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Os corretores de seguros

Fonte: O Estado de São Paulo

Antonio Penteado Mendonça

Em países desenvolvidos, o corretor de seguros é o profissional que representa o segurado. Quem vende seguro é o agente, figura legal que ainda não existe no Brasil

O setor de seguros brasileiro vive tempos quentes. Mudanças de todas as ordens vão redesenhando a atividade, com novos produtos surgindo e substituindo as apólices tradicionais. O resultado tem sido a mudança do ranking das seguradoras, num processo que vai criando novas possibilidades de negócios.

É verdade que a consolidação das grandes companhias ligadas a bancos vai acontecendo também rapidamente. Mas isso é parte do processo e não tem como imaginar que o País terá mais do que 5 ou 6 grupos seguradores com atuação nacional. Bradesco, Banco do Brasil/Mapfre, Itaú/Porto Seguros, Caixa, Santander e HSBC devem dominar as operações de seguros de varejo, os seguros de massa focados na classe média, como automóveis, residencial, pequenas e médias empresas, vida em grupo e acidentes pessoais, além dos planos de previdência privada aberta.

Nem poderia ser diferente, já que eles controlam as agências bancárias espalhadas por todo o território nacional e têm a sinergia para alcançar os consumidores com preços mais baixos do que as seguradoras sem as redes dos bancos.

Mas se já são maiores, não quer dizer que serão sempre os melhores, o que abre espaço a outras companhias de seguros se especializarem, inclusive nos principais produtos comercializados pelos maior e do mercado.

Além disso, existe uma forte demanda por seguros que não estão no foco das atenções dos conglomerados financeiros. Quer por serem caros, quer por exigirem um nível de especialização muito alto, quer pelo total dos prêmios não justificar o investimento, estes seguros não entrarão no rol das apólices fortemente comercializadas por eles.

Também merece destaque o microsseguro, que a Susep acaba de regulamentar. Para não falar nos seguros para o agronegócio, ainda extremamente incipientes e vistos até agora apenas como os seguros rurais e não como toda uma gama de produtos destinados a proteger um dos principais setores da economia.

Nesse cenário, a pergunta que fica é: como será feita a comercialização dos diferentes tipos de apólices e bilhetes? Imaginar que os conglomerados financeiros não utilizarão suas redes de agências é acreditar que o Coelho da Páscoa fabrica seus ovos na fábrica de brinquedos do Papai Noel.

Os seguros populares já estão encontrando caminhos interessantes para chegar ao grande público. Seja através das contas de luz, água, telefone ou gás, seja através das grandes redes de comércio varejista, todo um rol de garantias importantes para a sociedade é colocado à disposição do público de forma eficiente e por preço compatível.

Já os tradicionais, com ênfase nos seguros de veículos, são comercializados por meio dos corretores, situação em que se encontram também os seguros mais sofisticados, como os de responsabilidade civil e os para cobrir os grandes riscos, de todos os tipos.

Mas em função de deficiência da legislação brasileira, existem algumas dezenas de milhares de profissionais que trabalham como corretores de seguro mas com perfis completamente diferentes, o que torna impossível a tipificação da categoria de acordo com sua acepção internacional.

Nos países desenvolvidos o corretor de seguros é o profissional independente que representa o segurado na relação com a seguradora. Já quem vende seguros de forma vinculada a uma seguradora é chamado de agente.

O Brasil não tem a figura legal do agente, o que faz com que todos sejam conhecidos por corretores de seguros. Mas até onde alguém que tem na porta uma placa com o nome de uma seguradora, ou quem comercializa seguros dentro de uma agência bancária, pode ser considerado independente?

É preciso ter claro que há espaço de sobra para os dois profissionais e que nenhum é melhor do que o outro. Mas quanto antes a tipificação for feita, melhor para todos, principalmente para o segurado, que saberá de forma transparente quem é que está lhe atendendo e quais as responsabilidades envolvidas.

-É PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA E COMENTARISTA DA RÁDIO ESTADÃO ESPN

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