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Entrevista: Edward Lange Edward Lange, CEO da Allianz Seguros no Brasil

Fonte: IstoÉ Dinheiro

"O esfriamento da economia não afeta os grandes projetos"

A perspectiva de um crescimento mais tímido do PIB brasileiro para este ano e para o próximo, que deverá ficar em torno de 2,5%, tem levantado dúvidas em relação à capacidade de o País executar - e concluir - seus grandes projetos em andamento

Especialmente no campo da infraestrutura. No entanto, o executivo alemão Edward Lange, presidente da subsidiária brasileira da Allianz Seguros, o maior grupo segurador do mundo, com sede em Berlim, não deixa de adotar uma postura otimista em relação aos rumos da economia, apesar da conjuntura mais adversa. Acostumado a trabalhar num setor em que o risco é constante, Lange está mais do que convencido de que obras como a ampliação de portos e aeroportos, a modernização de estádios para a Copa do Mundo de 2014, a construção de hidrelétricas e ferrovias, entre outras, estão garantidas, sustentadas em estratégias de longo prazo. Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista exclusiva à DINHEIRO:

DINHEIRO – É possível acreditar que os projetos na área de infraestrutura serão mantidos, mesmo em um cenário de desaquecimento da atividade econômica?

EDWARD LANGE – Não tenho nenhuma dúvida de que a atual situação de esfriamento da economia, e de maior receio em relação ao futuro, não afetará nenhum grande projeto. Os grandes investimentos no País são baseados na evolução da economia nos últimos anos e na perspectiva de continuidade da expansão. Além disso, precisam ser rigorosamente cumpridos, de acordo com os contratos definidos em licitações. Pouco importa se o ritmo de crescimento tem diminuído.

DINHEIRO – Mas os grandes investimentos são definidos de acordo com uma perspectiva de demanda maior no futuro, que poderá não existir se o País parar de crescer...

LANGE – Sim, mas essa demanda futura já existe hoje. É fácil enxergar que vários setores da economia brasileira estão operando com uma infraestrutura superdefasada, que reflete a produção do País de 20 ou 30 anos atrás.

DINHEIRO – Quais são esses setores?

LANGE – Existem vários, mas posso citar o agronegócio como um deles. O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas possui uma infraestrutura que não condiz que esse tamanho. Trata-se de uma atividade que vai evoluir demais nos próximos anos, tanto em infraestrutura quanto na área de seguros, que é nossa especialidade. Atualmente, apenas 15% dos produtores rurais do País possuem algum tipo de seguro. Mesmo assim, o Brasil é o segundo maior mercado do mundo para seguro agrícola. Na Europa e nos Estados Unidos, mais de 90% da produção agrícola é segurada.

DINHEIRO – Então o Brasil é um mercado nanico para o setor de seguros?

LANGE – De forma alguma. Apesar da baixa utilização de seguros, o País é um mercado gigantesco. Dentro dos negócios globais da Allianz, um grupo que obteve receita de quase € 106,4 bilhões no ano passado, a operação brasileira é duas vezes maior do que a de toda a Ásia. É um mercado equivalente ao da Espanha e representa 70% de toda a América Latina. E a evolução tem sido impressionante. No ano 2000, o mercado brasileiro não aparecia nem entre os top dez do mundo. Atual­mente, é o oitavo. Antes de 2015, acredito, será o quinto maior mercado mundial.

DINHEIRO – Apenas o Brasil possui esse potencial?

LANGE – Para o mercado de seguros e para a Allianz, Brasil e Turquia possuem os maiores potenciais de crescimento nos próximos anos. Na maior parte das grandes economias, o setor é maduro e o espaço para crescimento é menor. O mercado brasileiro, em relação à Turquia, tem a vantagem de possuir um sistema bancário muito sólido e um mercado consumidor em ascensão. Os bancos atuam como seguradoras e têm sido um importante canal de vendas. Quem não opera com seguros, faz parcerias. Os bancos HSBC e Safra, por exemplo, oferecem alguns seguros da Allianz.

DINHEIRO – As grandes obras da Copa e da Olimpíada impulsionaram os negócios na área de seguros?

LANGE – Não apenas as obras da Copa do Mundo, mas todas as grandes obras em infraestrutura têm puxado o setor de seguros, desde a construção de hidrelétricas até a ampliação dos portos e aeroportos. A demanda por seguros de grandes riscos, um setor em que somos especialistas, cresceu muito no País nos últimos anos em razão do PAC, é verdade. Mas acredito que a expansão do setor está principalmente no varejo. Hoje, cerca de 80% do nosso faturamento de R$ 4 bilhões neste ano virá do varejo. Investir em marca, tecnologia, pessoas e canal de distribuição são as bases da companhia para atingir a meta de faturamento de R$ 5,8 bilhões em dois anos. E vamos atingir esse objetivo. Para se ter uma ideia, o número de cotações duplicou: em apenas um ano, passou de 400 mil, em 2012, para mais de um milhão neste ano. Ou seja, a necessidade de seguro está aumentando cada vez mais.

DINHEIRO – Investir em esporte é um dos pilares da estratégia da empresa no País?

LANGE – Não só o esporte. O mercado de saúde e o agronegócio também chamam muito a nossa atenção. Mas há oportunidades para onde quer que se olhe, e o futebol é uma delas. Associamos a nossa marca ao esporte ao assinar o naming rights do estádio do Palmeiras, em São Paulo. O Allianz Arena é o quinto estádio do mundo a receber a nossa marca. Já possuímos o naming rights da Allianz Arena, na Alemanha, do Allianz Stadium, na Austrália, do Allianz Park, na Inglaterra, e da Allianz Riviera, na França.

DINHEIRO – Por que a Allianz, a maior seguradora do mundo em faturamento, tem uma fatia de apenas 7% do mercado brasileiro?

LANGE – Isso vai mudar. Fizemos um planejamento estratégico muito sério no País e estamos preparados para melhorar nossa posição no Brasil. Apesar da estratégia, nosso foco não é volume, mas rentabilidade. Sabemos que só cresceremos mais e com solidez quando nos tornarmos uma referência de qualidade. No segmento de automóveis, já somos o quinto no ranking nacional. Em saúde, estamos na sétima colocação. Em dez anos, devemos estar entre os três primeiros em cada segmento e na liderança das seguradoras não ligadas a instituições bancárias. Vamos perseguir esse objetivo.

DINHEIRO – Como é estar entre os três primeiros em um mercado muito disputado por outras grandes seguradoras?

LANGE – O mercado de microsseguros ainda é um campo pouco explorado no País, com perspectivas fantásticas. Queremos avançar nesse segmento e acredito que estamos no caminho certo. Temos mais de 70 mil clientes em todo o mundo, que, se estivessem vivendo no Brasil, se enquadrariam na chamada classe C, com renda familiar entre R$ 1,6 mil e R$ 3 mil por mês. Sabemos como vender seguro para esse público. Há mais de 100 milhões de brasileiros na classe C que ainda não possuem nenhum tipo de seguro. Por isso, estamos olhando o mercado brasileiro e todas as suas possibilidades de negócios.
Colheita de soja em Mato Grosso, o maior produtor de grãos do País

DINHEIRO – Por que a Allianz não opera no setor de previdência privada?

LANGE – Decidimos não entrar nesse mercado há muito tempo, embora exista um grande potencial de crescimento. Mesmo assim, decidimos ficar de fora por uma questão estratégica.

DINHEIRO – A reduzida participação da Allianz no Brasil, atualmente, é reflexo de um aparente desinteresse pelo País no passado?

LANGE – Não. Nossa relação com o País é antiga e sólida. Estamos no Brasil há mais de um século, operando em todo as regiões, com mais de 60 filiais e mais de 14 mil corretores. Só não somos mais conhecidos no varejo porque nossa atuação, historicamente, era focada no seguro corporativo, de grandes obras. No mundo, também sempre tivemos esse perfil. Seja como seguradora ou resseguradora, a Allianz cobriu prejuízos causados pelo grande terremoto de 1906 em São Francisco, nos Estados Unidos, e do naufrágio do Titanic, em 1912. Também segurou o Programa Espacial da Nasa e a construção do Eurotúnel, que liga a França à Inglaterra. Hoje também atuamos como a principal seguradora de Hollywood, nos EUA, e de Bollywood, na Índia.

DINHEIRO – Ao assumir a Allianz, pouco mais de um ano atrás, sua primeira decisão foi abolir o uso da gravata e implementar o "short friday", dispensando os funcionários às 14h de sexta-feira. Por quê?

LANGE – O grupo Allianz possui mais de 142 mil funcionários em 70 países. No Brasil, são quase 1,4 mil. Uma das coisas que aprendemos é que funcionário feliz e descansado produz mais e melhor. Queremos cul­­­tivar essa cultura aqui.

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