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Roubos tornam seguro de carros em Maceió um dos mais caros do país

Fonte: G1

Em junho deste ano, polícia registrou 4.1 roubos de carro por dia.
Índice ultrapassa o de 2012; polícia quer reduzir com prisão de quadrilhas.
 
Na última sexta-feira (25), quando o universitário Plínio Gomes, 24, retirava os pertences do seu carro, um Fiesta Hatch, para o gincho levá-lo a uma oficina, quase foi assaltado por dois homens em uma moto na Rua Abdon Arroxelas, no bairro da Ponta Verde, em Maceió. O carro havia sido arrombado na noite anterior, e um novo crime só não aconteceu porque ele, “escaldado” com a onda de assaltos na rua onde mora, observou o movimento suspeito dos rapazes e conseguiu fugir.

“Na quinta-feira, notei que o vidro do carro tinha sido forçado, porque estava aberto até a metade. No outro dia, quando fui abri-lo, o alarme não funcionou, então constatei que o cabo da bateria tinha sido cortado e o som do veículo tinha sido levado. Quando estava tirando o estepe do carro, quase fui assaltado. Está demais a quantidade de roubos a carros aqui na região. Os vizinhos também vivem reclamando. O medo é que em uma próxima vez eles me abordem dentro do carro ou se assustem com alguma reação”, contou Gomes.

Com uma média de mais de quatro veículos roubados por dia na Grande Maceió, de acordo com dados da Polícia Civil, o índice de violência deixa de ser apenas um problema social e de Segurança Pública e se torna também uma problemática no setor econômico.
 
                         Média de preço do seguro no mês de setembro deste ano. (Foto: Reprodução )


Segundo dados do Sindicato dos Corretores de Seguros e de Capitalização, Previdência Privada e de Saúde no Estado de Alagoas (Sincor), a capital alagoana tem, proporcionalmente, um dos seguros de veículos mais caros do Nordeste e de regiões metropolitanas do Brasil. A diferença pode chegar a mais de 15%, a depender do mês.

Em setembro, a Sincor comparou o valor do seguro de três carros: L200, Gol e Civic entre quatro cidades metropolitanas e Maceió. Tanto no sexo feminino, quanto no masculino, a capital alagoana aparece com valores superiores ou aproximados às outras capitais. Levando em consideração o tamanho das outras cidades e o número de frota, o maceioense paga mais caro proporcionalmente.

Essa oneração não passa despercebida no bolso dos motoristas. O servidor público Herman Nardelli, 33, contou à reportagem do G1, que apesar de fazer cotações de preço e pesquisas pelas melhores propostas de seguradoras, vem sentindo o aumento na apólice do carro. "Noto que a diferença é grande aqui em Maceió, pois morei cinco anos em João Pessoa e, só pra transferir o seguro de lá para cá, houve um acréscimo de R$ 350", disse.
 
"Tenho carteira de motorista há mais de 10 anos, não fumo, não bebo e isso deveria contar a favor. A cada ano que aumenta a classe de bônus do meu seguro, penso que terei um bom desconto, mas isso não acontece por causa dos reajustes. Por causa disso, acabo tendo que negociar e retirar alguns itens da cobertura", completou Nardelli, que possui um Honda Civic e paga cerca de R$ 1.650 de seguro.
Precificação

 O diretor do Sincor, Djaíldo Almeida, explicou à reportagem do G1, que quando a companhia corretora avalia o preço do mercado, ela analisa o índice de sinistralidade, ou seja, colisões e roubos, além do perfil do condutor. "Há variantes na precificação do seguro, como o sexo do condutor, idade, se ele é esporádico ou habitual. Há uma faixa etária entre os 18 e 35 anos em que tanto para mulher e homem, o preço é agravado, devido à inexperiência, euforia da juventude. Esse aumento chega de 10 a 20% no valor do seguro", disse.

"Por mês as seguradoras avaliam o número de carros roubados, os modelos mais visados pelos ladrões e, no mês seguinte, já há o reajuste. Por serem mais atrativos aos ladrões, os seguros dos carros populares, como o Gol, o Uno Mille, o Pálio e dos carros com motores mais potentes, tipo L200, são mais caros. Outros carros utilitários que antes não era tão roubados já começam a aparecer na nossa lista, como o Sandero e o I30”, completou.
 
O titular da Delegacia de Roubos de Veículos, delegado Valdir Carvalho, confirmou à reportagem que esses modelos de carros são escolhidos pelos assaltantes para serem utilizados em outros crimes. “Para clonagem ou dublês de carros em outros estados, também são utilizados no desmanche de peças e, claro, para a participação em assaltos a bancos e outros delitos”, disse.

Números

 De fato, alguns números do diretor do Sincor se assemelham muito aos da polícia. O delegado mostrou à reportagem do G1 um relatório comparativo de roubos e furtos de veículos em 2012 e 2013. “Em 2012 tivemos 1125 roubos a veículos, sendo 789 carros e 336 motocicletas. Até setembro deste ano, tivemos 944 veículos roubados, sendo 552 carros e 392 motos. Ainda é preciso esperar fechar o mês de outubro”, disse.

Em setembro deste ano, mês considerado atípico pelos corretores, a delegacia registrou 119 roubos a veículos na capital, 46 a mais que no mesmo período do ano passado, quando foram registrados 73 roubos. Até agora, o mês de junho foi o campeão de roubos e furtos, totalizando 123, com média de 4.1 veículos roubados por dia.
 
De acordo com o delegado Carvalho, os meses de setembro, outubro e novembro registram um aumento considerável no número de roubos. “Venho observando isso. Acredito que é por ser uma época em que se aproxima do final do ano, que as pessoas estão com dinheiro em mão e esse dinheiro vai para o mercado, então os assaltos crescem”, avalia.
 
Para Carvalho, apesar de o comparativo entre 2012 e 2013 até o mês de setembro já ter registrado um crescimento de ocorrências, a expectativa é de que o saldo anual não seja ultrapassado. “Recentemente prendi uma quadrilha especializada neste crime e os números já começaram a diminuir”.
 
O delegado chegou até a quadrilha após meses de investigação com interceptação telefônica no Sistema Prisional de Alagoas.

Em uma das conversas, um presidiário conhecido como “Vaqueirinho” recebe a ligação de um rapaz, identificado como “Tripa”. Eles conversam sobre roubo de carros e, no diálogo, Tripa dá a relação de carros que possui, mas Vaqueirinho repassa uma nova lista de carros. Durante uma operação, 13 pessoas foram presas e um adolescente apreendido, entre elas o "Tripa".
 
Bairros mais caros

Ao morar nos bairros do Tabuleiro do Martins, Gruta de Lourdes, Pinheiro, Jatiúca, Ponta Verde, Ponta da Terra, Jacintinho entre outros, se paga mais caro pelo valor do seguro, segundo o Sincor. O índice de violência no endereço registrado pela seguradora é um dos fatores que são analisados na hora de precificar a apólice.

“Se o cliente mora em uma área perigosa e com mais índices de violência, isso também agrava o preço”, disse Djaíldo Almeida.

O delegado Carvalho afirmou, que além de algumas regiões na parte alta da cidade, bairros da área nobre vêm sendo alvos constantes de assaltos, devido ao poder aquisitivo dos moradores.
 
A exemplo de um roubo registrado pela câmera de segurança de uma gráfica, localizada na Avenida Álvaro Calheiros, uma das mais movimentadas do bairro de Jatiúca. O equipamento flagrou o momento em que dois homens abordam a motorista de um Fiat Uno, na cor branca, e levam a bolsa e o carro dela. O crime ocorreu por volta das 15h e toda a ação durou cerca de 20 segundos. A vítima não sofreu ferimentos.
 
Contradição

Segundo o delegado, 68% dos carros roubados estão sendo receptados pela polícia. “Esse é um número expressivo, mas o índice de recuperação dos veículos ainda é pequeno e eles ficam aqui encalhando na delegacia”, afirmou.
 
Um dado apontado pelo Sincor, chama atenção pela contradição. Apesar da onda de roubos e furtos a carros crescente no estado todo, o número de carros com seguro é inexpressivo. “Em um universo de 300 mil carros da frota de Alagoas, apenas 30% ou 40% possuem cobertura de seguro. Ainda tem gente que prefere arriscar porque acha que nunca vai acontecer”, afirmou Djaildo Almeida.

Segundo ele, os sindicatos de corretores e seguradoras têm intenção de fazer parcerias com a polícia para conscientização no trânsito e redução de situações que exponham os clientes a roubos.

“A única maneira de estabilizar o preço dos seguros, na minha visão, é diminuindo os índices de colisões, baixando a taxa de roubos, diminuindo as fraudes, como inversão de culpabilidade ou ‘sumiços’ propositais de carros, e se aumentar a massa de veículo segurada no estado”, destacou.

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