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Golpe em auxílio-funeral

Fonte: Correio Braziliense

Empresas montam esquema com funerárias e desviam, em média, 50% dos recursos destinados aos enterros

 A morte é um descanso, acreditam alguns. Porém, para quem enterra seus entes queridos, a dor está apenas começando e nem sempre é respeitada diante de tantas irregularidades, incertezas e denúncias que envolvem todo o processo de um funeral. O embate entre empresas intermediárias de assistência, seguradoras e funerárias deixa os consumidores no prejuízo justamente na hora do maior abalo emocional, por causa do desvio de parte do dinheiro que deveria cobrir as despesas. Em média, 50% dos recursos desaparecem.

 Os serviços são contratados por meio de planos negociados em redes de varejo (garantias estendidas), em funerárias ou por companhias reconhecidas no mercado de seguridade. Os clientes se queixam de funerais com péssimos serviços e até de caixões de padrão muito baixo.

 Os golpistas se aproveitam da falta de condições emocionais das pessoas em lidar com questões práticas no momento da perda. Foi o que aconteceu com Lourdes de Souza (nome fictício), que teme retaliações. Ela conta que, ao perder o cunhado, há um mês, a urna funerária apresentada era praticamente a mesma concedida aos indigentes e os alimentos servidos durante o velório estavam estragados.

“Não tivemos nada do que estava no contrato. Nem mesmo as velas foram colocadas. Foi muito triste ver que pagamos para ter uma segurança nessa hora e nada ocorreu como se esperava. Nos sentimos impotentes, num momento em que estávamos muito tristes”, diz. Moradora de Anápolis (GO), Lourdes afirma não querer se envolver demais, nem denunciar o fato pelas vias competentes porque a família ainda está de luto.

 Farra antiga

 Golpes como esse são bastante comuns, denuncia o diretor da Funerária Boa Esperança, em Valparaíso de Goiás (GO), Fernando Viana. “As empresas de assistências das seguradoras, chamadas plataformas, além de tirar em do cliente o direito de escolha da funerária, ficam com parte do dinheiro do seguro e contratam serviços por preços menores. As funerárias que fazem parte do esquema, que aceitam dar nota no valor do seguro e fazer o funeral por muito menos, são sempre beneficiadas”, revela.

 Com seguro feito pela empresa onde trabalha, o garçom Francisco de Assis Lima Castro, de 37 anos, tentou utilizar o auxílio-funeral de R$ 10,8 mil ao perder o filho de 11 anos no fim do ano passado. Contratou a funerária Boa Esperança, mas, ao conversar com o diretor Fernando Viana, constatou que a plataforma terceirizada, que redireciona o benefício, no caso a Global do Rio Grande do Sul, havia repassado apenas R$ 5 mil para o serviço funerário.

 Incomodado, Francisco tentou contactar os responsáveis pelo seguro para reaver os R$ 5 mil restantes, mas foi informado de que não poderia recuperar o dinheiro, que já havia sido repassado para um intermediário. “Eu só queria paz, não quis me aborrecer com a seguradora, mas fui prejudicado”, lamenta. Na apólice de Francisco, o valor é claro: auxílio funeral de R$ 10,8 mil. Mas ele não pôde dar ao filho o funeral que gostaria, pois só contou com a metade do valor a que tinha direito por contrato.

 Como muitas pessoas desconhecem o esquema de desvio nos auxílios-funerais, quase não existem reclamações sobre o assunto no Instituto Brasileiro de Estudos e Relações de Consumo (Ibedec). O presidente da entidade, José Geraldo Tardin, ressalta que “as pessoas não recorrem aos órgãos de proteção nesse tipo de situação, devido ao momento de dor”. Para ele, “ninguém quer levar esse tipo de denúncia adiante”.

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