Falta de produto é dilema, e valor não é desculpa Sem seguro, jogadores estão à mercê do acaso
Fonte: O Tempo
Goiás fez apólice pioneira no país, mas desistiu do investimento por causa do alto custo
Entre 2012 e 2013, a Bradesco Seguros chegou a planejar um seguro especialmente pedido pelo Goiás. O clube desembolsava R$ 90 mil por mês e tinha cobertura completa de acidentes pessoais e de trabalho para todo o elenco. Em caso de afastamento, o atleta era encaminhado para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e o restante dos vencimentos seria complementado pela seguradora.
Com o tempo, no entanto, o investimento se tornou impraticável. “Com esse valor, a gente pagaria um jogador de ponta”, pondera o diretor jurídico esmeraldino, João Bosco Luz. A Bradesco Seguros informou que esse tipo de seguro está sendo reavaliado antes de ser novamente oferecido aos clubes.
Regulação. Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão do governo responsável pelo controle e fiscalização do mercado de seguros, qualquer seguradora pode operar coberturas ligadas a jogadores de futebol, dependendo, exclusivamente, de seu interesse.
“No entanto, pelas características bem particulares à profissão de jogador de futebol, acreditamos que os altos salários, em conjunto com a alta incidência de lesões aumentando substancialmente o risco a ser assumido pelas seguradoras, seja o motivo pelo qual elas não têm apresentado interesse em oferecer esse tipo de produto”, disse a Susep, em nota.
Falta de produto é dilema, e valor não é desculpa
A obrigatoriedade da contratação de seguro contra acidentes de trabalho é prevista tanto na Constituição Federal como na Lei 9.615/1998 – a Lei Pelé –, no caso de atletas (veja ao lado). Para o advogado Mauricio Corrêa da Veiga, especialista em direito do trabalho e direito desportivo, a alegação da inexistência de um produto específico no mercado pode até ser levada em consideração, mas o alto valor do seguro é “estapafúrdio e desamparada de fundamento”.
“Se eu fosse presidente de clube, comprovaria (prova negativa mesmo), por meio de declarações de seguradoras, que o produto não é fornecido. Mesmo assim, faria um seguro, com previsão de cobertura nos termos exigidos pela lei, para demonstrar boa-fé e que o jogador está amparado em caso de sinistro”, ressaltou.
Exigência. O projeto de lei 531, de autoria do senador Zezé Perrella (PDT-MG), altera a Lei Pelé e determina que os jogadores só podem ser inscritos em competições da CBF se houver a contratação de seguro de vida. A proposta, que estende o benefício aos treinadores, tramita no Congresso Nacional desde 2011. O texto já foi aprovado em duas comissões e está pronta para ser incluída na pauta. (TN)
Minientrevista - Guilherme Caputo Bastos, Ministro Tribunal Superior do Trabalho
Hoje não existe seguro para jogador no país. Não tem como o mercado se abrir para isso? Corri atrás desse assunto, falei com presidentes do Banco do Brasil, da Caixa, de entidades seguradoras, e nenhuma se interessou. O Bradesco Seguros desenvolveu o produto, mas tem a questão de negócios, algum receio de associar sua figura a clubes de futebol. E como é que vou cumprir a lei se o clube não tem onde buscar? A vida do atleta é curtíssima e está suscetível a sofrer acidentes, obrigando o clube a contratar o seguro exatamente para dar proteção ao atleta.
Hoje o clube paga como se fosse um seguro comum? Alguns clubes contratam, outros nem esse seguro comum contratam, o que é uma pena.
O problema é o salário, que é muito alto? Tudo reflete. O seguro do atleta é muito específico. É uma coisa cara, mas que dá ao clube uma segurança muito grande. Está na hora de sentar e conversar: “Seguradora: vamos ver onde está sendo menos usado?”. O clube não tem o interesse de que jogador lesionado fique fora do seu quadro.
Hoje, se você fosse atleta, contrataria um seguro particular? É, pelo menos esse, algum seguro tem que ter, contrataria o particular, seguramente.
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