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A lição da AIG

Fonte; Econômico

Presidente executivo da AIG, festejou a vitória em Londres, depois do Tesouro norte-americano ter anunciado a venda da participação que ainda detinha na seguradora

Robert Benmosche, presidente executivo da AIG, festejou a vitória em Londres, depois do Tesouro norte-americano ter anunciado a venda da participação que ainda detinha na seguradora: "Por fim, livres". Não é assim tão simples. A AIG conseguiu reerguer-se depois de perdas astronómicas, mas a sua má performance colocou a indústria seguradora na mira dos reguladores e do público em geral. "Se as seguradoras tiverem de reforçar os requisitos de capital, então, teremos menos seguros e menos crescimento. Por que haveriam os banqueiros centrais de travar o crescimento? ", questiona John Fitzpatrick, secretário-geral da Geneva Association.

A maior parte das seguradoras é mais pequena, sólida e segura que os bancos. Seria um erro esquecer a lição da AIG numa altura em que os EUA recuperam o dinheiro investido. Benmosche falou esta semana no Lloyds Bank de Londres, cujos ‘syndicates' (subscritores) se viram envolvidos em graves problemas na década de 1990. A solução encontrada na altura obrigou à reestruturação do mercado segurador. No entanto, a falência da AIG em 2008 acabou por ter ainda mais impacto, quer por implicar um resgate quer por aquilo que despoletou a situação.

Além de negociar seguros no sentido clássico, também decidiu apostar em ‘credit default swaps' (CDS) - seguros contra o risco de incumprimento - de dívida bancária e de empresas, e no empréstimo de títulos a investidores, actividades consideradas tóxicas a partir da crise financeira de 2008. Pode mesmo dizer-se que foi a "mais promíscua" das grandes seguradoras, apesar de não ter sido a única a desviar-se do seu ‘core business'.

Os reguladores globais procuram actualmente equiparar os requisitos de capital para os bancos sistemicamente importantes, como o JP Morgan Chase e o Barclays, aos das seguradoras sistemicamente importantes. As seguradoras não estão interessadas. A Geneva Association já fez saber que está satisfeita com o reforço de supervisão dos seus associados, mas não vê necessidade de reforçarem o capital. Os riscos da actividade seguradora são menores que os da actividade bancária para o sistema financeiro. Além disso, e contrariamente aos bancos, quanto maior a sua dimensão maior a sua estabilidade financeira, na medida em que não há uma correlação entre os riscos individuais dos segurados.

Um banco que concede um grande número de empréstimos hipotecários numa dada área aumenta a sua exposição a um ‘crash' imobiliário. Uma seguradora do ramo vida que vende apólices às mesmas pessoas diversifica o risco, o que significa que um grupo segurador pode, efectivamente, ser demasiado grande para falir - ou demasiado grande para gerir um elevado risco de falência. "Encorajámos as seguradoras a crescer e a diversificar para serem menos dependentes da actividade de resseguro, e agora não podemos dizer-lhes para fazerem o contrário", explica um regulador do sector.

Outro aspecto importante: as seguradoras não são especialmente grandes quando comparadas com os bancos. A Geneva Association estima que a dimensão das 28 maiores seguradoras equivale a um quarto da dimensão dos 28 maiores bancos. As suas carteiras de derivados são mais pequenas e substancialmente menos vulneráveis a eventuais cortes no financiamento a curto prazo. Isto prova que os reguladores não devem aplicar às seguradoras o mesmo tratamento que aos bancos, mas não é isso que está a acontecer.

As novas regras definidas pela Associação Internacional de Supervisores de Seguros dão maior importância à dimensão das seguradoras do que à natureza das suas actividades. À luz das novas regras nenhuma seguradora do ramo vida ou propriedade, por maior que seja, poderá ser considerada sistemicamente importante. As que podem vir a ter de reforçar o capital são aquelas que desenvolvem outro tipo de actividades além do ‘core segurador', como a AIG. Ao contrário da maior parte das seguradoras, que detêm pouco capital centralmente, a AIG dispõe de um fundo em dinheiro que pode aplicar em operações mais sobrecarregadas. Foi o que fez na sequência do furacão Sandy, injectando mil milhões de dólares na unidade norte-americana de seguros de propriedade, embora possa em breve ser obrigada a reforçar o capital.

É irónico que outras seguradoras tenham de criar uma estrutura mais semelhante à da AIG devido à crise de 2008, mas também é perfeitamente racional.

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