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Seguro ainda dominará setor bancário, preveem economistas

Fonte CVG-SP / Márcia Alves

 Nos países mais desenvolvidos, os bancos integram o conglomerado financeiro de seguradoras. No Brasil, são os bancos que possuem seguradoras. Para o pesquisador e professor de economia e finanças Pedro Carvalho de Mello, este é apenas um dos indícios da tendência de transformação do mercado segurador brasileiro. Ele prevê que ainda neste século as seguradoras serão mais importantes que os bancos.

Para tanto, basta que seja superada a “fronteira de aperfeiçoamento técnico”, para que o seguro deslanche de vez. Até porque a participação do seguro no PIB brasileiro, segundo o economista, ainda está abaixo da média em comparação a outros mercados de países com renda per capita e PIB semelhantes.

Para Cláudio Contador, diretor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg), em 20 ou 30 anos, a importância relativa das seguradoras, no mundo e também no Brasil, crescerá muito. No caso do Brasil, ele acredita que essa “transição” ocorrerá, mais cedo ou mais tarde. Já no presente, segundo seus cálculos, o patrimônio líquido das seguradoras tem apresentado taxas de crescimento maior do que a dos bancos, incluindo a taxa de retorno sobre o capital. Mas Contador expõe, ainda, outros fatores favoráveis ao desenvolvimento do seguro, como novas classes de consumidores e novos nichos de mercado.

O economista Lauro Vieira de Faria, assessor da Funenseg, não duvida que a demanda por seguro aumente no Brasil e nos demais mercados desenvolvidos, considerando a perspectiva de crescimento da economia mundial, mesmo nos países que ainda enfrentam crise. Daí porque entende que o seguro brasileiro já é “mais importante que bancário”, considerando que o seguro é um “bem superior”. Essa tendência é confirmada, a seu ver, diante da cada vez maior integração entre os produtos financeiros e os produtos de seguro.

Ele cita o exemplo dos Estados Unidos, por exemplo, onde a compra de apólices de seguro de vida dá direito ao segurado de resgatar no final da vigência do contrato os recursos acumulados em poupança. O produto é semelhante ao VGBL brasileiro, que classifica como “fantástico, porque une um produto financeiro com seguro”. Para o economista, a tendência é que os mercados de seguro e bancário se fundam, com predominância do seguro, que, afirma, “tem maior elasticidade”.

Estas e outras análises de Pedro Mello, Cláudio Contador e Lauro Faria foram realizadas durante o debate “Risco, incerteza e crise financeira: será que as ideias de Keynes continuam atuais?”, promovido na última quarta-feira, 15 de maio, pela Funenseg, em São Paulo (SP). Pedro Mello, que é autor dos livros “John Maynard Keynes e sua atuação no mercado de seguros” e “De Keynes à crise econômica atual de 2012”, analisou a aplicação das teorias do economista inglês também sob o ponto de vista da gestão de reservas das empresas de seguros.

John Keynes (1883-1946), que foi presidente de seguradora, defendia a intervenção do Estado como regulador das práticas econômicas. Sua teoria ganhou destaque em meados de 1930, época em que o capitalismo enfrentou uma de suas mais graves crises. Segundo a doutrina keynesiana, nos momentos de retração econômica que precedem as crises, o Estado deve agir para conter o desequilíbrio da economia, por meio de investimentos e da oferta de linhas de crédito.

Gestão financeira

De acordo com Pedro Mello, a maior contribuição de Keynes ao seguro se refere à sua teoria em relação ao risco. Para Keynes, pouco adiantava as seguradoras se esforçarem para inovar em produtos e serviços, se, pouco tempo depois, as ideias seriam copiadas por todo o mercado. “A única maneira de inovar, na visão de Keynes, era por meio da gestão financeira dos ativos”, relata Pedro Mello. Foi nesse contexto que o economista inglês introduziu o conceito da incerteza, que se baseia na ausência de probabilidades. Embora não tenha se destacado na condição de presidente de seguradora, já que os resultados da empresa oscilavam sob sua gestão, Keynes dispunha de argumentos consistentes na defesa de uma postura mais agressiva de investimento.

Pesquisando em documentos históricos da seguradora, Pedro Mello descobriu que Kaynes insistia na tese de que a empresa poderia contribuir o desenvolvimento da economia e, consequentemente, para a geração de empregos, se ao invés de aplicar em títulos do governo, arrisca-se em aplicações no mercado de ações ou em commodities. Foi com esta tese de estímulo ao consumo que Keynes pretendia combater a crise de 1929. Para Cláudio Contador, algumas teorias do economista inglês podem servir ao mercado de seguros brasileiro.

Lembrando do ditado de que “não se deve colocar todos os ovos numa mesma cesta”, ele afirmou que pela teoria keynesiana não seria errado as seguradoras diversificarem suas aplicações, considerando que a taxa de juros, por mais que aumente, jamais atingirá os altos patamares do passado. “O cenário mudou e as seguradoras devem dar mais atenção para a gestão do seu risco industrial e olhar de outra forma a administração de sua reserva. Não tem nada demais começar a assumir um pouco mais de risco”, disse. Para ele, esta é a hora da verdade para o mercado segurador. “Está na hora de as seguradoras atentarem para as ideias de Keynes e investirem na melhor gestão de seus recursos”.

Revendo o microsseguro

Questionado sobre as perspectivas para o microsseguro, que ainda não alcançou o desenvolvimento almejado, Contador revelou que o mercado de seguros está revendo suas expectativas em relação a esse seguro. “Esperava-se atingir um público de 100 milhões, mas hoje, já se fala em 40 milhões ou menos”, disse. Ele frisou que essa revisão de público-alvo não significa, entretanto, que o segmento não tenha grande potencial.

Para Contador, está claro que o mercado de microsseguro precisa ser mais bem trabalhado, especialmente, em relação aos canais de comercialização. Sua aposta de desenvolvimento para o seguro está em outros nichos, como seguro D&O e seguro rural. Já para o economista Lauro Faria, a maior “contradição” do microsseguro é ser um seguro de danos para quem não tem propriedade. Embora produtos como o seguro funeral tenham boa aceitação, segundo ele, não se enquadram no conceito de microsseguro. “Sem o subsídio do governo, será muito difícil para o microsseguro”, afirmou.

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