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Seguradoras têm perdas com estádios da Copa

Fonte: Valor Econômico Por Thais Folego Quando as cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 no Brasil foram anunciadas pela Fifa, houve uma corrida entre as seguradoras para fechar o seguro de construção ou reforma dos estádios que receberão os jogos. Isso foi em 2009. Às vésperas do evento, e na reta final das construções, porém, esse não se mostrou um bom negócio para as seguradoras, uma vez que acidentes e atrasos em muitas obras geraram altas indenizações. "A maioria das seguradoras teve prejuízo com os estádios", diz um executivo desse mercado que participou da contratação do programa de seguros de algumas arenas. Por conta da grande concorrência entre as seguradoras, os preços cobrados para dar cobertura às construções foram baixos, muitas vezes abaixo do limite técnico para que a seguradora tenha equilíbrio financeiro na operação - conhecido como risco de subscrição. Dessa forma, em muitas obras, o valor cobrado não cobriu as despesas com indenizações. Em uma grande obra, os seguros mais relevantes a serem contratados são de risco de engenharia (cobre perdas e danos de bens durante a execução do projeto), garantia (cobre a entrega de obras e serviços conforme o contrato) e de responsabilidade civil (de danos corporais ou materiais causados involuntariamente a terceiros). O que soma maior volume é o de riscos de engenharia, pois o valor contratado de cobertura pelas construtoras costuma ser o valor total da obra. No caso dos estádios da Copa, o valor total de construção ou reforma das 12 arenas que vão receber os jogos é de aproximadamente R$ 7,1 bilhões. Já as coberturas de responsabilidade civil e de garantia variam muito e, por isso, é difícil de estimar. "No caso do risco de engenharia, as seguradoras que entraram no final cobraram taxas menores que 0,1% do valor segurado [da obra]", conta um executivo que pediu para não ser identificado. Ou seja, a seguradora cobrou R$ 1 para a cobertura de cada R$ 1 mil de risco. Uma taxa mais técnica seria próxima de 0,4%, segundo esse executivo. Dos 12 estádios da Copa, pelo menos 9 tiveram algum tipo de problema com acidentes, greves ou mesmo morte de operário, trocas de construtoras e danos causados por fortes chuvas, que provocaram atrasos em alguma medida (veja quadro). A maior parte desses eventos geraram ou tem potencial para acionar o seguro da obra. Talvez o caso mais emblemático foi o da Arena Corinthians, estádio apelidado de Itaquerão, por se localizar no bairro de Itaquera, na zona Leste da capital paulista. No fim do ano passado, na reta final da construção, um guindaste que colocava a última parte da cobertura da arena caiu, o que destruiu parte da estrutura do estádio e causou a morte de dois operários. O estádio receberá o jogo de abertura da Copa do Mundo e é construído pela Odebrecht, que teve que alterar o cronograma por conta do acidente. O Valor apurou que o prejuízo com o acidente já chega a R$ 35 milhões. Procurada, a Odebrecht informou por meio de sua assessoria de imprensa que o valor final dos prejuízos ainda estão sendo apurados. Os custos, porém, devem ser indenizados por seguro. São três apólices que podem ser acionadas: a da própria obra (a Odebrecht contratou seguro da Zurich); da empresa fabricante do guindaste; ou da operadora do equipamento. Isso vai depender da apuração da causa do acidente. A apuração dos prejuízos e das responsabilidades de um caso como esse (o que no jargão do mercado de seguros chama-se regulação de sinistro) pode levar meses. Nesse período, a construtora tem que bancar a retomada da obra e pode pedir um adiantamento da indenização para a seguradora. O seguro de engenharia trabalha na base do ressarcimento, ou seja, a construtora paga os prejuízos para depois receber da seguradora. Outras arenas enfrentaram mais de um problema, caso do Maracanã. Primeiro, foi a saída, no começo de 2012, da construtora Delta do consórcio que reformou o estádio depois que a empresa se envolveu em escândalos de corrupção. Quase um ano depois, uma chuva forte alagou o estádio, chegando a deixar máquinas submersas. Na Arena do Pantanal, em Cuiabá, a construtora Santa Bárbara saiu do consórcio construtor no meio das obras, por problemas financeiros, e deixou a Mendes Junior e suas subempreiteiras sozinha na obra. Além disso, um incêndio de pequenas proporções atingiu o canteiro de obras em uma área de estocagens, em outubro do ano passado. Por fim, a compra das cadeiras do estádio foram alvo de investigações do Ministério Público, o que atrasou a colocação dos assentos na arena. Além da Zurich, Allianz e Tokio Marine foram as seguradoras que fizeram o maior número de apólices de riscos de engenharia para os estádios. Procuradas, nenhuma quis fazer um balanço das obras, alegando que têm contrato de confidencialidade com seus clientes. Na época que ganharam os contratos, porém, elas divulgaram à imprensa. A Tokio Marine, por exemplo, ficou com o seguro do Beira Rio, estádio de Porto Alegre que foi reformado para receber os jogos do Mundial. A seguradora de origem japonesa também fechou contrato com a WTorres para a Arena Palestra Itália, que não faz parte dos estádios escolhidos para a Copa, mas também teve acidente que resultou na morte de um operário. A Zurich tem grande parceria com a Odebrecht e participou da maioria dos programas de seguros dos estádios que a construtora levantou ou reformou - são elas: Arena Corinthians, Arena Pernambuco, Arena Fonte Nova e o Maracanã. A AIG também participou de alguns contratos, com o seguro de responsabilidade civil ou como coseguradora. Já a Allianz participou dos seguros do estádio do Mineirão, da Arena da Amazônia, do estádio Castelão e da Arena das Dunas. Também participou do programa de seguros do estádio do Grêmio, que foi reformado recentemente, mas que não vai receber os jogos da Copa.

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