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Seguro contra a arte do crime

Fonte: IstoÉ Dinheiro
 
Generali, Allianz e SulAmérica lançam produtos para proteger colecionadores de roubos e danos a obras de arte. Vale a pena?
 
Assalto no Masp: ladrões roubaram O lavrador de café, de Portinari, em três minutos, em 2008. A obra não tinha seguro ( foto: Shutterstock)

Três minutos. Esse foi o tempo necessário para três ladrões encapuzados arrombarem a porta principal do Museu de Arte Moderna de São Paulo (Masp), subirem as escadas até o segundo andar e roubarem as telas O lavrador de café, de Cândido Portinari, e Retrato de Suzanne Bloch, de Pablo Picasso. Na fuga, deixaram para trás um macaco-hidráulico, um pé de cabra e uma sequência de imagens, gravadas pelas câmeras de segurança, de um crime com um quê de tintas cinematográficas.
O roubo, realizado durante a troca de turnos da madrugada de 21 de dezembro de 2008, poderia ter representado uma perda de cerca de R$ 280 milhões, caso as obras não tivessem sido recuperadas menos de um mês depois. As telas não tinham seguro. No mundo, mais de 200 mil obras de arte já foram roubadas, segundo o Art Loss Register, banco de dados internacional sobre o assunto, criado em 1991, em Londres. O número aumenta à medida que mais pinturas, esculturas e gravuras são negociadas internacionalmente.

Em 2013, as transações no mercado de arte alcançaram US$ 64 bilhões, o maior patamar já registrado, segundo a The European Fine Art (TEFAF). “Esse avanço coincide com o maior interesse de milionários chineses por investimentos passionais, que são itens raros e funcionam como diversificação de portfólio”, afirma Fabiano Vallesi, analista de pesquisa de estratégia do banco suíço Julius Baer. Outro país que tem visto um avanço considerável no número de colecionadores é o Brasil. “Os brasileiros têm grande interesse por arte contemporânea”, acrescenta o especialista.

De olho nesse mercado, o seguro para obras de arte tem ganhado mais espaço dentro da carteira das seguradoras que atuam no País. Em geral, o preço varia de 0,5% a 1% do valor do item a ser assegurado. “Na hora de precificar o seguro, são levados em consideração tanto a obra quanto a importância dela na trajetória do autor. Além disso, são avaliadas a conservação e a segurança do local onde ela será mantida”, afirma Roberto Teixeira, presidente para o Brasil da Axa Art, empresa mundial de seguros para obras de arte e colecionáveis.

A companhia firmou, em novembro do ano passado, uma parceria com a SulAmérica para oferecer apólices para galerias, expositores e clientes institucionais. Em janeiro deste ano, esse produto passou a ser oferecido também para colecionadores particulares. Segundo Erika Medici, superintendente executiva de Ramos Elementares da SulAmérica, o serviço cobre roubos, furtos qualificados e danos materiais, inclusive aqueles que eventualmente aconteçam durante o deslocamento da galeria ou feira até o local onde a obra ficará exposta. “Não cobrimos casos de peças que não tenham comprovação da origem da posse ou quando são compradas ilegalmente”, afirma Erika.

“Em geral, os clientes preferem assegurar a coleção inteira”, acrescenta. A ideia de entrar nesse mercado exclusivo começou há dois anos. “Passamos a monitorar, mas não havia tantas consultas de clientes como no ano passado”, diz Erika. O principal risco não é evento catastrófico, como o furacão Sandy, que devastou a Costa Leste dos Estados Unidos e ilhas do Caribe, em 2012, e causou um aumento da sinistralidade no segmento de arte naquele ano. O que mais preocupa é o roubo e a possibilidade de incêndio. “Por isso é tão importante avaliar o esquema de segurança da galeria ou da residência do colecionador”, afirma a especialista.

As apólices são reavaliadas anualmente e ajustadas conforme a existência de sinistros e a oscilação no valor de mercado das obras. Outra grande companhia que oferece um produto voltado para o mercado de arte é a Generali Seguros. A empresa europeia entrou nesse ramo no Brasil em 2013, e a emissão de prêmios já alcança aproximadamente R$ 1,5 milhão por aqui. O mercado brasileiro tem um potencial de crescimento maior que muitos estrangeiros mais maduros, afirma Eduardo Gaspar Porto, superintendente de negócios corporativos da Generali Seguros.

“Por questões culturais sobre o seguro, a demanda por esses produtos é maior nas regiões mais desenvolvidas, como Europa e Estados Unidos”, diz ele. O crescimento do mercado nas regiões em desenvolvimento também atraiu a Allianz Seguros. Segundo Luiz Carlos Meleiro, diretor de grandes riscos da seguradora, houve uma alta significativa nos últimos anos dados o avanço da economia brasileira, a abertura de galerias e, principalmente, o aumento do número de exposições de arte. Não à toa, a proteção contra riscos vai na esteira desse crescimento. Afinal, em fração de minutos, quadros de milhões de reais podem deixar de enfeitar a parede de muitas residências.

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