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Um passo atrás: A criação de mais uma estatal, a Segurobrás é um absurdo!

Fonte: Gustavo Mello

Os economistas norte-americanos George Akerlof, Michael Spence e Joseph E. Stiglitz foram os primeiros a demonstrarem que os mercados são imperfeitos porque seus atores não possuem as mesmas condições de processar, interpretar e utilizar informações. Nasceu o conceito de “informações assimétricas” que lhes rendeu o prêmio Nobel de economia de 2001.

As informações assimétricas estão em toda a economia. E seu efeito é facilmente percebido inclusive no setor de seguros.

Analisando as “As 1000 Maiores Empresas – VALOR ECONÔMICO” temos alguns exemplos interessantes: 5° colocada, a BRASKEM apresentou prejuízo superior a R$ 500 milhões, um nível de endividamento oneroso (empréstimos bancários) de 153% do seu patrimônio líquido; já a 17° colocada, o MARFRIG apresentou prejuízo superior a R$ 740 milhões, um nível de endividamento oneroso (empréstimos bancários) de 209% do seu patrimônio líquido; 3° colocado, o JBS apresentou prejuízo superior a R$ 320 milhões, um nível de endividamento oneroso (empréstimos bancários) de 119% do seu patrimônio líquido; 30° colocada, a TAM apresentou prejuízo superior a R$ 260 milhões, um nível de endividamento oneroso (empréstimos bancários) de 434% do seu patrimônio líquido. Qual dessas empresas possui dificuldade em fazer seus seguros? Nenhuma! A GAFISA, por exemplo, continua recebendo e mantendo seguros garantia, mesmo tendo apresentado prejuízo superior a R$ 905 milhões, e um nível de endividamento oneroso (empréstimos bancários) de 136% do seu patrimônio líquido.

As análises são feitas por pessoas, isso justifica discrepâncias difíceis de explicar. Mas isso acontece devido às informações assimétricas. O analista é uma pessoa que tem informações diferentes da sua, da minha, e assim por diante. Ele toma sua decisão baseada nas informações dele, e isso eventualmente pode levá-lo a erro graves. Uma seguradora, por exemplo, dá garantia a um cliente até seu limite máximo da alavancagem, depois fecha a porta para novas garantias. Diante disso, esse cliente já alavancado vai visitar uma nova seguradora e pegar um analista sem as mesmas informações do primeiro (na seguradora anterior). E assim por diante.

Também temos outros exemplos de informações assimétricas nas análises de especialistas do nosso setor, o ranking de seguro saúde de nada serve por excluir os planos de saúde. O ranking de seguros gerais também é poluído de companhias que não podem ser analisadas em conjunto com outras, mas jornalistas e economistas costumam cometer esse erro. Enfim, todos nós cometemos erros por falta de informação completa. Até os executivos das companhias de seguros quando resolvem seu planejamento estratégico.

Na verdade, impossível estar mais correto do que o ditado que diz: “duas cabeças pensam melhor do que uma.”. Em suma, se colocarmos diferentes corretores , seguradores, especialistas, cientistas, professores, entre outros para discutirem os rumos do nosso setor teríamos uma síntese das melhores práticas e o caminho eficiente para traçarmos. Porém, isso é um sonho. No mundo real somos representados, salvo raras exceções, por pessoas arrogantes e mal preparadas. E como todos trabalham muito e são profissionais bem sucedidos, restam àqueles desempregados mas bem relacionados às vagas de alguns sindicatos e entidades de classe. Repito, salvo algumas exceções de pessoas muito capazes e que ajudam o setor. Uma minoria!

E foi por isso, por pessoas muito arrogantes e que se julgam muito expertas, que nossas entidades deixaram de lado e não protestaram o suficiente – ao contrário houve até quem tentasse fazer parcerias com o governo num suposto Fundo (“Fundo dos Vou Me Dar Bem”) - e deu nisso. O governo pretende criar a Segurobrás, e competir com todos aqueles “espertos” que julgavam ter a situação no controle. Agora nos resta dizer: “Houston wegot a problem.”. Representantes do setor julgavam ter a situação sob controle, mas provaram que há informações assimétricas em sua análise.

Isso é ruim para os corretores que já reclamavam muito da concorrência com a seguradora do Banco do Brasil. Agora terão mais uma estatal com que se preocupar. Também é ruim para as seguradoras, pois terão mais uma competidora. Também é ruim para a sociedade, pois seus impostos vão pagar um serviço desnecessário.

Sobre estatais...

Em 1971, durante o governo da ditadura no período de Emílio Garrastazu Médici , o então Ministro da Aeronáutica, Araripe Macedo,foi o idealizador e criador da INFRAERO que tinha o objetivo de resolver o caos nos aeroportos brasileiros. Araripe ressalvou que seria uma estatal pequena, com 600 funcionários de alto nível, capaz de resolver o problema. Criando assima INFRAERO, em 12 de dezembro de 1972, através da Lei nº 5862.Em 2011, a estatalque iniciou com 600 funcionários já contava com 39 mil colaboradores, sendo 13 mil funcionários e 26 mil terceirizados. A Petrobrás tem hoje 81.918 funcionários, para atender 27 países, 15 refinarias e 2,6 milhões de barris por dia. Enquanto a Shell – por exemplo – tem 90 mil funcionários no mundo para atender 80 países, 30 refinarias, 3,2 milhões de barris por dia. Aqui usamos exemplos de estatais que no meu ponto de vista são estratégicas e necessárias. Mas estão claramente inchadas de funcionários. A Segurobrás será outro cabide de empregos, porém, num mercado onde não há nenhuma necessidade. Aliás, através do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e do IRB, o governo já possui forte atuação no setor.

Eu não me classifico como neoliberal, e tampouco sou marxista. Acredito bastante em muitas das idéias contidas nas filosofias de Schumpeter , Keynes, entre outros economistas. A história da economia americana mostra que o discurso neoclássico não corresponde a pratica daquele país, que protege fortemente sua economia e indústria (exemplo do aço, do milho, do suco de laranja, etc.). Analisando a formação e o crescimento, durante a Segunda Guerra Mundial, de empresas como IBM, GE e BOEING é fácil notar o relevante apoio do governo americano às mesmas. Lembre dos socorros financeiros à GM, CHRYSLER (na época do Lee Iacocca) e recentemente à AIG. E estão certíssimos ao fazerem isso! Porém, há um abismo de diferença entre apoiar a iniciativa privada – mais eficiente – e criar estatais. Na minha opinião nós precisamos de um Estado forte, que intervém, que regula, que pune, que incentiva, que financia, que apoia, que desenvolve e força a geração de emprego e renda. Não queremos um Estado Leninista que substitui o mercado, que compete com a iniciativa privada. Que aumenta a despesa pública em áreas não fundamentais ou estratégicas. Precisamos de escolas e hospitais, não de uma Segurobrás.

O PIBinho que o Brasil apresentou no primeiro semestrecom crescimento de1,6% é um indicador razoável. Ficamos aquém da maioria dos países tais como: Chile em 7,1%, México em 3,5%, Estados Unidos (em crise) em 1,7%, Venezuela em 2,2%, e na média dos BRICs em 4,5%. O que isso nos diz? Estamos crescendo muito pouco, e claramente precisamos corrigir o rumo. Abrir a Segurobrás vai decepcionar o mercado e não vai colaborar para aumentar as garantias das obras do PAC. E tampouco ajudará o setor a crescer e auxiliar no crescimento econômico.

Aliás o governo é o próprio garantido por apólices de suas obras públicas. Se uma construtora não consegue fazer o seguro garantia, já pensou que pode ser por ela estar altamente alavancada? Por seus números nos demonstrativos financeiros estarem péssimos? Devido à construtora estar altamente endividada? Pois é. Portanto, se uma empresa não consegue apresentar garantias para um serviço público qual seria a atitude correta? Desclassificá-la e retomar a obra para uma segunda colocada na licitação. Mas o governo não pretende fazer isso! Pelo contrário, criou uma estatal (SEGUROBRÁS) para dar garantia para ele próprio e aceitar as empresas ruins que o mercado rejeita. Isso é uma loucura! Não faz nenhum sentido.

A esperança foi o coro do mercado: “VETA PRESIDENTA DILMA!”, mas morremos na praia e a presidente Dilma Rousseff sancionou nesta quinta-feira (30 de agosto) a Medida Provisória 564 com a possibilidade de a Agência Brasileira Gestora de Fundos e Garantias (ABGF), chamada pelo setor de Segurobrás, concorrer com as empresas privadas, conforme o texto aprovado no Congresso.

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