Breaking News

Previdência segue com resgates, mas em ritmo menor

Fonte: Valor Econômico

Por Alessandra Bellotto | De São Paulo

Os fundos de previdência aberta, que encerraram o mês de julho com resgates líquidos pela primeira vez em pelo menos cinco anos, seguiram amargando saídas em agosto, porém em ritmo menor. No mês passado, o saldo líquido de aplicações ficou negativo em R$ 199,01 milhões. E, desta vez, as saídas foram concentradas nas carteiras que destinam parcela para a renda variável. Em julho, os saques haviam alcançado R$ 1,041 bilhão, sendo R$ 662,4 milhões na renda fixa.

Os números mostram que os investidores começam a se recuperar do baque vivido desde maio, com os fundos de renda fixa amargando perdas dada a forte volatilidade dos mercados nos últimos meses e o consequente aumento das taxas dos títulos públicos prefixados e indexados à inflação. Desde o ano passado, com o juro caminhando para as mínimas históricas, os gestores de previdência passaram a buscar alternativas para agregar retorno em títulos públicos mais longos, prefixados e atrelados à inflação. Mais recentemente, esse movimento foi reforçado por conta de uma resolução do governo que obrigou os gestores a iniciar a substituição de aplicações de curto prazo e indexadas à Selic por papéis mais longos.
 
 
 
.
Mas o investidor de previdência mostrou que não está preparado para volatilidade, para o risco, na renda fixa, ressalta Sergio Prates, diretor da Icatu Seguros. Ele conta que, mesmo na seguradora, que conta com produtos mais sofisticados, ou seja, não chegou a alterar o prazo nem o tipo de papel das carteiras-mãe que recebem as aplicações dos planos, o cliente também se assustou com a volatilidade dos fundos. Segundo Prates, houve migração dos fundos com foco em títulos de inflação para carteiras mais conservadoras ou multimercados, com estratégias mais diversificadas.

Muito desse comportamento, na visão dele, está associado à idade do investidor. "Grande parte do estoque em previdência hoje está nas mãos de investidores com mais de 55 anos, que não toleram risco e se preocupam com a preservação de capital", afirma. E, apesar de os títulos prefixados e ligados à inflação serem um aposta boa para longo prazo, Prates diz que muitos gestores e seguradoras buscaram alternativas para reduzir o risco no curto prazo.

Para Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos, a discussão sobre resgates em previdência por conta de um cenário macro ruim de curto prazo não deveria estar acontecendo. "O investidor de previdência não deveria se sensibilizar tanto com a volatilidade de curto prazo", argumenta. Segundo ele, quem saiu da previdência nos últimos meses fez isso no pior momento, e ainda deixou uma taxa gorda na mesa.

Mello lembra, ainda, que foi a estratégia de aumentar a exposição em prefixados e títulos atrelados à inflação que rendeu ganhos acima do CDI ao longo do ano passado para a indústria de previdência em geral, quando o juro caiu para o menor nível da história. E deve continuar rendendo ganhos, acrescenta.

"O cenário é bom daqui para frente para quem tem pré ou títulos indexados à inflação, uma vez que esses papéis tendem a se recuperar", afirma Mello. Segundo o executivo, os ativos já se depreciaram muito, ou seja, a chance de esses papéis terem resultados positivos é maior. Isso vale para quem está considerando entrar na previdência, já que as taxas embutidas nos papéis estão atrativas.

Prates, da Icatu, ressalta ainda que o governo também já mostrou que está aberto a conversas sobre como fazer o ajuste das carteiras dos fundos para ativos de mais longo prazo, que fazem todo sentido para a previdência. Alguma flexibilização do prazo, que a princípio vai até 2015, não está descartada, mas certamente vai ser preciso investir em educação financeira. "A indústria vai ter que melhorar a venda dos produtos de previdência para o cliente novo, vai ser preciso investir em educação do cliente", acredita Prates. E o resultado, diz, pode ser a criação de produtos melhores, mais inteligentes.
 
 

Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario