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Concorrência desencadeia disputa por taxas e prejudica subscrição no Seguro Garantia

Fonte: Revista Cobertura | Carol Rodrigues

Cerca de 23% do total do volume de prêmios do seguro garantia na América Latina são provenientes do Brasil. Em pleno desenvolvimento, o mercado brasileiro, que deve encerrar 2012 com um volume de R$ 800 milhões, precisa redefinir alguns pontos para ter continuidade no futuro, segundo especialistas.

Na visão de Rogério Vergara, diretor de Seguros Garantia e Crédito do Grupo Segurador BB Mapfre Seguros, dois pontos necessitam ser trabalhados: a formação profissional e o relacionamento mais próximo com o consumidor do seguro. “Caso esses dois pontos não sejam resolvidos, o mercado acabará”, alertou durante o Insurance Summit, evento realizado pelo IBC nos dias 28 e 29 de agosto, em São Paulo, que contou com o apoio da Revista Cobertura.

As observações de Vergara têm como embasamento o fato de o mercado de garantia passar por algo que ele denomina como a ‘teoria das quatro portas abertas’. Uma delas está ligada à migração de profissionais com pouca experiência de uma seguradora para outra, no que fica caracterizado como um rouba-monte em que, muitas vezes, um profissional é alçado a uma posição sem muita vivência prática. “Com isso, um subscritor pouco preparado analisa fatos complexos, dentro de um cargo mais complexo. E um subscritor júnior é contratado como subscritor sênior, dando a ele o valor em termos de remuneração, mas sem a bagagem necessária para o cargo”, exemplificou.

Em suas estimativas, o mercado brasileiro conta com cerca de 300 profissionais especializados em garantia. Atualmente, entre 24 e 27 companhias operam no segmento de seguro garantia, número que deve chegar a 34 até o final deste ano.

Com um número maior de seguradoras em atuação no segmento, a competição passa a ser baseada em preço e, em uma segunda etapa, no aumento da comissão. “E para conseguir mais negócios, o mercado tem parado de subscrever”, sinalizou.

Contudo, o impacto é no aumento da sinistralidade e, para concluir esse cenário, aponta Vergara, incluem-se cláusulas na apólice para se negar sinistro. “Estamos negando sinistro para o único consumidor desse produto, que não é o tomador, mas sim o segurado. Para falar do futuro precisamos mudar o presente para termos um mercado melhor”.

Há também, na visão de Luiz Alberto Pestana, sócio gerente da Wimper Assessoria em Seguros, os problemas de interpretação com relação aos riscos cobertos por cada uma das modalidades seguro garantia como algo a ser trabalhado pelo mercado. “Como quem compra o seguro não é quem vai reclamar depois, a preocupação com qualidade, security e subscrição não existe”, alertou.

Com base na nova circular 232, de acordo com ele, todas as modalidades tratam de prejuízos decorrentes e causados. “Isso significa que tem que a ter regulação e apuração dos prejuízos. Mas acontece que as modalidades sempre têm problema com isso”.

Outro ponto, segundo Pestana, é a seguradora ter de pagar multa, como consta na nova circular 232. “É um contrasenso ter de pagar multa, principalmente as punitivas, que não são cobertas por nenhum seguro. Punição não é transferível, portanto, não é segurável. Mas, por questões comerciais e concorrência, o nosso mercado cedeu".

De acordo com ele, o segurado tem uma noção errada do que é o seguro garantia de adiantamento de pagamentos. “Não existem sinistros mal pagos, mas sim seguros mal vendidos”.

Em Comercial Lines

Conforme Nery Silva, vice-presidente da JMalucelli Seguros, que atua em riscos de engenharia, patrimonial, RC e financial lines, o segmento também passa pelo mesmo problema que o garantia. “Também em seguro de engenharia a formação de companhias faz com que profissionais com pouca experiência sejam contratados para funções de grandes responsabilidades”.

Para ele, em cinco anos é impossível um profissional dominar a área de Comercial Lines. “Compartilhamos a visão com o mercado, com o viés macabro de queda de taxas e profissionais - que precisavam ter mais experiência - sendo contratados com salários altos. Isso canabaliza o mercado, além de ‘jogar’ uns contra os outros, pois o segurado acha que foi 'roubado'”, disse ele, referindo-se ao fato de em uma disputa por uma conta uma companhia diminuir muito o preço e ficar totalmente desproporcional em relação as demais.

Silva comparou ambos os segmentos – garantia e riscos de engenharia - ao D&O, que foi muito rentável nos últimos dez anos, quando havia poucas seguradoras em operação e o prêmio era elevado. “Já temos notícias de grandes sinistros ocorridos nos últimos nove meses e informações de que o que o corretor levava como comissão há dez anos, hoje é o prêmio da apólice”.

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