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Prejuízos pressionam resseguradoras locais a elevar preços

Fonte Valor Econômico

Por Thais Folego | De São Paulo

A competição acirrada começa a deteriorar a última linha do balanço das resseguradoras (as seguradoras das seguradoras), mas ainda assim os preços praticados nesse mercado continuam baixos. Todos os fatores apontam que as empresas devem aumentar as taxas para recompor suas margens, mas a reação ainda não se concretizou. "Há uma perspectiva de aumento das taxas, o difícil é dizer quando", diz Angelo Colombo, presidente da AGCS Brasil, resseguradora do grupo Allianz.

As resseguradoras locais, aquelas que operam no país com capital mínimo de R$ 60 milhões, tiveram de janeiro a março o seu primeiro prejuízo para o período desde a abertura do mercado de resseguros no Brasil, em 2008. Juntas, as 14 resseguradoras locais respondem por 70% da receita do mercado brasileiro. De janeiro a março, esse grupo registrou um prejuízo de R$ 42,6 milhões, ante um lucro de R$ 97,1 milhões em igual período de 2012, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) compilados pela resseguradora Terra Brasis.

"Vale notar, entretanto, que historicamente o resultado do primeiro trimestre é pouco correlacionado com o resultado anual", observa Rodrigo Botti, diretor de riscos da Terra Brasis, do Brasil Plural.

Esse resultado é consequência do maior volume de indenizações pagas, fenômeno que é visto desde o ano passado, mas que em 2012 foi compensado pelo resultado de retrocessão de resseguro - operação para mitigar riscos em que a resseguradora cede parte dos riscos e do valor que recebeu para cobri-los a outra resseguradora. Neste ano, esse tipo de operação continua dando resultados positivos, mas não na proporção suficiente para cobrir o buraco deixado na conta pelo maior volume de indenizações. O volume de sinistros pagos no primeiro trimestre saltou 164,7% na comparação anual, para R$ 783,5 milhões. Isso ocorre porque o risco está mais concentrado nas resseguradoras locais, além de sinistros pontuais que acabam sendo contabilizados em apenas um trimestre.

"Não vejo um cenário de elevação de taxa, porque ainda vemos mais empresas entrando do que saindo do mercado, ou seja, ainda tem muita capacidade [de absorção de riscos]", diz Bruno Freire, diretor-executivo da Austral Resseguradora, da gestora Vinci Partners. Desde o fim do monopólio do IRB, em 2008, mais de 100 resseguradoras nacionais e estrangeiras entraram no mercado no Brasil. "Por pior que seja, ainda tem negócios e ninguém quer ser o primeiro a começar a subir os preços", diz Colombo, da AGCS.

Em alguns segmentos de negócios, as taxas, inclusive, continuam caindo. O que é o caso de riscos de engenharia e responsabilidade civil, afirma Colombo. De janeiro a maio, segundo os últimos dados da Susep, a receita de seguros de engenharia caiu 16% em relação a igual período de 2012, para R$ 261,3 milhões, em grande parte por causa da queda dos preços. Por outro lado, o volume de indenizações cresceu 119% na mesma base de comparação, para R$ 160,4 milhões.

Em outros segmentos, porém, as taxas estão estáveis, e as últimas renovações de apólices têm mostrado condições mais restritas por parte das seguradoras, o que costuma preceder um aumento de taxas. É o caso dos segmentos de seguro de petróleo e aeronáutico, segundo Colombo.

As taxas também tendem a subir no seguro garantia, que cobre a entrega de obras e serviços conforme o contrato. O governo negocia com o setor a elevação dos percentuais de cobertura desse seguro para obras públicas, dos atuais 5% do valor total do projeto para cerca de 30%, com alguns projetos podendo chegar a 45%. Com a maior demanda, o preço pode subir.

O menor otimismo com os mercado emergentes, em particular com o Brasil, por levar a uma postura mais racional e ponderada na avaliação de risco, o que pode influenciar no endurecimento das taxas de resseguro, avalia Botti.

Outro fator que também vem pressionando o resultado do setor é o patamar mais baixo das taxas de juros, o que afeta o resultado financeiro, importante componente do ganho das resseguradoras.

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