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A aula de direção da Localiza

Fonte: IstoÉ Dinheiro

Poucos eventos são tão traumáticos e delicados na vida de uma companhia, sobretudo nas de controle familiar, que representam 80% dos oito milhões de empresas brasileiras, do que uma sucessão no comando. O potencial para gerar conflitos entre herdeiros e acionistas e de espraiar a insegurança nos escalões inferiores é grande quando a troca não é conduzida como manda o figurino. No começo de maio, a mineira Localiza, líder nacional do mercado de locação de veículos, mostrou o caminho a ser seguido. Sem alarde ou repercussão nos pregões da bolsa de valores, Eugênio Mattar, 60 anos, assumiu a cadeira de CEO da companhia no lugar do irmão mais velho, Salim, 64, que passou para a presidência do conselho de administração. 
 
Negócio em família: o CEO Eugênio Mattar (à esq.) assumiu a companhia
no lugar do irmão, Salim, em uma transição que levou cinco anos 
 
A mudança ocorreu serenamente, após mais de cinco anos de preparação. “Anunciamos a troca e a minha indicação para presidente com muita antecedência, em 2008, de forma suave, exatamente para não assustar ninguém dentro e fora da empresa”, disse Eugênio à DINHEIRO. “As sucessões podem gerar traumas, por não se saber o que irá acontecer. Por isso, fizemos tudo transparente, com todos os riscos bem calculados, decisões que são cruciais para a perenidade da empresa”, acrescentou Salim. A estratégia, de fato, demonstrou-se acertada. Fundada em 1973, em Belo Horizonte, a empresa faturou R$ 3,2 bilhões no ano passado, com uma frota de 110 mil veículos. 
 
Listada na Bovespa, seu valor de mercado chegava a R$ 7,2 bilhões na última semana de junho. Qualquer manobra desatenta poderia colocar em risco o desempenho da empresa, em especial aos olhos dos investidores, o que não ocorreu. No ano passado, na reta final do processo de troca de presidente, as ações da Localiza valorizaram 48,5%, enquanto a bolsa subiu apenas 7,4%. No acumulado deste ano, até a quarta-feira 26, o valor das ações da Localiza recuava 16%, contra uma queda de 24,6% do Ibovespa. Atualmente, 32% do capital da Localiza está nas mãos dos fundadores irmãos Mattar e de seus sócios Antônio Cláudio Brandão Resende e Flávio Brandão Resende. Os 68% restantes das ações estão pulverizadas no mercado. 
 
Aeroporto de Campinas: a Localiza pretende intensificar sua atuação nos principais terminais do País
 
Além da transição planejada com uma antecedência raramente vista, o grande trunfo da Localiza nesse processo foi a transparência. Logo que a substituição de Salim por Eugênio foi definida e anunciada, em 2008, a empresa tratou de informar ao mercado cada passo que daria nos próximos cinco anos. O dimensionamento dos eventuais riscos foi calculado pela consultoria Booz & Company, que ajudou a traçar um plano pré e pós-sucessão e a fazer uma avaliação minuciosa das competências e missões dos executivos da companhia. A atribuição das funções de cada profissional foi definida em uma espécie de estatuto. A reorganização da cúpula ajudou a evitar conflitos internos e disputas de poder entre os sócios, algo recorrente nas empresas em fase de sucessão. 
 
“Ganhamos clareza de direção, em todos os sentidos”, disse Eugênio. Os especialistas aprovam esse processo. “Empresas do porte da Localiza são mais sensíveis ao comportamento de seus presidentes, por isso requerem uma preparação mais longa, sem rupturas”, afirma o economista Alcides Leite, especialista em mercado financeiro. Sucessão concluída, com Eugênio ao volante a Localiza precisará manter o plano de expansão em países da América do Sul, defender sua fatia de 43,8% no mercado de rent a car e reforçar sua estratégia de ser vizinho dos principais aeroportos do País.
 
Um levantamento da consultoria americana Booz & Company confirma que as sucessões como a da Localiza estão ocorrendo com menos frequência, principalmente em razão das recentes turbulências no mercado. O estudo constatou que a rotatividade dos CEOs nas empresas brasileiras caiu de 22,8% para 19,8% entre 2011 e 2012. Para este ano, espera-se que o índice fique mais próximo da média mundial, de 15%, confirmando a tese de que, em tempos de turbulência, a prudência recomenda não mexer nas estruturas de mando. “Em momentos de crise, os conselhos de administração são mais conservadores em promover mudanças”, diz Carlos Eduardo Gondim, diretor da Booz & Company. “Existem riscos embutidos nas sucessões. Se a transição não for bem planejada, a chance de fracasso é enorme”, afirma.

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