Breaking News

Lloyd's espera mais liberalização do setor de seguros e resseguros no Brasil

Fonte: Valor Econômico 

Por Assis Moreira

O presidente do conselho do Lloyd's, maior mercado de seguros e resseguros do mundo, John Nelson, saiu de um encontro com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, em Davos, na expectativa de um movimento de liberalização do setor no Brasil.

Em entrevista ao Valor, o executivo britânico disse que a ambição do governo brasileiro, de criar um "hub" de serviços financeiros para a América do Sul, vai requerer a derrubada de restrições na participação estrangeira no setor de seguros, por exemplo. "Em princípio, ele [Barbosa] foi muito na mesma direção [que eu], para liberalizar", relatou John Nelson, acrescentando que o novo ministro esboçou políticas "que são mais liberais do que antes do [Joaquim] Levy".

O executivo considera que o Brasil está "numa situação extremamente difícil, com incertezas e, claramente, com outros fatores com impacto na economia", e espera que o governo assuma uma "política econômica prudente". Ele insistiu que medidas precisam ser efetivamente tomadas "com determinação" para permitir uma retomada da estabilidade, mas afirmou que, apesar das dificuldades, no médio e longo prazo é otimista em relação à economia brasileira.

No quesito macroeconômico, Nelson defendeu um período de consolidação fiscal, com a redução do déficit público e adoção de políticas que realmente encorajem companhias e negócios. "É preciso ter uma fase para liberalização no Brasil", disse. "Para mim, o ministro delineou os princípios corretos, a questão é de 'phasing and timing'", acrescentou. Ele reclamou da "excessiva" burocracia no Brasil.

O executivo do Lloyd's observou que, com a recessão no Brasil, houve uma queda no volume de seguros. Mas ele acha que isso é temporário e, quando a economia se recuperar, os volumes voltarão a subir, inclusive porque o alcance dos seguros no país continua baixo.

Ele afirmou que, globalmente, a desaceleração econômica na China e no Brasil são causas de inquietação e avisou que, principalmente no caso da segunda maior economia do mundo, é preciso se habituar com esse cenário de dificuldades nos próximos dois a três anos.

Indagado sobre o risco de o mundo reviver a crise financeira de 2008 e 2009, John Nelson respondeu que sempre há riscos sistêmicos e a maior inquietação é a China, mas que o setor financeiro aprendeu muito e a regulação tornou o setor hoje bem mais resiliente. Nelson diz ter confiança na gestão da segunda maior economia do mundo e não concorda com o sentimento "bearish" (pessimista, vendedor) de boa parte dos economistas no mercado.

Quanto aos desafios do setor de seguros em 2016, ele reiterou que o principal no curto prazo são as condições de mercado. As seguradoras conseguem retorno pequeno com o capital investido, em meio a taxas de juros extremamente baixas. Outro desafio é manter o setor de seguros relevante, num cenário de mudança de modelo de negócios com a anunciada quarta revolução industrial, com novas tecnologias.

No Fórum Econômico Mundial, Nelson discutiu também o "déficit de confiança" que instituições e empresas enfrentam hoje junto à população, amplificada desde 2008 pela crise dos bancos.

"Tivemos alguns solavancos desagradáveis nos últimos anos, que minaram a confiança da população em instituições, em empresas", acrescentou, observando que "isso é verdade também no Brasil". Ele exemplificou com a excessiva remuneração e diferença entre salários dos diretores e funcionários de base, falta de foco no consumidor, escândalos como o da Volkswagem na Alemanha e outros.

Para John Nelson, o combate ao "déficit de confiança" passa pela demonstração de que o motor do crescimento é para todos e não para uma minoria.


Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario