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BR Insurance busca saída para crise que ronda o grupo

Fonte: Valor Econômico

Por Daniela Meibak | De São Paulo

Após vários trimestres de prejuízo líquido e queda no faturamento, a corretora de seguros BR Insurance tenta avançar na reformulação do seu modelo de negócios e sair da crise que ronda o grupo desde 2013. A reestruturação societária e operacional, desenhada a partir de 2014, está na fase final e a empresa espera concluir a incorporação das corretoras que compunham o grupo e se tornar uma empresa única até o fim deste ano.

"Redefinimos o modelo estratégico da BR Insurance com o objetivo de deixar de ser um conglomerado para se tornar uma corretora única", afirma Luiz Roberto de Salles Oliveira, executivo que assumiu a presidência da companhia no início deste ano, mas que atuava no conselho de administração desde 2015. Ele explica que o primeiro passo foi a reestruturação societária, até chegar no estágio atual, de incorporação.

No ano passado, a empresa começou um projeto piloto de incorporação de apenas três corretoras, para entender como esse processo afetaria a operação. Em novembro, foi aprovada a incorporação de outras dez e agora mais cinco serão incorporadas. "Restam menos de 30 para concluir o processo, mas as maiores e mais importantes vieram primeiro, então a expectativa é de concluir o processo até o fim do ano", completa o executivo.


A empresa foi criada em 2010 com a junção de 27 corretoras de seguros e uma oferta inicial de ações. A operação movimentou R$ 645 milhões na bolsa, sendo que R$ 348 milhões foram para o caixa da companhia para financiar uma nova rodada de aquisições. A BR Insurance chegou a ter mais de 50 corretoras diferentes sob seu guarda-chuva, mas essa estrutura não fez a empresa caminhar como era desejado.

As ações da companhia atingiram a cotação máxima de R$ 441,76 em agosto de 2013 e desde então tiveram uma desvalorização de 95%. Hoje, o papel é negociado abaixo dos R$ 20, já considerando ajustes relativos a distribuição de proventos e eventuais desdobramentos e subscrições. Trajetória semelhante foi vista nos balanços, que atingiu o seu melhor resultado no terceiro trimestre de 2013, com receita de R$ 73,7 milhões e lucro líquido de R$ 36,1 milhões. Já no trimestre seguinte, a empresa viu a última linha do balanço cair pela metade. Foi nesse momento que o mercado começou a questionar o modelo de negócios.

Entre os fatores que começaram a pesar no balanço, estava a perda de valor dos ativos ("impairment") ligada às aquisições, além de cancelamento de contratos. Na ambiciosa estratégia de crescimento via aquisições, o pagamento dos negócios era feito, no geral, 50% em ações e 50% em dinheiro. A fatia em dinheiro era paga metade à vista e metade a prazo, condicionada à performance operacional futura da corretora adquirida. Caso a avaliação do ativo não atendesse às expectativas, o "impairment" tinha que ser contabilizado, e o balanço começou a sofrer com isso.


Na ocasião, analistas de mercado criticaram a visibilidade mínima dos resultados futuros, o modelo de crescimento via aquisições e como elas eram feitas, além da remuneração dos sócios fundadores da holding. Nesse contexto, foi anunciado um projeto de integração das mais de 50 corretoras e o Morgan Stanley foi contratado para cuidar do processo. Até então, elas operavam de forma quase independente, modelo que dificultava a venda cruzada e não capturava sinergias. Uma das possibilidades estudadas foi um aporte de capital da GP Investments, que se tornaria sócia e participaria da gestão da empresa. A negociação, contudo, não avançou.

Oliveira explica que os corretores que ainda tinham algum valor a receber decorrente das aquisições da companhia ("earn-out", no termo em inglês) converteram os créditos em ações e aumentaram a participação no capital. Além disso, a empresa reviu algumas aquisições e iniciou a incorporação das primeiras corretoras.

A retomada da companhia ainda não aconteceu do ponto de vista do mercado. As poucas casas de análise que acompanhavam a empresa no passado deixaram de fazer a cobertura. Segundo a própria BR Insurance, devido ao processo de reestruturação e mudanças na organização societária, há dificuldade de se projetar resultados, já que não se sabe ao certo quais seriam as receitas e despesas normais. "A maioria dos analistas está esperando por uma normalização para voltar a soltar projeções de resultados", diz a instituição. Além disso, hoje nenhuma agência de classificação de risco atribui rating para a companhia.

Atualmente, quase 80% das ações são negociadas no mercado. O Valor procurou algumas gestoras de recursos com exposição na BR Insurance, caso da DLM Invista e Saga Capital, que informaram usar os papéis em estratégias puramente técnicas. Na DLM, as ações estão nas carteiras dos fundos multimercados DLM Hedge Conservador e DLM Hedge Conservador II e envolvem operações a termo.

Já visualizando uma retomada, a BR Insurance firmou acordo com a Ticket para a comercialização de seguros e de benefícios. A ideia é que a corretora de seguros possa vender os produtos da parceira e vice-versa. "A aliança vai possibilitar a geração de negócios em seguros e reforça a estratégia de ser um canal multiprodutos no ramo de seguros", afirma o presidente. Os valores envolvidos no negócio não foram divulgados.

No ano passado, a BR Insurance teve um prejuízo de R$ 96,1 milhões, queda de 12,2% na comparação com a perda líquida de R$ 109,5 milhões de um ano antes. A receita líquida recuou 30,7% na mesma base de comparação, passando para R$ 132,1 milhões no ano passado.

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