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Previdência privada tem captação recorde

Valor Econômico

Amadurecimento e consciência cada vez maiores dos investidores, em meio ao debate sobre a reforma previdenciária, têm levado os fundos abertos de previdência privada a bater recorde de captação ano após ano. As entradas líquidas de recursos são de quase R$ 48 bilhões de janeiro até 29 de dezembro de 2016, último dado da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Em 2015, a captação líquida havia ficado em R$ 39 bilhões.

A captação e a rentabilidade dos recursos elevaram o patrimônio líquido desses fundos a R$ 614 bilhões - ou 18% dos recursos totais da indústria de fundos. Desse volume, 96% está concentrado na categoria de renda fixa e o restante se divide em fundos balanceados, multimercados e de ações.


"O ano foi bem positivo para a previdência privada no geral, com o reflexo de um investidor mais consciente que colocou no hall de questões a serem cuidadosamente monitoradas a sua parcela de investimento de longo prazo para aposentadoria. Até anos atrás isso era impensável, e hoje parece que entrou no radar de maneira irreversível", afirma Humberto Vignatti, gestor de fundos de previdência e investimentos da Porto Seguro. Além disso, a medida que a Previdência Social está sujeita a revisões que irão reduzir benefícios do trabalhador, a privada se fortalece como alternativa, diz.


A Brasilprev segue sendo o destaque entre as maiores captações no período. Até outubro, a instituição tinha entrada líquida de R$ 20,8 bilhões, o que representava 46% de novos recursos de todo mercado de previdência. De acordo com o presidente da instituição, Paulo Valle, a rede de distribuição do Banco do Brasil é um dos principais diferenciais, além dos consultores que dão suporte aos gerentes do banco. "Por ser um investimento de longo prazo, o cliente precisa se sentir bem orientado. Nossa estratégia é estar muito próximo", afirma.

Dentre as diferentes categorias de fundos, os que se saíram melhor foram aqueles com maior participação na bolsa de valores. O primeiro destaque fica com os fundos de ações que tiveram valorização de 35,9% no período, seguidos pelos balanceados com parcela de investimento em renda variável acima de 30%, com valorização de 23,4%. Na sequência vêm os fundos multimercados, aqueles com aplicação de 15% a 30% em renda variável, os de renda fixa e os balanceados com até 15% em renda variável. Quase todos recursos investidos, no entanto, ficam em renda fixa.

Os gestores continuam ensaiando o aumento do risco nas carteiras e seguem conservadores em meio às incertezas que rondam o ano de 2017. Depois de um ano difícil, com impeachment no Brasil, saída do Reino Unido da UE e eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA, Carlos Eduardo Eichhorn, diretor de gestão na Mapfre Investimentos, diz que muitas consequências ainda são desconhecidas e mantêm o grau de incerteza visto em 2016. "Tivemos a troca de presidente, mas a economia ainda não retomou o crescimento. Há quem espere um resultado para o PIB de 2017 igual a zero ou negativo. Incertezas continuam tanto no mercado local quanto no internacional."

A Mapfre começou o ano passado com posição em títulos pré-fixados, mas alterou a posição para pós-fixados no decorrer do ano e mantém essa estratégia para 2017. Hoje, os títulos de renda fixa são de médio prazo e a instituição zerou a posição dos fundos multimercados em renda variável antes da eleição americana.

A visão cautelosa é compartilhada por Vignatti, da Porto, que por um lado vê incertezas e, por outro, vê pouco prêmio nos ativos. "Depois do rali, os títulos já precificavam boa parte da perspectiva mais favorável, então reduzimos um pouco o nosso risco", diz. "Acho menos provável um ano brilhante em renda variável como foi o passado. Por isso, estamos com uma alocação de neutra para mais reduzida. Encurtamos a carteira de renda-fixa e agora temos prazos médio e curto, com risco menor."

A Mongeral Aegon Investimentos inverteu a sua estratégia durante o ano passado, de acordo com o diretor de investimentos Claudio Pires. No início de 2016, as carteiras da casa estavam muito concentradas em títulos de inflação de curto prazo para diminuir a volatilidade. Ao longo do ano, os prazos foram sendo alongados e, com a inversão do cenário de inflação e a expectativa de fechar dezembro em torno de 6,5%, a estratégia mudou e aumentou a participação de pré-fixados. "A recente comunicação do Banco Central já aponta uma redução dos juros mais acelerada. Esse é um bom cenário para investimento em prefixados", diz.

No geral, é comum a opinião de que 2017 deverá ter uma maior participação da alocação de recursos em títulos corporativos de renda fixa. Durante 2016, a visão do mercado era que a dificuldade econômica levaria as empresas a ter um resultado operacional pior, o que impactaria os balanços e o funding. Com a visão menos negativa da economia, a tendência de queda dos juros e a falta de ativos no mercado tornam os títulos de dívida corporativa mais atraentes para esses investidores.

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