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Competição em seguro de carro pode aumentar

Fonte: Valor Econômico

Por Thais Folego | De São Paulo

Se por um lado melhora o resultado financeiro das seguradoras, o atual ciclo de alta da Selic traz de volta o risco de uma "guerra de preços" no segmento de automóvel, como ocorreu entre 2011 e meados de 2012, e causou estragos nos resultados das companhias. Executivos das principais seguradoras que atuam no ramo apontam, porém, que pressões inflacionárias devem reter a agressividade das áreas comerciais e manter os preços estáveis em 2014.

Do valor que as seguradoras recebem pelo seguro, uma parte é separada para constituir reservas para pagar indenizações. Esses recursos são aplicados no mercado financeiro e compõem o resultado financeiro, importante componente do resultado das seguradoras. Quando o retorno das aplicações cresce, abre espaço para uma folga no operacional, ou seja, para baixar o preço cobrado pela cobertura do seguro.

"Neste momento, enquanto ainda vemos competidores estrangeiros com apetite para crescimento (Mapfre junto com BB Seguridade; Liberty como um dos patrocinadores da Copa do Mundo), notamos que as taxas de juros voltaram a aumentar. Assim, com resultados financeiros potencialmente melhores, a concorrência pode se tornar mais uma vez mais feroz", avaliam os analistas do Credit Suisse em relatório recente sobre o setor.

Eles lembram que, desde meados de 2012, a competição tem sido bastante racional, com as seguradoras nacionais e estrangeiras ajustando preços para cima com o objetivo de proteger suas margens em um cenário de juros muito mais baixos e, consequentemente, resultados financeiros menores.

Os analistas do J.P. Morgan vão na mesma linha e observam que a dinâmica competitiva recente tem se mostrado "excepcionalmente" boa. "Estimamos que taxas de referência [de juros] mais altas comecem a tentar as seguradoras a subscrever riscos com margens menores. Nesse sentido, esperamos que a concorrência aumente gradualmente nos próximos meses à medida que o resultado financeiro também melhore", avaliam.

"Não acho razoável colocar a culpa da 'guerra de preços' no aumento dos juros", diz Marcelo Picanço, diretor financeiro e de relações com investidores da Porto Seguro, líder do mercado de seguro de automóveis. Segundo ele, quedas deliberadas nos preços promovidas por algumas seguradoras ocorrem mais por motivos comerciais do que por razões financeiras. "O aumento dos juros possibilita uma redução técnica do preço."

O mercado de seguro de automóveis tem uma característica cíclica, observam os analistas do Bradesco, que estimam que qualquer impacto potencial do aumento da concorrência pode ocorrer apenas no fim do próximo ano.

Segundo Picanço, da Porto, as margens do setor se expandem e se contraem dependendo do cenário, e no momento elas estão boas. "Elas podem cair em algum momento, pode ser em 2014, pode ser em 2015. O que buscamos é preservar a margem", diz o executivo da Porto Seguro. Para ele, o aumento da percepção de risco de investidores estrangeiros sobre o país pode fazer com que as seguradoras de fora adotem uma postura mais "conservadora". "Dizer em que momento essa percepção diminui e elas voltam a ser agressivas em preços é impossível."

Tarcísio Godoy, diretor-geral da Bradesco Auto/RE, também pondera que o atual ciclo de alta da Selic vai ser muito mais "comportado" do que no passado, em torno de dois pontos percentuais, o que não justifica grandes mudanças nos modelos de precificação. "A alta de juros pode mais prejudicar do que beneficiar o setor, porque restringe a demanda por veículos novos e faz com que o crescimento da venda de seguros seja menor."

Outra variável é o aumento do preço das peças e dos serviços de reparo. "Vemos a inflação na casa dos 6%, seria razoável pensar em aumento de preços do seguro. A melhora do resultado financeiro, porém, diminui a pressão de repasse para o cliente, que deve sentir um efeito positivo na renovação", diz Jabis Alexandre, diretor de automóvel do grupo BB Mapfre, vice-líder do mercado.

Essa é uma variável importante para as seguradoras, considerando que 40% das indenizações pagas são para danos parciais, ou seja, para reparos e substituição de peças, segundo Rogério Hashimoto, diretor de automóveis da Zurich Seguros.

Os seguros de automóveis faturaram R$ 19,2 bilhões de janeiro a setembro, 20,5% a mais do que no mesmo período de 2012.
 
 

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