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Riscos muito maiores

Fonte: O Estado de São Paulo

Prejuízos econômicos e humanos provocados pelas mudanças do clima do planeta deverão crescerem praticamente todas as partes do mundo

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

As mudanças climáticas já mostraram que vieram para ficar e que, por causa delas, os prejuízos devem crescer em praticamente todas as partes do globo, afetando mais duramente o ser humano.

Como, além das mudanças de origem climática, temos também os grandes cataclismos de origem natural, a conta dos desastres provocados pelas forças da natureza fica cada vez mais cara.

Ainda ninguém falou no custo total da catástrofe japonesa de 2011. O número real do prejuízo causado pelo terremoto seguido de tsunami continua no campo das suposições. E, mesmo que incompleto, ele já representa, com certeza, uma das maiores perdas econômicas da história recente da humanidade.

Além dos custos diretos para a recomposição do patrimônio afetado, percebido de forma mais clara pelos imóveis residenciais e comerciais, fábricas, estradas de rodagem e de ferro, portos e aeroportos, com certeza na casa das dezenas de bilhões de dólares, há toda uma cadeia de custos indiretos - os mais evidentes representados pela paralisação de linhas de montagens da indústria automobilística japonesa - que devem chegar próximos dos mesmos patamares.

Como, além deles, há os prejuízos diretos e indiretos causados pelo acidente na usina nuclear de Fukushima, ainda bem longe de estarem totalmente quantificados, pode-se dizer que a natureza, apenas no Japão, no passado, apresentou uma conta bem alta para o ser humano.

Mas não foi só no Japão que a natureza decidiu que era tem pode acertar as contas e mandar a fatura. Os verões brasileiros de 2011 e 2012 custaram caro, principalmente pelas consequências das chuvas torrenciais que caíram em diferentes regiões do país. E os furacões e tufões que devastam por onde passam, também têm se esmerado em causar da nos bastante consistentes.

Na outra ponta, ficando apenas em território nacional, as chuvas em demasia têm como contraponto as secas severas, uma afetando a Amazônia, a outra castigando o Nordeste.

Mas imaginar que o cenário se fecha aí é desconsiderar a força dos vulcões europeus e a possibilidade transformada em tragédia de um terremoto atingir áreas habitadas da Itália.

A lista é mais ampla, mas os exemplos acima são suficientes para mostrar que a natureza não está para brincadeira e que não são só as mudanças climáticas que cobrarão o seu preço.

Diferentes estudos realizados pelas mais renomadas instituições de pesquisa e análise do mundo sinalizam que a tendência é os eventos naturais causarem cada vez mais mortes e os prejuízos continuarem a crescer. A razão para isso é simples: o ser humano está se agrupando em áreas de risco.

As grandes cidades brasileiras, todas em permanente crescimento, são uma boa amostra do que se repete em outras partes do planeta. Na base da urbanização acelerada estão milhões de pessoas que deixam o campo em busca de melhores oportunidades de vida nas cidades. Como parte das cidades está próxima de zonas de risco, com a expansão da malha urbana, estas áreas acabam sendo ocupadas,no início até irregularmente, deixando seus habitantes sujeitos aos efeitos dramáticos de chuvas, deslizamentos, enchentes, ventos fortes, furacões, ciclones, granizo, etc, todos com enorme potencial de danos.

Além dos institutos de pesquisa, as seguradoras também já detectaram o problema e começam a ficar preocupadas com o tamanho das consequências. Na medida em que mais e mais áreas habitadas forem atingidas por estes eventos, maiores serão as perdas. O nó que se coloca diretamente para elas, e indiretamente para a humanidade, é que a capacidade de fazer frente a prejuízos cada vez maiores, com frequência mais alta, é limitada. Haverá um momento em que não será mais economicamente viável para a iniciativa privada continuar aceitando fazer frente a estas indenizações.

Em outras palavras, cada vez mais os eventos de origem natural custarão caro e, como sempre acontece, proporcionalmente, serão os mais pobres que arcarão com a parte mais salgada da conta.

É PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA E COMENTARISTA DA RÁDIO ESTADÃO ESPN

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