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Fundos abertos de previdência aceleram captação

Fonte: Valor Econômico

O início do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no fim do primeiro trimestre e a situação política e econômica do país dividiu em duas fases o ano de 2016 para a indústria de fundos abertos de previdência. Os primeiros meses foram marcados pela captação mais tímida e uma gestão muito defensiva e a segunda parte do semestre teve a retomada da captação e maior apetite por risco.

Os fundos de previdência apresentaram no primeiro semestre captação líquida de R$ 20,5 bilhões, de acordo com os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O volume indica um aumento de 3% na comparação com o mesmo período do ano passado. O indicador começou mais fraco em janeiro e foi ganhando força ao longo do semestre, com destaque para o mês de junho, com R$ 6,2 bilhões em aplicações.

Em meio ao cenário político e econômico conturbado, o início do ano foi caracterizado pelo conservadorismo, com predominância de ativos de renda fixa de curto prazo e pós-fixados na carteira, conforme explica Claudio Pires, diretor de investimentos da Mongeral Aegon Investimentos. "Tivemos no primeiro semestre o início do processo de impeachment, que foi um divisor de águas. No geral, os ativos brasileiros performaram mal no início do ano e esse evento alterou o cenário", explica. "Antes tínhamos basicamente títulos pós-fixados, indexados ao CDI, e títulos corrigidos pela inflação de curto prazo", completa.


A visão mais positiva foi ganhando espaço com o avanço da questão política, os papéis pós-fixados passaram a ser reduzidos nas carteiras e os títulos mais longos e indexados à inflação ficaram mais frequentes. Pires afirma que a alocação dos fundos de previdência da seguradora em títulos pós-fixados do Tesouro caiu de 56% para 36% desde o início do ano e em títulos indexados à inflação de curto prazo recuou de 14% para 5%. Ao mesmo tempo, o investimento em prefixados subiu de 0% para 10%, os ligados à inflação de longo prazo passaram de 0% para 11% e os de crédito privado, de 30% para 38%.

A análise é compartilhada por Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos, vida e previdência da SulAmérica, que viu mudanças durante os seis primeiros meses deste ano. "O início do ano teve tensão no ambiente político, a situação fiscal complicada, mas o cenário do fim de junho já era outro. Com a novela política finalizada, a previdência, que já cresceu em meio às dificuldades, deve avançar ainda mais", diz Mello.


Apesar de já observar alteração na alocação dentro dos ativos de renda fixa, o crédito corporativo e as ações ainda não estão no foco dos gestores. De janeiro a maio, segundo a Anbima, os fundos 100% dedicados à renda fixa foram foco de quase a totalidade da captação líquida. E a expectativa quanto à mudança do mix de investimentos varia de gestor para gestor.

A Mapfre Investimentos segue conservadora na gestão de seus fundos e não fez grandes mudanças de estratégia durante os seis meses. O diretor de gestão de recursos, Carlos Eduardo Eichhorn, ainda não vê fundamentos mais fortes para a queda dos juros, diz que a inflação ainda continua pressionada e vê pouco espaço para a flexibilização monetária neste ano. "Com isso, estamos pós-fixados em juros e posicionados em inflação. Temos papéis de curto e médio prazo, com posições até 2020. Esperamos propostas mais consistentes do governo para saber como ficam as contas públicas."

O superintendente de produtos de previdência da Icatu Seguros, Felipe Bottino, também acredita que o investidor continua cauteloso e viu pouca mudança para os ativos de risco. No segundo semestre, no entanto, a situação pode mudar, de acordo com o especialista. "Indicamos investimento em juro real no segundo semestre. Há uma grande oportunidade dado o cenário mundial de juros negativos na maior parte do mundo. É uma oportunidade para o investidor ter retorno previsível e risco baixo", diz.

Bottino destaca também o lançamento, em dezembro, de um fundo de previdência da Icatu em parceria com a gestora Verde Asset Management. No mês passado, o fundo fez seis meses e divulgou a performance com rentabilidade de 7,88% desde o início - acima do CDI, com 7,51% no mesmo período. No relatório de gestão, a Verde afirma que a maior alocação, em torno de 60% do patrimônio, está em NTN-B de cinco a sete anos. A posição em ações brasileiras está em 6,5%, com foco em empresas dos setores financeiro e elétrico, a posição em S&P futuro está em 16% e a exposição em dólar do fundo soma 8%.

"Esta é a nossa grande convicção atual: o juro real, em torno de 6,30%, tem bastante espaço para cair num contexto de economia muito fraca e inflação cadente. Ao mesmo tempo que acreditamos na queda do juro real, vemos uma inflação sistematicamente surpreendendo para cima, fruto da recomposição de margem do setor privado e aumentos de imposto que os governos de todos os níveis continuarão a implementar para enfrentar os obstáculos fiscais", diz a Verde, no relatório.

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