredita que 2012 não deve repetir o desempenho ruim, crescendo por volta de 10%. Espera-se que a aceleração venha no segundo semestre.

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