Juros altos e baixo risco beneficiam a previdência

Fonte: Valor Econômico

Nascimento: "Desemprego reduz renda e sem renda não tem como poupar"

Se no começo do ano gestores de fundos de previdência demonstravam preocupação com os impactos da crise nos negócios, hoje o cenário é o oposto. Ao contrário das previsões, o ano até agora tem se mostrado bastante positivo, tanto do ponto de vista de captações como em rentabilidade. Tudo isso graças a dois fatores em especial.

As incertezas incomodam os investidores, o que é bom para estimular a poupança. Do lado da rentabilidade, a Selic em patamar elevado torna atraentes as aplicações de baixo risco. É mais um fator a estimular os poupadores a evitar o consumo e migrar para aplicações de longo prazo, característica básica dos fundos de previdência.

Os números não mentem. Dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) indicam aumento de 27% nas captações dos fundos de previdência entre janeiro e junho. Ao todo o setor possui reservas de R$ 486 bilhões.

Para o presidente da Fenaprevi, Osvaldo do Nascimento, o cenário positivo foi corroborado por um efeito estatístico, sem desmerecer o resultado obtido pelas empresas. É que nesse mesmo período do ano passado as captações caíram quase 4% já pelo impacto das oscilações e incertezas trazidas então pelo processo eleitoral. "Penso que no ano que vem não vamos conseguir manter esse crescimento tão alto. Desemprego reduz renda e sem renda não tem como poupar."

Se no ano que vem o cenário pode não ser tão positivo, este ano não há razões para pessimismo. Superintendente de produtos de previdência da Icatu Seguros, Sérgio Prates é um dos que mudaram de humor no semestre. " Os resultados deste ano surpreenderam positivamente", diz.

Na Icatu a melhora se deu tanto na quantidade de clientes como no valor que cada um deles economiza mensalmente para garantir a aposentadoria. Entre janeiro e junho houve alta de 24% na quantidade de clientes e de 22% no valor que eles economizam mês a mês.

Líder do segmento, a BB Seguridade também comemora. No acumulado até junho, o aumento nas captações ficou acima de 30% em comparação ao mesmo período do ano passado. A intenção do banco é encerrar o ano com alta de 27% a 36% nas captações.

Ângela de Assis, diretora de produtos da BB Seguridade, o resultado se deve a inúmeros fatores, mas ela destaca a força do Banco do Brasil nesse segmento. "Claro que tem outros fatores: a questão tributária, facilidade na sucessão, mas o mais importante é a força de um banco com mais de 200 anos de história", diz.

Apesar da importância dos grandes bancos, o segmento de previdência segue com novos players. A BTG Pactual lançou no ano passado sua corretora, com foco nessa área. De acordo com o sócio da empresa, Marcelo Flora, a intenção é aproveitar a proximidade do banco com grandes empresas, por fazerem grandes aberturas de capitais no país.

"Nosso objetivo é oferecer a essas empresas a possibilidade de criar seu fundo de previdência para os funcionários, que é uma forma de reter talentos", diz. Ainda no primeiro ano de operação, a seguradora do BTG não estabelece metas de captações para os três fundos já operados pela instituição.

Gestor de renda fixa da XP Investimentos, Fausto Filho, lembra que a alta expressiva da Selic neste ano ajudou muito o desempenho dos fundos. Por conta disso, diz ele, a maior parte dos recursos dos fundos de previdência estão alocados em fundos de renda fixa, quando o normal, por se tratar de uma alternativa para o longo prazo, deveria ser uma mescla maior. "Mas quando o cliente vê a Selic a 14,25% ao ano quase risco nenhum o apetite por qualquer outra aplicação diminui", diz.

Eduardo Forestieri, superintendente do Citibank, repete o cenário sobre a concentração de recursos em fundos de renda fixa. Ele lembra que alguns fundos balanceados não estão com desempenho muito atraente, então os clientes optam pela renda fixa. "Mas como miramos no longo prazo sempre estamos atentos para uma oportunidade eventual em fundos mais agressivos", diz.