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Execução do seguro de crédito cresce 338%

Fonte: Valor Econômico

Diante da forte retração econômica e da maior restrição ao financiamento bancário, as empresas têm acionado cada vez mais o seguro de crédito. Levantamento feito pela Marsh Brasil mostra que, no primeiro semestre, o volume de indenizações aos segurados chegou a R$ 154,84 milhões, expansão de 338% na comparação com igual período do ano passado. "As seguradoras esperavam algum efeito da piora da economia, mas não nessa velocidade que ocorreu", diz Kiyoshi Watari, vice-presidente para práticas de risco político, crédito e garantia da corretora.

Para o presidente da seguradora espanhola Credito y Caución no Brasil, Daniel Nobre, a deterioração dos fundamentos econômicos aliada à queda de confiança geral influencia os níveis de inadimplência corporativa. "Se falta confiança para investir e gastar também falta confiança para financiamento e para tomar exposição ao risco. Isso afeta diretamente as empresas que têm na sua estratégia confiar em credores financeiros ou operacionais, como os fornecedores, para financiar suas atividades".





Todos os setores estão sendo afetados. Mas, ressalta Watari, as companhias com faturamento acima de R$ 100 milhões, estão sentindo mais. Atualmente os grandes compradores de seguro de crédito no Brasil são empresas do segmento de eletroeletrônico, indústrias de base, como mineração e siderurgia, papel e celulose e máquinas e equipamentos. Linhas de consumo, como as indústrias farmacêutica, de alimentos e bebidas, de cosméticos e de vestuário, também têm executado suas apólices.

Nobre afirma que, no primeiro semestre do ano passado, as indenizações correspondiam a 37% do volume de faturamento do mercado de seguro de crédito e exportações. Entre janeiro e junho de 2015, esse índice alcançou a casa dos 100%. No caso da Crédito y Caución, esse percentual evoluiu de 6% para 53%, respectivamente em igual período de comparação.

As perspectivas são sombrias para o terceiro trimestre. Como o impacto do desempenho econômico sobre o mercado segurador é defasado, a retração de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre se refletirá nos resultados entre julho e setembro. "Muitos dos sinistros que estamos registrando hoje refletem deterioração entre o fim de 2014 e início do ano, com retração de 0,2%", diz o presidente da seguradora.

A visão menos otimista é compartilhada por Patrícia Krause, economista-chefe para América Latina da francesa Coface, líder no mercado de seguro de crédito. Ela compara a situação à época do estouro da crise de crédito em 2008 e afirma que agora está pior. À época, diz, os problemas estavam mais relacionados aos fatores externos, o crédito à exportação. Agora, ressalta, há muitos riscos no ambiente doméstico, com as empresas tendo mais dificuldades, pressionadas pelo aumento de custos salariais e de energia elétrica.

O maior número de acionamento dos seguros também tem como causa a multiplicação dos pedidos de recuperação judicial e falência, segundo a economista. "As mesmas empresas consideradas sólidas em 2014 agora estão entrando em recuperação judicial."

Para Nobre, a situação pode ser amenizada pela maior procura por esse tipo de apólice.

Há um aumento da demanda do seguro de crédito porque as empresas estão preocupadas com a vulnerabilidade nas contas a receber. Por outro lado, as seguradoras sofrendo impacto dos sinistros, vêm adotando postura mais conservadora.

De fato, até o momento, as seguradoras registraram alta de 38% no valor das apólices emitidas entre janeiro e junho, alcançando R$ 170,55 milhões. No entanto, Watari explica que parte disso ocorreu pela alta do preço do seguro. Em um primeiro momento, as empresas buscam renegociar suas dívidas com credores e aumentar o prazo para o pagamento. Ao ganhar mais tempo, aumenta sua exposição de risco e recorre à seguradora para aumentar a cobertura. "É uma reação em cadeia que leva ao aumento do prêmio", diz o executivo da Marsh.

Segundo ele, desde 2008, o preço do seguro de crédito vinha caindo no Brasil por causa do maior o número de seguradoras. Mas, neste ano, já há recomposição de preços. Clientes que estão renovando suas apólices estão tendo aumento da ordem de 30% no custo do contrato. Enquanto isso, novos clientes vão passar por um filtro mais rigoroso, para ver se a seguradora aceita o risco. Se aceitar, a apólice sairá com preço entre 40% e 50% a mais na comparação com quem já tem.



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