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Niteroiense paga até o dobro do que carioca gasta com seguro de carro

Fonte O Globo

Alta de preços é justificada por aumento nos índices de roubos, segundo especialistas do mercado

NITERÓI - O aumento dos índices de violência na cidade, principalmente nos últimos dois anos, já dói no bolso dos cidadãos — mais especificamente, dos donos de veículos. Um comparativo de preços de seguros de automóveis feito pelo GLOBO-Niterói mostra que o morador de Icaraí pode pagar mais que o dobro do que um do Leblon (com perfil semelhante) gasta pela apólice do mesmo carro. Para fazer o levantamento, a equipe de reportagem verificou valores de duas grandes empresas do setor: Porto Seguros e Tokio Marine. Para isso, foram usados o simulador do site da Porto Seguro e o comparador de preços on-line Smartia. Nos dados que serviram para os cálculos, foram incluídos bairros dos dois municípios com renda familiar per capita igual ou parecida, como Icaraí e Leblon, Fonseca e Rio Comprido e Itacoatiara e Barra da Tijuca.

Entre bairros semelhantes das duas cidades, a diferença de preços de seguro para clientes de um mesmo perfil — homem, de 30 anos, casado, sem garagem em casa — chega a 128%, na seguradora Tokio Marine. Um morador da Avenida Delfim Moreira, no Leblon, pagaria R$ 2.213 pelo seguro de um Palio Fire 1.0, zero quilômetro. Já um morador da Praia de Icaraí gastaria R$ 5.039 na apólice. O valor do carro na tabela Fipe é R$ 32.020.

De acordo com Roberto Santos, presidente do Sindicato das Seguradoras do Rio (Sindseg-RJ) e da empresa Porto Seguro, o valor médio cobrado para Icaraí é mais alto que o do Leblon porque o índice de roubos e furtos de automóveis no bairro niteroiense deu um salto nos últimos anos.

— De 2012 para 2013, registramos um aumento muito grande no número de roubos de veículos nos bairros de Icaraí, Ingá, Fonseca e Charitas. Acredito que isso seja efeito da instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio. Houve uma migração de bandidos para Niterói. Como o bandido do Rio não pode entrar numa favela em Niterói e se tornar concorrente daquele que já estava lá vendendo drogas, ele começa a praticar outros crimes, como o roubo de carros — afirma Santos.

Estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP) corroboram a tese de Santos. De acordo com os dados do estado, entre 2012 e 2013, roubos e furtos de carros subiram 32% em Niterói. Somente no ano passado, 526 automóveis foram levados por criminosos na área da 77ª DP (Icaraí). Já na região da 14ª DP (Leblon), foram 89 roubos e furtos de carros no mesmo período.

Segundo o corretor de seguros César Cardoso, quando ocorre uma diferença tão grande de preços entre apólices de seguros para um mesmo modelo e motoristas com perfil semelhante, é sinal de que a empresa não quer fazer negócio.

— Os índices de roubos em Icaraí estão tão altos que a seguradora, muitas vezes, prefere perder o cliente — afirma Cardoso.

A diferença de valores entre Niterói e Rio se repete em outras comparações com bairros semelhantes. Numa simulação, uma moradora da Alameda São Boaventura, no Fonseca, com 40 anos, casada e sem garagem, o seguro de um Citroën C3 1.6, 16 válvulas, zero quilômetro, sairia por R$ 3.341 na Porto Seguro. Se a mesma mulher morasse na Avenida Paulo de Frontin, no Rio Comprido, o valor seria R$ 2.341. Ou seja, em Niterói, ela paga 61% a mais. O preço do carro na tabela Fipe é R$ 57.330.

Também pela Porto Seguro, o seguro do mesmo modelo de carro sairia 21% mais caro se, em vez de morar na Avenida Érico Veríssimo, na Barra, a motorista morasse na Rua das Rosas, em Itacoatiara. Pela Tokio Marione, um Honda Civic sedan 2.0, 16 válvulas, zero quilômetro, custaria 19% mais caro em Itacoatiara do que na Barra. Nesse cálculo, o perfil do proprietário usado na simulação foi um homem de 50 anos, casado e sem garagem. Pelo seguro do mesmo carro, que custa R$ 82.522 pela tabela Fipe, ele pagaria R$ 3.898 se morasse na Barra e R$ 4.286 se tivesse residência em Itacoatiara.

O aposentado Carlos Alberto Lemos, morador da Rua Carlos Maximiano, no Fonseca, é um dos que sofrem com o preço dos seguros na cidade. Ele afirma que já viu um arrastão perto de sua residência e conta que o sogro, seu vizinho, teve dois automóveis roubados na porta de casa.

— O preço do seguro disparou de 2012 para cá. Para quem não tem garagem e vive no Fonseca, os valores são assustadores — diz Lemos.

Mesmo morando num prédio com garagem em Icaraí, o funcionário público Wagner Vasconcellos conta que pagou alto quando fez a última renovação do seguro de seu carro, no fim de 2013.

— O valor aumentou R$ 800 de um ano para o outro. Acompanhou o aumento da violência no período — reclama Vasconcellos.

Oficial da PM garante que roubos caíram

O comandante do 12ºBPM (Niterói), tenente-coronel Gilson Chagas, diz que os registros de roubos e furtos em 2014 já estão em queda. Os dados, no entanto, ainda não foram divulgados pelo ISP. O presidente do Sindseg, Roberto Santos, também afirma que as seguradoras começam a ver uma melhora do quadro:

— Percebemos uma queda no número de clientes roubados em Niterói este ano. Tivemos menos roubo no período de carnaval, que é, historicamente, marcado por aumento nas estatísticas. Acredito na possibilidade de vermos números menores devido à instalação, no fim dno ano passado, de companhias destacadas da PM nos morros do Estado e do Palácio.

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